"Mafalda, a menina de seis anos que propõe problemas de gente grande de forma incómoda, preocupada com o futuro deste nosso planeta, defendendo os direitos das crianças, questionando os políticos e as políticas, porque esta menina de cabelo farto e negro é refilona, irreverente, perspicaz, pessimista e, acima de tudo, inteligente.


E Quino criou a Mafalda

E, afinal, como e quando nasceu esta pequena contestatária que, 68 anos depois, continua a deliciar-nos com a irreverência dos seus seis anos?

Joaquín Salvador Lavado, um argentino de Buenos Aires, cartoonista e filósofo, conhecido por Quino, recebeu, nos inícios dos anos 60, uma encomenda para uma tira cómica destinada a publicitar electrodomésticos. Sem poder imaginar o tamanho do sucesso, desenhou uma menina com farta cabeleira negra e os pais, uma típica família da classe média.

A 15 de Março de 1962, nascia Mafalda, mas, felizmente, não estava destinada a vender artigos para o lar e foi recusada. Dois anos depois, saltou para as páginas do semanário "Primera Plana", a comentar os grandes temas da actualidade do seu país e do mundo. As perguntas que faz e as suas frases exemplares como "Parem o mundo! Quero sair", cativaram de imediato os leitores. Depressa é publicada em livros de capa grossa na América Latina, na Europa e noutros cantos do planeta, em crescente popularidade.

Mas, como qualquer criança, Mafalda acabou por ter um irmão e amigos, um grupo de personagens que se tornam, também elas, uma referência e que vão desafiar a inteligência da pequena refilona com preconceitos e conservadorismos: Susaninha, que tem como objectivo de vida casar com um homem rico, Manelinho, que só pensa em fazer negócio na mercearia do pai, o tímido Filipe, o ingénuo Miguelito, a diminuta Liberdade, assumida revolucionária, filha de hippies. E uma tartaruga, apropriadamente chamada... Burocracia.

Mafalda órfã, mas presente

Em Julho de 1973, ao fim de mais de 3 mil tiras, Quino desistiu do universo Mafalda para evitar a rotina e poder dedicar-se ao desenho de humor e à caricatura. A menina só reaparece nalgumas campanhas de beneficência e em desenhos animados, mas nunca em filmes, porque o autor rejeitou sempre as propostas da indústria cinematográfica. Certo é que as emblemáticas histórias continuam actuais e são constantemente reeditadas, servindo de leitura a sucessivas gerações. O humor inteligente desta menina zangada com o mundo sobrepujou-se ao seu criador.

No dia 30 de Setembro, Quino deixou a Mafalda órfã.