É com imensa pena que vemos as preocupações autárquicas a saírem de moda. Cada vez mais as organizações da sociedade civil deveriam estar empenhadas em mobilizar os cidadãos para as reflexões sobre a paz e a democracia do país; elas têm de ser vistas como oportunidades de afirmação das ideias e visões das organizações da sociedade civil. Numa altura em que todos reclamam e se queixam de alguma coisa, deveria caber às organizações da sociedade civil aproveitar esse discurso de queixas e reclamações para reforçar o papel, a intervenção e a importância da cidadania e da atitude dos cidadãos perante os seus próprios problemas. Lamentavelmente estamos todos a agir como se a questão autárquica fosse um problema dos políticos e da Assembleia Nacional, que um dia vai aprovar um quadro legal que vai permitir que outros tantos sejam eleitos e governem.

A agressividade que muitas pessoas colocam em reclamações nos seus locais de trabalho, nos grupos entre amigos deveria ser redireccionada para a participação nos problemas da sociedade. Infelizmente criámos todos uma cultura da reclamação, como se só isso nos competisse e depois alguém, vindo porventura de outro planeta, viria resolver os problemas. Alguns vídeos que se tornaram virais mostram o administrador do distrito do Sambizanga a pressionar os moradores do seu distrito a assumirem as suas responsabilidades, tanto na educação dos filhos, na limpeza e na organização dos condomínios, ruas e bairros. O jovem Tomas Bica não poderia estar mais certo, embora não seja a melhor pessoa para o fazer. Esse deveria ser o papel educativo das organizações da sociedade civil. O processo das autarquias, mesmo com a lentidão da Assembleia Nacional, deveria mobilizar todo o saber e empenho da sociedade civil, longe, portanto, dessa letargia que se vê.

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