Primeiro, na categoria dos infantis, depois na classe dos adultos. Com a guarda distraída, a nova milícia literária avança para o assalto final.
Pela frente, é afagada por júris formatados para projectar um olhar estrábico sobre as obras que são colocadas sob o seu escrutínio.
Por detrás, ensombrados na tribuna de honra por fraudes intelectuais, agora só lhes resta submeterem-se a uma urgente consulta de oftalmologia...
Mas, se a praga já capturou também o ensino em que muitas monografias apresentadas por distintas personalidades da nossa vida pública mais não são do que cópias de trabalhos de fim de curso fabricados nas barracas de comércio ambulante, a doença ameaça transformar-se numa verdadeira pandemia.
Algumas das nossas novas estrelas literárias ou jornalísticas, para sustentarem as suas obras ou textos, passaram a ter como "auxiliares de limpeza cerebral" a internet. O recurso a essa ferramenta é legítimo, mas a violação do seu uso é uma inqualificável transgressão à ética.
Tudo porque "o populismo contemporâneo aumentou o desdém" pelo conhecimento e porque, se "a Internet permitiu que mais pessoas tenham mais acesso a mais informação do que nunca, também lhes deu a ilusão do conhecimento, quando, na verdade, elas estão afogadas em dados".
Num tempo em que predomina cada vez mais a falta de cultura, uns e outros acham que podem ser, a qualquer preço, Max Webber à 2.ª feira, Platão à 4.ª feira, Gabriel Garcia Marquez à 6.ª feira ou Achille Mbembe ao domingo...
Na televisão, sem qualquer substância, a tentação de as estrelas do circo quererem imitar Jô Soares ou aparecerem nos ecrãs como Larry King é confrangedora diante de tanta ignorância e falta de humildade.
O nosso Ferreira Fernandes explica no Público, para quem queira ser oficial deste ofício, que "dizer é ter para dizer; depois é mais, é saber como dizer". Mas isso, na arte de comunicar, a maioria dos nossos jornalistas da televisão e da rádio, como a maioria dos nossos políticos, não está também a saber fazê-lo...
Por aqui, como adverte Javier del Pino num soberbo artigo publicado no El País de domingo passado, uns e outros, como preocupação dominante, esfalfam-se por "olharem para as câmaras com a solenidade de quem se levanta cada manhã convencido de que no final do dia receberá o Politzer".
Por aqui, a imprensa também não escapou ao surto. Não espanta, por isso, que abundem falsificações jornalísticas propagandeadas por gente de casaco e gravata sem nenhum nervo profissional e sem talento algum para a escrita, que se comportam como autênticos funcionários públicos.
Meros manequins da degradação da profissão têm como única aspiração receber o ordenado ao fim do mês e agregar fama ao curriculum grudada a uma recicladora de textos em segunda mão...
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