O que parece ser o feixe de uma tragédia cómica da ficção é a manifestação quotidiana e incongruente dos políticos contemporâneos que, adulados entre vénias e mujimbos de corredor, perdem a visão e o propósito.
À margem das páginas sobejadas de cortes e golpes, estão os peões que se movem verticalmente, sendo incapazes de recuar e protestar em glória.
Na avenida, os monumentos desapareceram, os discursos revolucionários estão envolvidos numa submissão sagaz, e o chumbo das armas ecoam nos tribunais para afogar a democracia. Tudo está mais distante e eloquentemente mais ridículo, e pra já não há monte ou paraíso e tão pouco Caim ou Abel.
Se os mancebos se enfileiram nas trincheiras, o povo aglomera-se noutras frentes num épico conformismo que tropeça a incredulidade e que está à vista de todos. Hoje somos a imensidão que corre atrás do arroz, da fuba e do feijão, de forma desmascarada e sem prémios à chegada.
No meu tabuleiro, estamos quase a igualar os portugueses quando se lançaram nas Cruzadas, movidos pela inspiração de partir de um sítio para o outro, para novos povos conquistar. E cá estamos nós, na luta para domar a cesta básica sob espinhos. Contudo, temos consciência de que a folga para dominar o movimento que se estende por este território está submersa numa manta de retalhos.
Há que transformar os critérios e, embora o processo seja intenso, as promessas esbanjadas no ecrã não são peremptórias para driblar as variantes do jogo.
O ano está a chegar ao fim sem um trilho à vista, sem pegadas para decifrar, sem um plano hilário para fazer despontar um sorriso. Desta vez, nem as crianças sonham com o Pai Natal, pois seria uma epifania para desmontar e reescrever.
O pior de tudo é que não existem lendas vivas para contemplar, e até a Kianda está solitária no marulhar do mar. Quem leva a melhor é quem fura o cerco no momento em que os olhos cansados se resvalam para o lado e, assim, pode mergulhar numa viagem cujo destino é o pensamento.
No quadro da crise que toma conta das manchetes, a pior mesmo é a que se apodera do discernimento e da sanidade. É aquela que leva ao ringue vários angolanos em busca de contemplar os sobejos armazenados pelas esquinas, em busca de reivindicar a lucidez, o patriotismo e um final talvez mais feliz.
Aglutinados numa marcha sem fim, o povo parece mais sereno ao Domingo, depois de gritar as preces aos Santos e aos Deuses sem Deus. Obviamente que nem sempre se encara o descanso espiritual como o maior dos rituais, mas a regra é que o escape é acolhido por todos numa apologia a uma mais brava comoção.
A nossa definição é aquilo pelo qual lutamos e ainda que não se vislumbrem guerreiros, no Gambito de Dama aos peões cabem os movimentos em escala. E ao jogador, usar a audácia para contornar o adversário que brinda no seu refúgio o povo e o lixo!