Como estão a agir as empresas que tiveram de interromper a actividade, ou reduzi-la dramaticamente? Num país onde, apesar de alguma melhoria na recolha de indicadores estatísticos, ainda muito nos falta para ter uma caracterização adequada da situação social dos cidadãos, muitas dúvidas nos afloram à mente. A principal é: como podem as pessoas que não têm poupanças ficar em casa? Como sobreviverão? Num país com uma das taxas de fertilidade maiores do planeta, como alimentarão a sua prole?

Não discutindo a necessidade da quarentena, é preciso olharmos para os países que já a implementaram, para ver que medidas complementares tomaram. Estamos a falar, na sua quase generalidade, de países mais ricos do que nós, com hábitos de aforro (que nós não temos), e com estruturas de apoio social significativamente mais robustas que as nossas. Todos se preocuparam em tomar medidas que protegessem o cidadão, garantindo-lhe os meios de subsistência necessários. Ou através da distribuição de alimentos, como parece ser o caso da China, ou distribuindo, através de fundos de desemprego, um montante suficiente para as famílias poderem subsistir, como parece ser o caso dos EUA, ou criando condições para ajudar as empresas a pagarem os salários dos trabalhadores, mantendo os vínculos laborais, ou suspendendo-os neste período, mas garantindo o seu restabelecimento quando a situação se normalizar, como parece ser o caso da Europa. Estas foram apenas algumas. As mais básicas. Claro que há depois toda uma estratégia para o reanimar da economia no pós-COVID-19. Mas antes é preciso sobreviver, quase na literal acepção da palavra.

Quase no fim deste primeiro round, não temos conhecimento de nenhuma medida concreta a implementar no curto prazo pelo nosso Governo, no sentido de prover as famílias de recursos, ou produtos, para poderem subsistir. Particularmente aquelas que estão ligadas à actividade informal, ou são empresas unipessoais. Não temos conhecimento de nenhuma orientação, e medidas de apoio correspondentes, para que as empresas mantenham os empregos (já de si escassos nesta fase difícil da nossa economia). Há um programa, ligado ao combate à pobreza, e financiado por instituições internacionais, que prevê a entrega directa a uma parte da população de um montante que lhes permita melhorar as suas condições de vida. Estaria previsto a sua implementação nos próximos tempos. É preciso que algo similar se faça, urgentemente, para aqueles que se pretende que fiquem em casa. Veja-se o caso dos mototáxis, que me parece um bom exemplo. É proibida a sua actividade nas actuais circunstâncias. Tal medida deveria ter sido tomada, com o estabelecimento imediato de uma subvenção que os protegesse. Felizmente até existem estruturas associativas que congregam essas classes de trabalhadores. Usemo-las.

No fim do primeiro round, continua-se mais preocupado com as acções que obriguem a população a cumprir as condições de quarentena. O que é importante. Mas não podemos esquecer que as pessoas precisam de sobreviver. E, particularmente nas cidades, há muitos que vivem do dia-a-dia, e não têm poupanças.

O primeiro round teve uma introdução sobre as regras da quarentena. Esperamos que o segundo defina, ab initio, as regras para a sobrevivência.