Muito embora não tivesse existido quem o tivesse assumido publicamente, as iniciativas que mereceram o aval do Executivo resultariam em dividendos e contrapartidas que viriam a beneficiar, em primeira instância, figuras ligadas ao centro do Poder Político e que viriam a gozar de um estatuto especial, quer no seio do partido que sustenta o governo, quer no seio de um núcleo bastante limitadíssimo dos chamados "homens do Presidente".

Ao que se sabe, foi esta a realidade na anterior governação, pelo que não se sabe ainda ao certo com que linhas se irá coser o Executivo de João Lourenço neste capítulo, uma vez que o passivo dos órgãos executivos do Governo angolano tem grande quota-parte de responsabilidade a respeito de um conjunto de situações que proporcionaram um esquecimento selectivo de iniciativas por parte de um grupo de interesses ligados ao Executivo que, se tivessem sido levadas a sério, Angola não seria o que é hoje, mesmo em ambiente de crise.

Foram estes últimos actores que acabariam por ditar a agenda presidencial e esta última esteve sempre limitada a "jogos de interesses" que acabariam por tornar o Presidente numa figura quase ausente de uma mega-agenda pública, e pior: sem vida pública, e afastada de uma agenda de contacto com a realidade objectiva do país, necessária para um conhecimento mais realista do que está a ocorrer ao nível das iniciativas públicas e privadas.

Parte desta estratégia, senão toda ela, foi urdida graças a uma agenda pública que o ex-Presidente da República deixou de ter, tornando-se assim num "refém" de relatórios e "recados encomendados", e muitos dos quais chegavam ao Palácio Presidencial por um único mensageiro, pelo que tudo isso acabou por arregimentar fronteiras que nunca permitiram à principal figura do país constatar in loco como Angola se estava a movimentar do ponto de vista do desenvolvimento, sobretudo social.

Vem o assunto a propósito de um verdadeiro "achado" recentemente constatado por uma equipa do Novo Jornal no interior do país, no Huambo, mais concretamente na região da Aldeia Camela Amões, no município do Kachiungo, onde se desenvolve há já alguns anos um projecto pioneiríssimo e inovador que, bem visto, seria parte significativa da solução dos vários problemas que este país atravessa, sobretudo devido ao seu impacto social no meio rural, ali onde o Executivo se tem mostrado cada vez mais incapaz de levar o desenvolvimento.

Se algum dia houve quem duvidasse de que uma solução para os problemas do país poderia ter a impressão digital angolana, o Projecto Integrado Aldeia Camela Amões, constatada por este jornal, é sem sombra de dúvidas uma daquelas iniciativas privadas que deveriam migrar para o sector público, e em nada retiraria mérito a outras iniciativas do Executivo. Porquê? Porque ajudaria em muito o país a racionalizar a sua despesa para com o programa de desenvolvimento integrado a todos os níveis, quer ao nível de um investimento na saúde de qualidade, quer ao nível da protecção do meio ambiente, e sobretudo do investimento em energias limpas, como se pode por ora constatar na Aldeia Camela Amões, que goza de energia através de fonte solar 24 horas por dia.

Quem de facto tem poder de decisão em Angola devia sentir-se na obrigação moral de ir constatar com os seus próprios olhos o "milagre" que está a acontecer na Aldeia Camela Amões. Porque a solução para muitos dos problemas de habitação e sobretudo do desenvolvimento do meio rural pode estar ali a ser injustamente ignorado, sobretudo numa altura em que há muito a fazer com tão pouco dinheiro. Camela Amões pode ser o princípio de uma crise agravada pela escassez de recursos, mas a iniciativa como tal supera em muito todos os megaprojectos até aqui desenvolvidos pelo Estado. É nosso entendimento que só um acto antipatriótico poderá pôr de parte aquele que poderá vir a ser o início de uma autêntica revolução em Angola.