A afirmação da coerência começa a ser entre nós um importante desafio para os políticos, governantes e gestores públicos, bem como uma exigência da própria sociedade. A coerência no exercício de cargos públicos ou políticos entre nós é (ou era) visto como algo estranho à condição humana. Mesmo sendo a coerência das mais aclamadas e esperadas virtudes em política ou na vida pública. Ela ultrapassa toda e qualquer arrogância ou postura de superioridade moral, é importante que haja coerência entre aquilo que se defende em público e o que se faz em privado.

O escrutínio dos detentores de cargos públicos é imprescindível em democracia e ninguém está imune a ele. A coerência entre aquilo que se faz e aquilo que se defende é um valor único. A democracia é um sistema, a liberdade um valor. Do ponto de vista jornalístico é natural que se questione, que se escrutine os números e dados de um órgão de soberania ou do seu titular. Eles devem ser sempre objecto de escrutínio e de análise do jornalismo. O que certos poderes em Angola ainda não perceberam ou teimam em não querer entender é que em jornalismo há perguntas que têm de ser feitas e respostas que precisam de ser dadas.

O Expansão fez o que está correcto: teve acesso a documentos públicos, analisou-os, estudou-os, confrontou-os; em suma, fez o trabalho de casa e de equipa. O jornal revelou um facto jornalístico socialmente relevante e de interesse público.

O jornalista que assina não é necessariamente o único interveniente no processo de construção da notícia ou do facto noticioso. A responsabilidade nas redacções é, por natureza, colectiva; e se há alguém que deve assumir o ónus e o bónus, em primeira instância, são as chefias.

As fortes lideranças tornam fortes as instituições. É perigoso quando certo jornalismo se torna cúmplice e alinhado aos Poderes Políticos e Legislativos, violando as regras mais elementares da profissão e fragilizando a classe. Há um certo poder que sempre teve medo que o chamado quarto poder tivesse poder. Num tempo como este em que vivemos, há algo mais importante do que o alinhamento e compadrio aos poderes: o compromisso com a verdade e com o rigor, o respeito e a valorização da nossa profissão. A nossa responsabilidade com o público é enorme. E a confiança que em nós depositam deve ser correspondida com brio, profissionalismo, serenidade, rigor e objectividade. Hoje, mais do que nunca, precisamos do bom jornalismo.

Como disse um jornalista: "Esta pandemia não exige apenas cuidados sanitários pessoais, exige também cuidados sanitários informativos".

Quem, durante anos, cometeu ou permitiu "gralhas técnicas"; quem, durante anos, não "corrigiu o que estava mal", seja em rendas de casa, seja em manutenções e conservações de imóveis, dificilmente irá agora "melhorar o que está bem".

Quem tinha a obrigação legal, profissional e deontológica, ética e moral de não deixar que tais "gralhas técnicas" persistissem, mais do que ter simplesmente errado, procurou iludir-nos a todos.

Com que interesse? Em nome de quem? A troco de quê? Em sacrifício de quem? São a estas e a outras perguntas que o bom jornalismo procura responder.

Que a palavra "piedade" na "Casa das Leis" não esteja apenas no nome do seu titular, mas que esteja sempre presente na gestão diária do erário, na discussão e aprovação de políticas e leis em nome dos cidadãos, que honrem e dignifiquem o mandato que os cidadãos vos concederam. Que sejam dignos, justos e verdadeiros representantes deste povo. Tende piedade de nós!