"É bem verdade que há mais tranquilidade para a população votar em relação aos anos passados, porque o povo angolano sofreu muito com a guerra. Mas também com a guerra aprendemos que é preciso não regressar mais às armas, para perseguirmos e matarmos o irmão", conta o padre Álvaro Luvisa Rodrigues.

O padre Álvaro acredita que os partidos têm, em certa medida, promovido "uma consciência de paz" - essencial para o futuro de Angola.

"Notamos esse clima de paz, que não era assim no passado. No passado havia muito confronto, muitas perseguições. Notava-se até um certo vandalismo entre adversários na política", realça.

No entanto, reconhece que, no decorrer desta campanha eleitoral, alguns partidos têm acenado com o fantasma da guerra civil. Num discurso no Cuíto (Bié) no início do mês, o candidato do MPLA, João Lourenço, acusou a UNITA de ter sido responsável pela destruição da capacidade industrial do País. Na cidade do Cuito teve lugar uma das mais intensas batalhas das três décadas da guerra civil entre o MPLA e a UNITA.

"Isso faz parte do Homem. O homem vive assim: às vezes quando quer derrotar o adversário, a tendência é de rebuscar e fazer sobressair as manchas da guerra para melhor sujar o adversário", afirma o pároco Álvaro.

No entanto, sublinha que "não pode ser assim na política".

"A política é um jogo e os políticos não devem buscar aquelas manchas da guerra, aquela imagem de terror para apresentar à população e derrotar o adversário. Trata-se da vida das pessoas e a vingança normalmente provoca a guerra. Ninguém se vinga e espera a paz", afirma.

Nascido e criado em Mbanza Congo, o padre Álvaro guarda na memória as imagens duras de uma guerra civil que foi particularmente dura para a cidade que acolhe um centro histórico que é Património Histórico da Humanidade da UNESCO, o único em Angola.

O próprio centro histórico - que acolhe as ruínas da primeira igreja católica construída a sul do deserto do Sahara, a Catedral de São Salvador do Congo - foi parcialmente destruído pelo conflito.

"Durante a guerra civil foi pior, porque onde há guerra não há muito respeito pelos monumentos ou o património. (...) A Catedral era maior e podemos verificar que havia mais pedras. Foi perdendo a sua qualidade", recorda o padre.

Local de batalhas intensas em 1998 e 1999 - o padre Álvaro lembra-se das dificuldades que houve na altura para sepultar condignamente tantos mortos - Mbanza Congo é hoje uma localidade pequena e tranquila, onde, a menos de dez dias das eleições, os eleitores podem escolher o seu futuro com poucas restrições.

"Eu acho que a escolha é livre. Toda a gente tem liberdade de escolher", começa por dizer o padre Álvaro, reconhecendo, porém, que "a manipulação não falta".

"Não podemos negar isso e dizer que não há. Mas o que nos deve guiar é a nossa própria consciência. Devemos ter uma consciência limpa e não deixar que a manipulem. Porque nós não vamos votar só para a camisola do partido, mas para o bem do País, para o bem da população", conclui.

As eleições gerais de 23 de Agosto contam com seis forças políticas a disputar os 220 lugares no Parlamento e ainda a eleição do Presidente da República e do Vice-presidente, que são, respectivamente, o primeiro e o segundo nome das listas apresentadas pelo círculo nacional.

Vão estar na disputa pelos votos dos 9,3 milhões de eleitores, conforme o sorteio que ditou a disposição no boletim de voto, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que propõe Isaías Samakuva para Presidente da República, a Aliança Patriótica Nacional (APN), cujo cabeça-de-lista é Quintino Moreira, o Partido da Renovação Social, cuja aposta para a Presidência é Benedito Daniel, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que tem João Lourenço para substituir José Eduardo dos Santos na Cidade Alta, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), com Lucas Ngonda a liderar a lista; e a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), que apresenta Abel Chivukuvuku para Chefe de Estado.

O círculo nacional elege 130 deputados e os círculos das 18 províncias elegem 90, cinco deputados por cada uma delas, contando a Comissão Nacional Eleitoral com 12.512 Assembleias de Voto reunindo um total de 25.873 Mesas de Voto.