O Chefe de Estado congolês disse, após o encontro com Lourenço, que encimou a agenda desta visita oficial de apenas um dia a Luanda, com o regresso a Kinshasa ainda realizado hoje, que conversou com o seu homologo angolano sobre vários assuntos, incluindo a questão dos hidrocarbonetos, embora sem referir especificamente o acordo que une Luanda e Kinshasa para a exploração de crude conjunta na bacia do Congo.

Os dois países mantém um acordo desde 2003 e este tem servido para que um e outro lado o usem como forma de pressão em determinadas situações, como foi disso exemplo em 2009, quando uma exigência de acerto de contas por parte do Parlamento congolês levou a uma das mais graves crises entre Luanda e Kinshasa, que obrigou os dois países e optarem por uma task force conjunta de forma a impedir que a polémica não fosse longe demais.

Alegadamente, embora isso não tenha sido noticiado então, segundo o The Africa Report, os dois Presidentes acordaram, no seu encontro, em Janeiro último, em Benguela, criar uma comissão mista para dar início a uma nova abordagem ao acordo de exploração conjunta de petróleo na área marítima que junta as águas dos dois Estados, próximo de Cabinda.

Mas Félix Tshisekedi tem em mãos problemas bastantes mais sérios e actuais qua o diferendo com Angola sobre as questões da exploração conjunta de hidrocarbonetos.

O Presidente congolês, segundo as suas declarações aos jornalistas, numa altura em que a coligação entre o partido de Tshisekedi, a UDPS (União para a Democracia e o Progresso Social), e a coligação do antigo Presidente Joseph Kabila, a Frente Comum para o Congo (FCC), que garante a governabilidade em Kinshasa está a sofrer fortes abalos, incluindo humilhações publicas de alguns ministros próximo do ex-Chefe de Estado impedidos de viajar pelo país, acabou a pedir o apoio do Presidente angolano para garantir a estabilidade.

Mas Tshisekedi informou ainda os jornalistas que falou com Lourenço sobre o antigo e complexo acordo para a exploração conjunta de hidrocarbonetos, que foi responsável por uma séria crise entre os dois países em 2009 - que levou à expulsão de milhares de angolanos da RDC - e numa altura em que o The África Report divulgou, em Março deste ano, uma peça onde avança que o Presidente do Congo Democrático manifestou um profundo desagrado a João Lourenço devido ao impasse nas negociações sobre este mesmo acordo.

A par desta questão do acordo petrolífero, Tshisekedi adiantou ainda aos jornalistas que fez uma exposição ao Presidente angolano sobre a situação política na RDC e ainda sobre a situação regional, especialmente sobre a região dos Grandes Lagos, que coincide com a problemática região Leste do Congo, com fronteiras com o Uganda e o Ruanda, entre outros, e onde várias guerrilhas e milícias armadas há décadas espalham o terror.

Neste ponto, Tshisekedi pediu mesmo ao seu interlocutor apoio para o fortalecimento das forças de defesa, que inclui as Forças Armadas da RDC (FARDC), conhecidas pela sua desorganização e ineficácia no controlo dos focos de violência armada no país.

Perante este quadro complexo, Félix Tshisekedi adiantou que ao assumir o cargo deu prioridade à criação de mecanismos de contacto permanente entre Kinshasa e Luanda de forma a que nenhuma situação crie atritos nas relações bilaterais entre os dois países que partilham mais de 2.500 kms de fronteira, incluindo o complexo mapa marítimo onde estão algumas das mais rentáveis plataformas de exploração petrolífera angolanas.

O que fica claro deste encontro, a que outros se deverão seguir, no âmbito das plataformas múltiplas que os dois países integram, desde logo a CEEAC, a SADC, a CIRGL ou ainda o Memorando de Luanda onde, com Paul Kagame, do Ruanda, e Musevini, do Uganda, se busca uma solução de paz duradoura na região dos Grandes Lagos, é que o líder congolês deposita confiança no seu homólogo angolano para o apoiar nos seus esforços para manter a estabilidade na RDC, onde a tensão sobe a cada dia que passa, incluindo mesmo ameaças de recurso aos militares de um e do outro lado.