João Lourenço mostra-se, na nota enviada ao Presidente eleito, cuja cerimónia de tomada de posse tem lugar amanhã, quinta-feira, em Kinshasa, convicto de que Félix Tshisekedi vai empreender "todos os esforços" necessários para promover a inclusão de todas as forças vidas da RDC.

No documento enviado na terça-feira, o Chefe de Estado angolano sublinha ainda o seu desejo de que o seu futuro homólogo congolês "promova e garanta a estabilidade necessária para edificar as bases sobre as quais assentarão a concretização dos anseios dos congoleses à democracia plena, ao respeito pelas diferenças e a observância estrita dos direitos humanos".

Na mesma nota, Lourenço garante a Tshisekedi a solidariedade de Angola para todas as acções que realizar para impulsionar o progresso e o desenvolvimento da RDC, dentro das relações de cooperação e amizade existentes entre os dois países.

Com a posse marcada para quinta-feira, Tshisekedi, se nada de extraordinário suceder até lá, poderá ficar para a história da RDC e do continente africano como aquele que protagonizou a primeira transição de poder naquele país sem descambar para o caos.

Isto, apesar de a vitória anunciada pela Comissão Eleitoral Independente (CENI), depois confirmada pelo Tribunal Constitucional, no seguimento de um recurso apresentado pelo candidato derrotado, Maryin Fayulu, ter sido, e continua a ser, fortemente criticada, devido às volumosas suspeitas de fraude.

A manchar ainda a eleição de Tshisekedi está a divulgação de uma análise por alguns media internacionais sobre os dados oriundos das máquinas de voto electrónico, confirmando os enunciados da Conferência Episcopal congolesa (CENCO), que apontam para uma vitória folgada de Martin Fayulu, com 60%, contrariando os 35% atribuídos oficialmente e os 38,5 com que o Presidente eleito formaliza a sua vitória.

Por detrás deste processo eleitoral fica ainda a dúvida erguida sobre as acusações de Fayulu quanto a um alegado pacto pré-eleitoral estabelecido entre o Presidente Joseph Kabila e Félix Tshisekedi, que permitiu, disse o candidato derrotado, colocar a máquina fraudulenta ao serviço de um resultado que serve o interesse de ambos.

Isto, porque, ainda segundo o mesmo argumentário, ao aceitar a "ajuda" de Kabila para chegar ao cargo, Tshisekedi coloca-se nas mãos do seu antecessor porque este ficará, naturalmente, com todo a informação referente ao processo de alegada falsificação dos resultados.

Recorde-se que Martin Fayulu se recusa a aceitar este resultado e mantém o apelo ao protesto popular não violento.

Isto, apesar de a SADC já ter consolidado, aceitando-o, o resultado validado pelo TC da RDC, bem como a União Africana, que, depois de pedir que fosse suspenso o anúncio do resultado oficial, anulou uma missão a Kinshasa encabeçada pelo seu Presidente, Paul Kagame, do Ruanda, como sequência de as instituições nacionais do Congo terem confirmado a vitória de Tshisekedi.

Tshisekedi, o 5º Presidente

Até hoje, desde 1960, ano da independência, o Congo-Kinshasa (ex-Zaire), já teve cinco Presidentes.

O primeiro, de 30 de Junho de 1960 a Novembro de 1965, foi Joseph Kasa-Vubu, seguindo-se-lhe Mobutu Sese Seko, que liderou o país até 16 de Maio de 1997, quando foi deposto por um violento golpe de estado.

Foi Laurent-Désiré Kabila, pai do ainda Presidente Joseph Kabila, quem liderou a rebelião que levou à trágica queda de Mobutu, assumindo o poder desde esse momento até que foi assassinado por um seu guarda-costas, em 2001.

Com a morte de Laurent, o seu filho, Joseph Kabila, assume o poder no meio do caos, e após um longo período de guerras civis, confirmado em eleições de duvidosa probidade.

Com a eleição igualmente contestada de Félix Tshisekedi, surge o 5º Presidente do grande Congo, cujo mandato arranca oficialmente amanhã, quinta-feira.