Na entrevista à RTP, emitida na noite de segunda-feira, João Lourenço disse ainda que esta garantia não são só palavras porque "a prática" pode ser observada actualmente, sublinhando que há pessoas, alguns dos nomes mais pesados da política e da sociedade angolana que "hoje estão a contas com a Justiça" e que antes da sua chegada ao poder nem seque se falava do nome deles enquanto possibilidade de vierem a ter de ajustar contas com a justiça.

Lembrou que o combate à corrupção é para continuar com o mesmo empenho com que o começou em Setembro de 2017, quando assumiu o cargo, mas procurou envolver toda a sociedade angolana nessa luta que considerou ser um compromisso particular do MPLA, partido que sempre governou o país desde a sua independência em 1975.

E garantiu que tem "nervos de aço" para não vacilar na linha que escolheu para derrotar a corrupção e quem a protagoniza sejam quais forem "as dificuldades e as ameaças" que se atravessem nessa caminhada porque este problema esta "em níveis insustentáveis" e poderia chegar a um momento em que o desenvolvimento do país seria totalmente comprometido por causa da corrupção.

E deixou claro que nada o move contra o seu antecessor, José Eduardo dos Santos, nem à sua família, ou quaisquer figuras ligadas à governação anterior.

E apontou como suporte para esta afirmação, onde recorda que nada o move contra JES ou a sua família, apesar de a sua chegada ao poder ter resultado no afastamento de Isabel dos Santos da Sonangol, e da prisão preventiva do seu filho, José Filomeno dos Santos, depois de ter sido exonerado da gestão do Fundo Soberano, e de Tchizé dos Santos, afastada da gestão da TPA2, o facto de o ex-Presidente não ter só três filhos mas nada haver contra os outros

"Não é perseguição", garante João Lourenço, admitindo que assim poderia parecer se "apenas eles fossem tocados", lembrado que há outras individualidades a contas com a justiça entre dirigentes do MPLA, deputados e ex-ministros, para além dos filhos do de José Eduardo dos Santos, sobe quem disse que uma eventual chamada à justiça após o fim do período de imunidade do cargo é da responsabilidade exclusiva da PGR.

Alias, sobre isso disse nada poder adiantar porque não é o PGR e que é o Ministério Público que, "se tiver elementos para isso", abre processos contra essas mesmas pessoas.

Esta entrevista do Presidente da República à RTP foi emitida na véspera da chegada a Luanda do seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, que aterra no aeroporto 4 de Fevereiro na tarde de hoje para uma visita de Estado que se prologa de amanhã, quarta-feira, até Sábado.

Para hoje, Marcelo Rebelo de Sousa, tem na agenda oficiosa o aniversário do seu anfitrião, João Lourenço, que faz 65 anos.

Relações entre Luanda e Lisboa no "pico da montanha"

E sobre essa visita, bem como sobre as relações entre Angola e Portugal, Lourenço não podia ser mais claro ao afirmar que estão "no pico da montanha", o que significa que o Presidente angolano entende que nunca foram tão boas como agora e que o "irritante" provocado na engrenagem política e diplomática entre Luanda e Lisboa que foi o caso do ex-vice-Presidente Manuel Vicente na justiça portuguesa não deixou marcas.

"Neste preciso momento as relações estão no pico da montanha, estão lá bem em cima. De qualquer forma, temos o dever de continuar a trabalhar no sentido, não diria de manter esse nível, mas de subir ainda mais", disse ainda o Presidente da Republica nesta entrevista.

E não encurtou caminho ao colocar o seu relacionamento com Marcelo Rebelo de Sousa como uma das pedras que sustentam este bom momento das relações bilaterais, porque "na política não há acasos" e o que sucedeu foi que, com Rebelo de Sousa, Lourenço juntou "o útil ao agradável".

Nesta entrevista reafirmou a garantia de que Angola vai pagar as dívidas às empresas portuguesas, que foi o assunto mais destacado pela imprensa portuguesa nestes dias que antecederam a deslocação de Marcelo Rebelo de Sousa.

Quanto às participações que a Sonangol detém em Portugal na Galp e no banco Millenium, João Lourenço, como já tinha dito antes, reafirmou que vão ser mantidas, apesar de a petrolífera nacional estar orientada no sentido de sair "dos negócios que não têm muito a ver com a sua actividade" que está focada na extracção e comercialização de petróleo.

E é candidato a um novo mandato

João Lourenço aproveitou ainda esta entrevista para dizer que vai concorrer a um novo "e último" mandato como Presidente, se, até lá, até 2022, mantiver a saúde.

Embora tenha dito, como é normal, que ainda é cedo para falar deste assunto, a verdade é que se posicionou como candidato, tendo dito ainda que quando chegou ao cargo a saúde financeira do país era muito débil, pressuponto que mais um mandato é essencial para colocar Angola numa posição mais confortável.

E, como tem dito sem se cansar, o problema reside estruturalmente na escassa diversificação da economia nacional, que continua quase totalmente dependente do petróleo, garantindo estar a trabalhar para alterar esse cenário, começando por aproveitar o potencial do país nas áreas da agricultura, turismo, indústria e pescas como prioridades.

Para isso, disse, foi criado o ambiente propício ao investimento externo.

"Em pouco mais de um ano, combatemos os monopólios, estamos a fomentar a concorrência entre as empresas e, é uma questão de tempo, vamos aumentar a quota do sector não petrolífero na economia nacional", apontou.