No texto emitido pelo DIP ao fim do dia de ontem, embora sem fazer referência directa ao mujimbo sobre uma alegada forte contestação a José Eduardo dos Santos e uma intempestiva marcação por este de um congresso extraordinário, depois de alguns dos nomes mais sonantes do partido o terem atacado directamente na reunião do BP, é apontado o dedo a não identificados "indivíduos eivados de má-fé" como estando por detrás desta informação falsa posta a circular via rede social Whatsapp.

Recusando de forma vigorosa a existência de "clivagens graves" no seio do MPLA, o DIP do Comité Central, que tem uma reunião ordinária agendada para sexta-feira, nota ainda que "não corresponde à verdade" quaisquer factos que ponham em causa a "coesão do partido".

É ainda sublinhada a ideia de que o MPLA está sempre "pronto para discutir, democraticamente, todos os assuntos da actualidade política de Angola", voltando a dizer que a reunião de 12 de Março, a última realizada pelo BP do partido que governa Angola desde 1975, não foi palco de quaisquer desavenças sérias, embora, refira-se, não fazendo nenhuma alusão directa ao conteúdo do texto que está a circular nas redes sociais que faz menção a uma altercação directa entre José Eduardo dos Santos e o Presidente da República e vice-presidente do partido, João Lourenço.

Nessa reunião, adianta o mesmo texto, "o Bureau Político do MPLA analisou assuntos relativos ao País e à vida interna do Partido, donde sobressaem o Programa de Apoio à Produção Nacional, Promoção das Exportações e Substituição das Importações e, igualmente, o Relatório de Balanço sobre as Eleições Gerais de 2017".

Todavia, o DIP do Comité Central do MPLA afiança que "nunca se furtará à reflexão, clara e objectiva, sobre o processo de transição político-partidária, tal como o fez a respeito do aparelho do Estado, aquando da realização das últimas Eleições Gerais, usando, para tal, os órgãos vocacionados, à luz dos seus Estatutos e de outros documentos fundamentais".

O cenário sobre o qual são projectados estes boatos e as respostas do MPLA, que já não é a primeira vez que reage de imediato a este tipo de alusões "sem fundamento" e, por isso, demonstrando que a sua estratégia mudou de manter o silêncio para a reacção rápida, contem como elementos fundamentais o facto de, pela primeira vez na sua história, o país estar a ser governado por um Presidente da República que não coincide com o líder do partido que sustenta o poder desde a independência, a 11 de Novembro de 1975.

E também o facto de serem públicas as afirmações de figuras próximas ao MPLA em defesa da transição completa, deixando, para isso, José Eduardo dos Santos a liderança do MPLA ao seu vice-presidente e Chefe de Estado, João Lourenço, tendo o próprio lembrado que o Presidente do MPLA tem até ao final de 2018 para cumprir com a sua palavra de abandonar este ano a vida política activa.

No entanto, o próprio partido tem apostado forte na contra-argumentação, sublinhando que a propalada bicefalia não se apresenta como um problema para a governação do país, tendo como sustentação para isso a garantia de que as instituições funcionam normalmente e cada uma, MPLA e Presidência da República, têm os seus papéis bem definidos pela Constituição.

Mas certo é que o Comité Central da próxima sexta-feira será um momento crucial para perceber se os mujimbos contestados pelo MPLA são integralmente infundamentados.