O Governo angolano mandou ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português uma nota de repúdio pela constituição como arguido por corrupção activa, do ex-vice-Presidente de Angola, Manuel Vicente, que as autoridades angolanas dizem gozar de imunidade e, como tal, apenas ter de responder perante a justiça do seu país.

"Eu não queria, neste momento, estar a introduzir uma questão, que é uma questão que tem sido já tratada várias vezes, até porque a função do Presidente da República é trabalhar pela convergência. Quer dizer, é descomplicar e não complicar aquilo que vai conhecendo o seu curso natural", disse Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pela Lusa no final de uma visita de dois dias a Luanda.

Na capital angolana, Marcelo Rebelo de Sousa foi o único chefe de Estado europeu a assistir, hoje, à cerimónia de investidura do novo Presidente da República de Angola, João Lourenço, tendo ainda sido recebido na segunda-feira, no palácio presidencial, por José Eduardo dos Santos, chefe de Estado que esta terça-feira cessou funções, ao fim de 38 anos.

"E como esta visita demonstrou, eu penso que o objectivo foi atingindo: Que é o Presidente da República de Portugal fez tudo para contribuir para uma convergência maior e penso que foi acolhida essa ideia, o que significa ultrapassar, como numa família, problemas ou questões que no passado recente ou ao longo do tempo possam ter existido", acrescentou.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português confirmou hoje ter recebido "uma nota verbal" do Ministério das Relações Exteriores de Angola, à qual irá responder "no prazo devido".

"O Ministério dos Negócios Estrangeiros recebeu uma nota verbal do Ministério das Relações Exteriores de Angola, à qual responderá no prazo devido", disse à Lusa fonte oficial do Palácio das Necessidades, sem adiantar mais informações.

O jornal i noticiou hoje que o executivo angolano enviou uma nota de repúdio ao Governo português, em que acusa "as autoridades portuguesas" de enveredarem "por uma via manifestamente política que se traduz num acto inamistoso, incompatível com o espírito e a letra de relações iguais, as únicas que podem pautar o desenvolvimento da amizade e cooperação entre os dois Estados soberanos que se respeitam mutuamente".

Em causa está a constituição como arguido, por corrupção activa, do ex-vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, que as autoridades angolanas dizem gozar de imunidade e, como tal, apenas ter de responder perante a justiça do seu país.

Nesta deslocação a Angola, Marcelo Rebelo de Sousa - que regressa ainda hoje a Lisboa - foi acompanhado pelo chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, que, na segunda-feira, disse à Lusa ter cumprimentado o ministro das Relações Exteriores ainda em funções, Georges Chikoti.

O Governo português, pela voz do primeiro-ministro, António Costa, já garantiu que as relações bilaterais estão "óptimas", enquanto Santos Silva afirmou à Lusa, a partir de Luanda, que as relações são "normais" e "bem consolidadas".