Menos de duas semas depois de assumir a Presidência congolesa, numa cerimónia de tomada de posse em Kinshasa onde o Presidente João Lourenço se fez representar pelo ministro das Relações Exteriores, Tshisekedi escolheu Luanda para a sua primeira visita oficial, de escassas horas, na qual manterá um encontro com o Chefe de Estado angolano.

Tshisekedi e Lourenço vão ainda partilhar um almoço oficial antes de o novo Chefe de Estado congolês, eleito a 30 de Dezembro e com a tomada de posse a 24 de Janeiro, seguir para a próxima etapa desta sua tripla visita oficial, o Quénia, à qual se segue o Congo-Brazzaville.

O Presidente da RDC, que substituiu no cargo Joseph Kabila após um longo "reinado" de 18 anos, já entrou para a história congolesa e do continente africano por ter assumido o cargo num processo eleitoral também ele absolutamente histórico porque foi a primeira transição de poder sem violência pós-eleitoral desde a independência da RDC(Zaire) em 1960. Isto, apesar das acusações de fraude e das esparsas escaramuças das quais resultaram cerca de uma dezena de mortos.

Esta visita de Félix Tshisekedi a Luanda, como a primeira capital africana a pisar enquanto Chefe de Estado da RDC, não surge por acaso, visto que Angola e a RDC partilham mais de 2 mil quilómetros de fronteira, é longa a simbiose político-militar entre os dois países, são avultados os acordos existentes, com destaque para aquele que permite uma já longa partilha de recursos petrolíferos nos mares de Cabinda, entre muitos outros assuntos que impõem uma agenda apertada entre as duas capitais.

Referindo-se a esta deslocação de Tshisekedi a Luanda, o ministro das Relações Exteriores angolano, Manuel Augusto, lembrou a importância que as boas relações entre Luanda e Kinshasa assumem para os dois povos, mostrando, segundo o governante, esta visita a importância que o novo Presidente congolês atribui a Angola.

Alias, na semiótica diplomática, o anúncio das primeiras visitas oficiais de um Presidente recém-eleito é tido como um claro sinal dado sobre as prioridades do seu Governo, especialmente, como é o caso, quando se trata de regimes fortemente presidencialistas.

E Angola, seja por causa da sua localização geográfica, seja pela intrincada histórica construída em conjunto, salientando-se nessa aspecto o apoio de Luanda considerado essencial para a consolidação do poder, por exemplo, do antecessor de Tshisekedi, Joseph Kabila, ou ainda quando estão sobre a mesa questões importantes, como as recentes expulsões ou saídas controladas de milhares de congoleses das áreas diamantíferas angolanas ou ainda as questões da gestão dos acordos sobre a exploração conjunto de petróleo.

O Quénia, como segundo país a visitar neste périplo, surge no âmbito do claro esforço de Nairobi para assumir um papel mais impactante na política africana, de onde este país tem andado mais arredado e que Uhuru Kenyatta, também ele eleito há alguns meses, quer recuperar.

E é disso um sinal o facto de ter sido Uhuru Kenyatta o único Chefe de Estado a assistir ao juramento da cerimónia de tomada de posse de Tshisekedi, em Kinshasa, a 24 de Janeiro.

Brazzaville surge neste mapa das prioridades do Presidente da RDC como a capital do país vizinho com quem Kinshasa mantém mais proximidade - apenas o Rio Congo separa as duas capitais - e a RDC, a República do Congo e Angola são um importante tridente das múltiplas frentes diplomáticas em África, quase sempre assumindo as mesmas posições.

Tshisekedi, o 5º Presidente

Desde 1960, ano da independência, o Congo-Kinshasa (ex-Zaire), já teve cinco Presidentes.

O primeiro, de 30 de Junho de 1960 a Novembro de 1965, foi Joseph Kasa-Vubu, seguindo-se-lhe Mobutu Sese Seko, que liderou o país até 16 de Maio de 1997, quando foi deposto por um violento golpe de estado.

Foi Laurent-Désiré Kabila, pai do ainda Presidente Joseph Kabila, quem liderou a rebelião que levou à trágica queda de Mobutu, assumindo o poder desde esse momento até que foi assassinado por um seu guarda-costas, em 2001.

Com a morte de Laurent, o seu filho, Joseph Kabila, assume o poder no meio do caos, e após um longo período de guerras civis, confirmado em eleições de duvidosa probidade.