No início da sua publicação no Facebook, Tchizé dos Santos explica que esta é um apelo ao Comité Central (CC) e ao Bureau Político (BP) do MPLA, e aos familiares e amigos de João Lourenço para que "limpe" o seu bom nome "que sujou".

"Ninguém tem o direito de fazer o que está a ser feito comigo e ainda alegar que está a cumprir a lei ou os Estatutos do MPLA, pois os Estatutos prevêem respeito à Constituição da República e eu agi como agi em defesa da honra após ser publicamente atacada pelo meu chefe", nota.

Estava no meu direito constitucional e a CRA está acima dos estatutos do MPLA", defende a ex-deputada que viu o seu lugar no Parlamento ser-lhe retirado por ausência injustificada e o CC suspender a sua participação por dois anos "por violação dos princípios básicos dos estatutos e do código de ética".

A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos entende que "é um dever de quem, voluntária ou involuntariamente provocou a situação, rever as declarações e/ou acções" fazendo o que tem de se feito para lhe "restituir o nome internacionalmente".

Isto, porque Tchizé dos Santos, que é o elemento da família do antigo Presidente com mais intensa actividade política e com mais actividade pública, antes e após o seu pai ter deixado a política activa, entende que as declarações de João Lourenço, bem como a decisão do Parlamento que levou ao seu afastamento, "mancharam" a sua reputação internacional com "consequências graves" para si, deixando um aviso claro: "Não vou parar de lutar até que me seja restituído o meu bom nome".

Esta atitude emerge, explica a própria na mesma publicação nas redes sociais, depois de ter ter sido "punida numa reunião dirigida pelo Presidente da República, que coincidentemente também é o Presidente do partido MPLA" que, "em violação aos Estatutos e da Constituição da República" a afastou do Comité Central "sem ter competências estatutárias para o fazer daquela forma"

E isso é a "prova" de que, acusa, "é o Presidente da República o autor moral da perseguição política hedionda e violação" dos seus "direitos humanos".

A concluir esta nota, Tchizé dos Santos, diz, num tom que pode ser lido ser como conciliatório, mas também como cínico, que sabe perdoar e que "tão logo seja reposta a verdade" estará "disponível para continuar a ajudar" Angola.

O histórico

Recorde-se que, como o NJOnline noticiou, o BP do MPLA aprovou, na quinta-feira passada, dia 21, em reunião dirigida pelo presidente do partido e Presidente da República, João Lourenço, as sanções propostas pela Comissão de Disciplina e Auditoria que deliberou que Welwitschia José dos Santos deixaria de ser membro do Comité Central do MPLA e veria a sua situação de militante do partido suspensa por um período de 24 meses, "por violação dos princípios básicos dos estatutos e do código de ética".

Esta decisão do partido segue-se à do Parlamento, votada em finais de Outubro último, onde a então deputada viu o cargo ser-lhe retirado devido, segundo explicação oficial, a ausência injustificada por um longo e ilegal período.

No entanto, Tchizé dos Santos tem defendido que está a ser vítima de uma perseguição do Presidente Lourenço à família dos Santos, que engloba a empresária Isabel dos Santos, que foi, por exemplo, afastada da liderança da Sonangol pouco depois da eleição do novo PR, e o seu irmão, José Filomeno dos Santos, antigo presidente do Fundo Soberano, que, para além de afastado do cargo, está ainda envolvido num processo judicial que o manteve em prisão preventiva durante cerca de um ano.

Sobre este tipo de acusações, aquando da sua visita à França, em 2018, Lourenço disse que não existe caça ás bruxas em Angola e que ninguém está a ser perseguido por razões que não sejam as que constam da lei.

Sobre uma alegada perseguição ao clã dos Santos, João Lourenço disse, na altura, que não havia "caça às bruxas" e que, ninguém era perseguido.

"Nós estamos a prevenir as más práticas, prevenir onde é possível, combater ali onde já existe, onde já há factos", sublinhando numa entrevista à RFI que não existiam "situações criadas intencionalmente para incriminar quem quer que seja".

E quanto ao caso concreto da perda de mandato parlamentar de Tchizé do Parlamento, a 11 de Novembro, pouco depois de participar nas comemorações do dia da Independência, com a deposição de uma coroa de flores na estátua de Agostinho Neto, João Lourenço voltou a garantir que nada teve a ver com o seu afastamento, lembrando que não é o PR que determina a perda de mandatos dos deputados.

"Eu não sei se os deputados perdem os mandatos por despacho Presidencial, isso não acontece na nossa constituição, e a lei não permite, porque a Assembleia Nacional é um outro poder que se rege por regras próprias, regras estas que são aprovadas pelos próprios deputados", explicou na altura, acrescentando que essa foi "a medida que a Assembleia Nacional tomou e da sua exclusiva responsabilidade. Eventualmente, terá tido as suas razões".