"A falta de disponibilidade do Titular do Poder Executivo para as reformas do Estado exprime a vontade do actual regime em manter reféns as instituições do Estado para benefício exclusivo do Partido-Estado e prejuízo para a maioria dos angolanos", lê-se numa declaração política divulgada no final da IIIª reunião ordinária do Comité Permanente da comissão Política da UNITA.

Neste encontro, que teve lugar ontem, terça-feira, 12, a UNITA apontou 2021 como "ano da mobilização dos patriotas para a alternância do poder", insistindo na necessidade da criação de uma ampla frente para tirar o MPLA no poder desde 1975.

O Comité Permanente da Comissão Política da UNITA alertou a sociedade angolana para a ideia de que, "enquanto o Executivo do Presidente João Lourenço, persistir no procedimento da contratação simplificada por ajuste directo para atribuir volumosos contratos públicos a empresas escolhidas a dedo, fica cada vez mais desacreditada a sua luta direccionada contra a corrupção".

O principal partido da oposição constatou "com preocupação" a "deterioração das garantias do Estado Democrático de Direito, consubstanciada na indefinição do calendário para a implementação das Autarquias Locais em Angola, inicialmente previstas para o ano de 2020".

O Comité Permanente da Comissão Política da UNITA solicitou ao Executivo que crie condições para que a implementação das autarquias decorra em 2021 e em simultâneo em todos os municípios.

"A UNITA manifestou a sua inquietação ante a degradação da imagem dos tribunais superiores, face às constantes denúncias públicas, nunca desmentidas, sobre o envolvimento de alguns dos seus membros em actos que conflituam com a lei, o que fragiliza sobremaneira o sistema de justiça", refere o documento, reiterando a vontade da UNITA de dialogar com todas as forças vivas da sociedade angolana, "na busca de consensos sobre os assuntos de interesse nacional", com a possibilidade de uma frente comum para as eleições gerais de 2022.

A reunião analisou a situação da pandemia da Covid-19, tendo saudado todos os profissionais de saúde pela sua entrega à causa de prevenção e combate ao vírus.

Ainda em relação a este assunto, concluiu a necessidade de os membros do partido, a todos os níveis, desenvolverem acções pedagógicas e de sensibilização das populações para a observância rigorosa das medidas de biossegurança decretadas pelas autoridades do País.

O Comité Permanente da Comissão Política exorta, por isso, o Executivo angolano a garantir para Angola uma vacina segura e eficaz, no quadro da prevenção e combate à Covid-19.

Os participantes ao encontro manifestaram-se preocupados com a prolongada estiagem sem precedentes que assola a presente época agrícola, o que pode agravar a fome e a pobreza no seio das famílias angolanas.

Recomendaram que as instituições afins tomem as devidas precauções para que venham a ser minimizados os danos decorrentes da seca que se adivinha.

A vontade para enfrentar MPLA em conjunto é comum à oposição parlamentar

Como o Novo Jornal tem vindo a noticiar, os partidos políticos da oposição mantêm, em aberto, a intenção de formar uma coligação para conseguirem vencerem as eleições gerais de 2022, mas admitem que o grande problema reside na Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que não é independente e onde são manobrados os resultados.

Ao Novo Jornal, na terça-feira, o deputado da UNITA Ernesto Mulato sublinhou que desde que haja boa vontade em todas as formações políticas, a UNITA está disponível para que nas próximas eleições gerais de 2022 participar numa possível coligação para vencer as eleições.

"Temos vindo a trabalhar para que essa coligação de partidos políticos da oposição seja uma realidade. Aliás, em vários países isso funcionou. A acontecer é uma boa ideia", referiu o também terceiro vice-presidente da Assembleia Nacional indicado pela UNITA.

"Passados 45 anos da independência nacional, os angolanos ainda não sentiram os efeitos da liberdade. Por isso, a alternância, uma mudança dos actuais dirigentes, é seguramente bem-vinda", acrescentou.

Ernesto Mulato espera que quando se concretizar a ideia, os partidos políticos trabalhem seriamente para o bem dos angolanos.

"Espero que concretizada a ideia, não haja conflitos, porque os angolanos já estão fartos com esta governação que não melhora a sua vida", acrescentou.

A CASA-CE está a favor de uma coligação de partidos políticos, mas diz que o grande problema está na Comissão Nacional Eleitoral (CNE) que é manipulada pelo MPLA e não deixa vingar a vontade popular.

"Seria a única via para desalojarmos o MPLA do poder, mas o grande problema está na Comissão Nacional eleitoral onde são fabricados os resultados das eleições. Por isso é que queremos uma CNE independente", disse ao Novo Jornal o deputado da CASA-CE Manuel Fernandes, salientando que a vontade de mudança e da consolidação da verdadeira democracia no País são enormes.

Segundo Manuel Fernandes, um outro problema reside no seio de alguns partidos políticos, depois de alguns consensos alcançados, mudam de opinião com muita facilidade.

"Isso é que fragiliza as coligações. No momento da decisão surgem conflitos. Isso vai ajudar o MPLA a manter no poder por muitos anos", referiu.

Manuel Fernandes sublinhou, por outro lado, que caso haja uma coligação de partidos políticos às eleições gerias de 2022, é necessário um estudo minucioso dos propósitos de cada partido nesta plataforma.

"É necessário analisarmos o perfil de cada partido que poderá fazer parte de coligação, porque nalgumas formações políticos, os seus líderes são conflituosos", concluiu.

O secretário-geral do PRS, Rui Malopa Miguel corrobora com a posição do deputado Manuel Fernandes no que diz respeito à Comissão Nacional Eleitoral que "nas últimas eleições vem fazendo um mau trabalho".

"Uma coligação de partidos políticos é a grande opção para conseguir a alternância no poder em Angola. Mas o Calcanhar de Aquiles está na CNE onde tudo é alterado. No Caso de uma plataforma política, a situação da CNE tem quer ser bem analisada", defendeu.

Segundo ele, existem bons líderes políticos da oposição que reúnem condições para liderar a coligação e protagonizarem as mudanças que o País necessita na Presidência da República.

"A coligação de partidos, tendo em vista as eleições gerais de 2022, é o sonho de todos os líderes de partidos políticos. O grande receio é desentendimento na hora da decisão", frisou.

Recorde-se que também Abel Chivukuvuku, ex-lider da CASA-CE e antigo dirigente da UNITA, já afirmou estar disponível para contribuir para uma solução dessa natureza, mesmo não sendo ele a encabeçar a lista.