Para muitas pessoas, o nome Catinton soa a delinquência, becos, poeira, falta de energia, entre outras conotações. Apesar do bairro ter a felicidade de ser parte integrante de um dos distritos mais urbanizados da cidade de Luanda, a Maianga, são enormes as dificuldades que os populares enfrentam. Mesmo assim, e apesar de todos os constrangimentos, esta zona da capital orgulha-se de ter um ponto de passagem obrigatória: a Praça do Catinton. Líder na comercialização de produtos agrícolas.

O local, que já foi também conhecido noutros tempos como Praça dos Materiais (devido à venda de bens para a construção civil), foi criado há cerca de nove anos. Já o mercado do Trinta, no município de Viana, é outro dos principais pontos de encontro quando se trata de comercializar produtos do campo. Estendido numa área de 20 mil metros de comprimento e 950 de largura, a praça está equipada com sistemas de refrigeração, reservatórios de água, grupo gerador e casas de banho, entre outros apetrechos. De acordo com o seu administrador, António Domingos, o número de comerciantes que ocupa a circunscrição gira em torno dos 4.860. Distribuídos em três pavilhões.

O mercado está retalhado com os sectores de vendas de fardo, diversos, comes e bebes e produtos agrícolas. Este último tem sido o mais procurado devido à diversidade. E devido aos preços baixos. O mercado, segundo António Domingos, é abastecido por todas as províncias do país, com destaque para o Bié, Huambo, Kwanza-Norte e Sul, Benguela, Bengo e Malanje. Na área restrita aos produtos agrícolas as vendedoras são obrigadas a trajarem- se de bata e lenço verde. Esta cor ajuda o cliente a perceber que está num sector reservado aos produtos do campo.

Depois da chuva que caiu na terça- -feira, 11, em toda a Luanda, nas primeiras horas de quarta-feira Mariana de Jesus estava pronta para mais um dia de trabalho. Na sua banca são visíveis os sacos de cebola e cenoura. "Ontem já não vendi por causa da chuva. Hoje tive que madrugar para receber os meus clientes, que não me deixam descansar. Fiquei apenas com esses produtos porque a batata foi comprada logo que cheguei", conta a senhora, visivelmente motivada.

A variedade, preços baixos e qualidade dos produtos destes mercados atrai pessoas como Carlos Contreiras, funcionário público, que todas as semanas desloca-se ao Catinton para fazer compras. Devido ao seu estado de saúde, que vai apresentando debilidades por conta de diabetes, foi-lhe exigida uma alimentação baseada fundamentalmente nos pratos típicos, onde os legumes e frutas ocupam um lugar de destaque.

Contreiras é residente na Vila Alice e diz que descobriu a praça do Catinton a convite de um amigo. Enquanto falava à reportagem do Novo Jornal, o jovem lotava a bagagem do carro com grandes quantidades de abacate, couve e repolho. "Quando chego a casa é uma verdadeira festa de satisfação. E o que mais me enche de felicidade é o facto de saber que compro esses produtos a baixo preço. E são produtos nacionais". O cenário que nos rodeia é repleto de batata, milho, quizaca, fuba de milho e de bombó, frutas variadas, legumes, cenoura, beringela, óleo de palma, feijão, carvão - entre outros produtos que ficam expostos sob olhar atento da clientela que, no meio de apertos e agitações, entra e sai sempre com as sacolas cheias.

Ajuda o bolso

"Ajuda o bolso". É assim que Bela Raimundo, residente no distrito da Samba, descreve o mercado do Catinton. A sua afirmação prende-se com a variedade de produtos agrícolas e preços baratos. É que, embora Bela necessite de duas corridas de táxi para chegar até esta praça, a dona de casa diz que o esforço sempre vale a pena. "Moro no Bairro Azul e às vezes sinto preguiça de vir cá. Mas sempre que venho convenço-me que ganho muito mais. Por exemplo, o preço de um quilo de tomate nas lojas do meu bairro anda à volta dos 200-300 kwanzas. Aqui compro a cinquenta. É uma diferença muito grande. Por isso mesmo é que, quando venho, aproveito para comprar grandes quantidades", afirma Bela Raimundo.

Bela Raimundo acredita que é importante fazer um esforço "para garantir melhor dieta à família". Por este facto, desloca-se pelo menos duas vezes por semana ao Catinton para comprar frutas e legumes. Dois portões dão acesso ao interior do mercado do Catinton. Logo à entrada, o cliente é interpelado por roboteiros que se oferecem para "ajudar" quem precisa. Já lá dentro, no meio de uma enorme confusão, para chegar até à zona de comercialização dos produtos agrícolas é preciso percorrer uma certa distância. Tudo no meio de uma multidão que rasga o chão de terra batida.

Por se encontrar num perímetro elevado, o cliente, quando está dentro da praça, é brindado com uma vista privilegiada dos bairros Cassequel, Rocha Pinto e Samba. Que aparecem ao fundo. Nas bancadas reservadas aos produtos nacionais encontram-se as comerciantes. Cada uma ao seu jeito. Chamam pela clientela - surpreendida de tanta oferta.

Lucrar com a revenda

Apesar de morar no Cazenga, Sílvia explica que é obrigada a acordar cedo e porque tem clientes de várias zonas de Luanda. Ela referiu que normalmente despacha os seus produtos aos proprietários de restaurantes, lojas e supermercados. Os artigos, tal como fez questão de frisar, são adquiridos na província de Benguela e revendidos no mercado do Trinta.

Na província, compra 100 sacos de cebola de cem quilos a 220 mil kwanzas. A revenda fica, por cada saco, a 1500 kwanzas. A mesma quantidade de batata-rena comprada a 200 mil kwanzas e revendida no Trinta a 1800 kwanzas por saco.

Rosita Augusto explica que compra grandes quantidades de verduras para revender aos restaurantes da cidade. Já anda nesta vida há muitos anos.

"Como os preços são mais baixos aproveito para comprar quantidades suficientes para posteriormente revender aos restaurantes e lojas da baixa. Por causa dos enormes compromissos que assumi, tive de adquirir uma viatura que me ajuda a fazer as entregas", conta Rosita.

Os preços baixos também impulsionaram Judith a comprar batatas e cebolas para zungar noutros bairros de Luanda. "Assim que saio daqui levo as coisas para casa. Embalo em medidas de 100 e 200 kwanzas e zungo no Prenda, Cassenda, Rocha Pinto e Samba. Como compro barato consigo lucrar sem problemas".

Zonas centro e sul dominam produção

O mercado do Catinton está estendido numa área de aproximadamente 480 metros de comprimento e 90 de largura. Neste momento, o número de comerciantes está desactualizado devido à reestruturação que o mesmo tem vindo a conhecer. Está em curso a construção de novos alpendres e bancadas que poderão vir a dar um outro conforto aos clientes e vendedores.

Devido ao estado actual do mercado, a céu aberto, a conservação dos produtos é feita através das casas de processo que, por sua vez, são asseguradas por homens da segurança. De acordo com Manuel Raul, um dos administradores do mercado, a maior parte dos produtos agrícolas que ali são comercializados têm como proveniência as províncias do Bié, Benguela, Kwanza Sul e Huambo. Num passado não tão distante, o Bengo, Malanje e Kwanza Norte também forneciam o mercado.

Mas houve uma reestruturação onde ficou acordado que o Catinton só pode ser abastecido com produtos da região sul. Já os da parte norte foram encaminhados para o mercado do Trinta, em Viana, outro "gigante" na venda de produtos agrícolas.

"Foi tomada essa medida devido aos grandes constrangimentos que tivemos ao nível do nosso mercado. Agora sim, conseguimos organizar melhor as pessoas e o Trinta tem sido um dos nos nossos fiéis parceiros", afirmou. Manuel Raul fez saber que todas as feirantes, para venderem os seus produtos, são obrigadas a pagar uma taxa que ronda entre os 25 aos 100 kwanzas, dependendo da quantidade de negócio. Estes valores, segundo referiu, destinam-se à manutenção do espaço, pagamento de salários e outros serviços úteis para o normal funcionamento da estrutura. A nossa fonte assegurou também que a falta de frigoríficos prende-se com a ausência de energia eléctrica no bairro.

"Tínhamos comprado um Posto de Transformação mas foi destruído por uma empresa de construção civil que está a trabalhar nesta zona", explicou Manuel Raul. O mercado do Trinta, segundo o administrador, António Domingos, é abastecido por todas as províncias do país, com especial destaque para o Bié, Huambo, Kwanza Norte e Sul, Benguela, Bengo e Malanje.