Os dois funcionários da Embaixada de Israel em Washington, um jovem casal, Yaron Lischinsky e Sarah Milgrim, foram mortos a tiro quando estavam à entrada do Museu Judaico de Washington, na noite de quarta-feira, já madrugada em Angola, mas até ao momento, 10:30, hora de Luanda, não se conhecem em concreto as motivações.

O autor dos disparos, Elias Rodrigues, de 30 anos, já foi detido e tudo indica que se tenha tratado de uma acção motivada pela situação que se vive actualmente em Gaza, onde as forças israelitas estão a aumentar fortemente os seus ataques sobre a população civil.

Isto, porque, segundo testemunhas citadas pelos media norte-americanos, o indivíduo gritou por diversas vezes, antes de ser detido, "viva a Palestina livre", o que coloca este duplo homicídio na categoria de um atentado motivado por razões de solidariedade com a população de Gaza.

Naquele território, desde 07 de Outubro de 2023, data do assalto do Hamas ao sul de Israel, deixando um rasto de morte, com mais de mil mortos, as Forças de Defesa de Israel (IDF) já mataram mais de 50 mil civis, na sua maioria crianças e mulheres.

E, actualmente, as IDF, mantém um bloqueio férreo a Gaza impedindo a chegada de ajuda humanitária aos mais de dois milhões de habitantes que estão à beira de uma catástrofe humanitária (ver links em baixo), com vários relatórios da ONU a alertar para uma situação de morte iminente para mais de 500 mil pessoas por fome e doença.

Logo após o assassinato dos dois diplomatas israelitas em Washington, o primeiro-ministro israelita, Benjamim Netanyhau, ordenou o reforço da segurança nas representações diplomáticas de Israel espalhadas pelo mundo, porque existe o risco deste episódio poder despoletar uma séria de réplicas mimetizadas.

Netanyhau considerou que este duplo homicídio é um "atentado anti-semita" e prometeu que todos os envolvidos no ataque serão punidos.

"Estamos a ver o preço terrível do antissemitismo e do incitamento furioso contra o Estado de Israel", acrescentou Netanyahu, citado pelas agências, enquanto o Presidente dos EUA, Donald Trump, já reafirmou a solidariedade do seu país a Israel.

Ajuda humanitária chega a Gaza a conta-gotas

Embora nenhuma ajuda humanitária tenha entrado no território palestiniano desde 02 de março, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no domingo que ia autorizar a entrada de uma "quantidade básica de alimentos destinados à população, a fim de evitar o desenvolvimento da fome na Faixa de Gaza".

"A quantidade limitada de ajuda agora autorizada a entrar em Gaza não substitui, evidentemente, o acesso sem entraves aos civis necessitados", explicou Tom Fletcher, porta voz da agência de ajuda de emergência da ONU (OCHA), lembrando que as Nações Unidas têm um plano para fornecer ajuda em grande escala no território.

Na semana passada, a ONU explicou que tinha camiões carregados com 171.000 toneladas de alimentos à espera de serem autorizados a entrar.

Durante o cessar-fogo de 42 dias entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, no início do ano, 4.000 camiões de ajuda entraram no território todas as semanas, segundo a ONU.

Fletcher apelou ainda a Israel para que abra "pelo menos dois pontos de passagem para Gaza", para que "simplifique e acelere os procedimentos e levante todas as quotas", a fim de satisfazer todas as necessidades em termos de "alimentos, água, higiene, abrigo, saúde ou combustível".

Tom Fletcher adiantou esperar que Israel deixe entrar hoje 100 camiões em Gaza.

"Será difícil", admitiu, garantindo que, se houver permissão, esses camiões, serão carregados com comida para bebés.

A abertura agora dada pelo Governo de Telavive foi justificada por Netanyahu com o receio de que as imagens de fome dos palestinianos fizessem com que os aliados de Israel retirassem o apoio militar e diplomático ao país.

As agências da ONU e as organizações não-governamentais (ONG) que trabalham em Gaza têm vindo, há várias semanas, a assinalar a escassez de alimentos, água potável, combustível e medicamentos no território palestiniano, em guerra há mais de 19 meses.

"Dois milhões de pessoas estão a passar fome" em Gaza, enquanto "toneladas de alimentos estão bloqueadas na fronteira", lamentou o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Israel impôs um bloqueio ao território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes em março, depois de ter posto termo a um cessar-fogo negociado em janeiro, durante o qual trocou vários reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.

ONU já tinha alertado para o risco de meio milhão morrer em breve

O último relatório das Nações Unidas sobre a situação dramática em Gaza coloca cerca de meio milhão de pessoas, na sua maioria crianças e idosos, à beira da morte devido à fome, enquanto a restante população dos seus 2,3 milhões de habitantes está muito perto desse fim.

Depois do ministro das Finanças, Bezalel Smootrch, um radical de direita, ter dito, a 06 de Maio, que Gaza será destruída e a sua população saíra do território voluntariamente por não aguentar as condições, o seu prognóstico surge agora plasmado neste documento da ONU.

Elaborado por várias agências das Nações Unidas em colaboração com organizações internacionais humanitárias, este relatório sobre a realidade vivida pela população em Gaza é o mais alarmante de todos os que já foram divulgados desde Outubro de 2023.

Uma em cada cinco pessoas vai morrer muito em breve se o bloqueio israelita a Gaza, que impede os milhares de camiões com comida e medicamentos, não for levantado, sendo que destas, uma percentagem alargada já não poderá ser salva devido ao seu debilitado estado.

Há dois meses que as forças de defesa de Israel (IDF) mantém o território de Gaza, uma área de escassos 365 kms2 onde residem 2,3 milhões de pessoas, totalmente bloqueado, como medida punitiva contra o Hamas.

O Hamas é o movimento de resistência, considerado terrorista pelos aliados ocidentais de Telavive, que a 07 de Outubro de 2023 lançou um ataque audaz ao sul de Israel onde deixou um rasto de morte, mais de mil pessoas morreram, fazendo cerca de 250 reféns (ver links em baixo).

Este ataque, recorde-se, é actualmente fonte de acesa polémica em Israel devido às suspeitas de conluio interno para permitir que tivesse lugar, porque isso era do interesse político do primeiro-ministro Benjamin Netanyhau. (ver aqui)

A situação actual tem como histórico recente os mais de 52 mil pessoas mortas desde a invasão israelita iniciada a 08 de Outubro, horas depois do assalto do Hamas ao sul do país, a maioria crianças, mais de 25 mil, e mulheres e idosos, cerca de 15 mil (dados da ONU).

Num longo período de uma assimétrica guerra, onde Israel, o mais poderoso e mais moderno Exército do Médio Oriente, tem aniquilado milhares de civis para conseguir eliminar algumas centenas de militantes do Hamas, mais de 80% das infra-estruturas civis foram destruídas, incluindo todas as escolas e hospitais (dados da ONU) e, agora, pela voz do primeiro-ministro, está a ser preparada uma nova "entrada em Gaza com toda a força" militar.

Isto, quando nunca a situação foi tão dramática como agora, com todo o território, que compreende uma frente de mar de 40 kms por nove de largura, entre o Mediterrâneo, Israel e, a Sul, o Egipto, à beira da morte por penúria alimentar e na antecâmara de uma nova "invasão" pelas forças israelitas, que Benjamin Netanyhau garante serem dezenas de milhares de soldados prontos para entrar no território mais uma vez.

E tal pode acontecer quando 500 mil civis em Gaza podem morrer em dias, ou mesmo horas, encontrando-se no limite da classificação internacional criado pela Integrated Food Security Phase Classification (IPC) para se morrer de fome, avança a CNN Internacional.