As ruas da cidade estão na boca da população quando o assunto é buracos. Sejam grandes ou pequenos, antigos ou mais recentes, incomodam os habitantes da cidade, que dizem que o estado a que chegaram as ruas está a empobrecer a imagem da cidade.

"As vias de acesso à cidade de Caxito vão de mal a pior. A degradação das ruas continua a ser tema de conversa em todas as esquinas da capital, uma vez que tem influência directa na vida do cidadão", contou ao Novo Jornal Online o munícipe Jacinto Fungo.

"É uma autêntica vergonha", sintetizou Fungo, que considerou o Plano Director de Desenvolvimento Urbano da cidade de Caxito uma miragem.

Quem circula nas ruas de Caxito precisa de ter paciência. Os automobilistas enfrentam diariamente trechos que estragam veículos.

Os moradores reclamam da situação das ruas e de como elas ficam quando chove. A água invade as casas.

"O problema é antigo. Quando há chuvas, ficamos prejudicados", protesta o ancião António Pinto.

Em 2013, na sua quarta visita a Caxito, província do Bengo, o ex-presidente da República, José Eduardo dos Santos, havia dito que não gostou do que viu e que "Caxito não tinha mudado em nada".

"Precisamos de investidores e de um sector privado forte que, aproveitando as infra-estruturas que o Governo está a criar para que possa realizar investimentos, possa produzir riqueza e criar emprego, assim como promover o crescimento com base no lema da campanha apresentado ao eleitorado "Crescer mais para distribuir melhor`", sublinhou, na altura, José Eduardo dos Santos.

Dos Santos prometeu mundos e fundos. Mas, de lá para cá, o nó nem ata e nem desata. "Estamos fartos de promessas e continuamos a ter uma cidade degradada e sem condições de ser uma capital de província", contestam os munícipes.

Depois de ter considerado a cidade de Caxito como uma "fazenda habitada", durante a campanha eleitoral das últimas eleições, o actual Presidente da República, João Lourenço, prometeu "a construção de uma capital administrativa para a província do Bengo, a conclusão do porto de águas profundas no Dande, o combate às assimetrias".

Mas na cidade de Caxito, a palavra de ordem é ver para crer e não crer para ver.

"O povo não acredita mais nas mentiras nem nas falsas promessas. Caxito não está longe da capital (60 quilómetros) e não se justifica o abandono em que se encontra", disse o técnico agrónomo Adolfo Varela Panzo.

"A cidade de Caxito tem falta de quase tudo. A população reclama a instalação de serviços sociais básicos e a reabilitação e construção de infra-estruturas destinadas a melhorar as condições de vida das populações", acrescentou.

O rio Dande passa dentro da cidade de Caxito, mas há momentos em que a cidade e os arredores ficam privados de água potável durante vários meses.

"Muitas vezes os munícipes são abastecidos por camiões cisternas e motoqueiros que comercializam o bidão de 25 litros a 75 kwanzas, ou têm de acarretar água para consumo que vão buscar à vala de irrigação do perímetro agrícola de Caxito", queixou-se o funcionário público Altino Mavinga André.

Receando o consumo de água por parte dos munícipes na vala de irrigação do perímetro agrícola de Caxito, as autoridades locais anunciaram recentemente a vedação do mesmo para evitar que a população consuma água imprópria.

Com uma extensão de 23 quilómetros de comprimento, a vala serve para a irrigação de cerca de seis mil hectares no Perímetro Irrigado de Caxito.

"Se não há esforço do executivo local para resolver o problema de água potável, mesmo com o rio a 200 metros da cidade, a população não sabe o que fazer e recorre à vala de irrigação", disse ao Novo Jornal Online o camponês Alberto Massamu.

A par disso, a vala é utilizada, frequentemente, pelos habitantes dessa urbe, para lavar roupa e tomar banho, apesar dos constantes avisos das autoridades sobre os riscos para a saúde que esta prática acarreta.

"A vala é nossa tábua de salvação", contou a doméstica Domingas Pedro. A vala de irrigação é um perigo para a saúde dos munícipes do Dande. Ela (a vala) está rodeada de lixo e é habitat de mosquitos. A água é suja e, ainda assim, muitos munícipes lavam, tomam banho e deixam as crianças brincar e nadar na água.

Saneamento básico é um "calcanhar de Aquiles"

O deficiente saneamento básico é grande ameaça à saúde pública. Milhares de habitantes que não recebem este serviço básico estão perigosamente suscepti"veis a diversas doenças causadas pelas más condições oriundas da falta de tratamento de esgoto.

"Condições precárias de esgoto, água e higiene, tornam as pessoas mais susceptíveis a doenças como diarreia, cólera (...), hepatite e febre tifóide", alerta o enfermeiro Pedro Sampaio Bozo.

Segundo ele, "é obrigação do Governo melhorar o saneamento básico da cidade de Caxito e periferia, no sentido de se prevenir diversas doenças e dar uma nova vida na circunscrição, e isso muitas vezes não acontece".

Antónia Jacinta, que mora no bairro Sassa, nos arredores da cidade, está preocupada com o estado actual do saneamento básico da cidade e solicita a intervenção urgente das autoridades, por forma a encontrarem soluções para a resolução da situação.

"Aqui não há recolha de lixo. As empresas responsáveis pouco ou nada fazem para limpar o nosso bairro", contesta, salientando que o lixo acumulado tem vindo a criar embaraços na comunidade, provocando várias doenças.

Plano Director é conversa para "boi dormir"

Para a modernização de Caxito, o Plano Director de Desenvolvimento Urbano da cidade, previa a construção de novas infra-estruturas sociais, como vias rodoviárias, centro político e administrativo, polos de desenvolvimento económico, condomínios residenciais.

"Algumas coisas foram feitas, mas Caxito continua a ser uma aldeia e não uma capital de província", lamenta ao novo Jornal Online o funcionário público Amadeu da Silva Cavila, que defende que "o ex-governador, João Bernardo de Miranda, não podia fazer nada porque não recebia recursos suficientes para concretizar o sonho".

"É um Plano Director anunciado com entusiasmo, mas que está adormecido nas gavetas", afirma.

Mara Quiosa, a tábua de salvação?

Os habitantes de Caxito vêem na governadora, Mara Quiosa, a única esperança para salvar a urbe em estado avançado de degradação.

Nomeada recentemente pelo Presidente da República, João Lourenço, Mara da Silva Baptista Domingos Quiosa tem uma empreitada que os seus antecessores deixaram por fazer: construir uma boa imagem da cidade.

"Tudo mudou na actual governação, confiamos que a nova governadora, com o nosso apoio e das autoridades centrais, tudo fará para acabar com esta vergonha", desabafa à nossa reportagem o ancião Pedro Tabi.

Aborrecido com os governantes que passaram por esta cidade, o ancião não reconhece boas acções por parte destes. "Não sei se o problema era deles ou do Governo central. É uma vergonha trazer estrangeiros aqui ao Caxito e dizer que esta é uma capital de província", lamenta.