Para fazer face à continuada situação de seca, que nos últimos meses provocou a perda de milhares de cabeças de gado e a escassez na produção agrícola, colocando em perigo a vida de meio milhão de pessoas ligadas à agricultura e à criação de gado bovino de subsistência, o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil e elementos das Nações Unidas reuniram com as autoridades locais para definir uma estratégia de socorro às populações mais afectadas.

Neste encontro pretendeu-se criar mecanismos que permitam analisar o impacto da seca nas comunidades e elaborar um "mapa" de acção para fazer face aos problemas da fome, mas também das consequências indirectas nos domínios da saúde, agro-pecuária e educação, conduzindo a um programa de resposta no curto, no médio e no longo prazo.

Teresa Rocha, da comissão nacional de Protecção Civil, adiantou, em Moçâmedes, à Angop, que as Nações Unidas estão neste encontro para apoiar no terreno, especialmente na resposta às crianças desnutridas nestas regiões em consequência da prolongada seca.

Uma das medidas tidas em consideração neste encontro foi o abandono por parte das populações das zonas consideradas de maior risco na Huíla, Namibe e Cunene, confirmando ainda que está em preparação de um plano de contingência para apoiar as populações com bens alimentares.

Estas iniciativas têm como pano de fundo a situação de tragédia que o Sul de Angola vive há muitos meses, à semelhança de grande parte da África Austral, com graves situações de fome na Namíbia, Botsuana, etc, para a qual a União Africana e as organizações internacionais já pediram ajuda de emergência.

Recorde-se que as Nações Unidas, numa colaboração entre agências ligadas à alimentação, crianças e saúde, FAO, Unicef e OMS, já têm desde Abril um programa em curso nestas províncias, em articulação com os governos provinciais, que abrange potencialmente mais de 580 mil pessoas.

Na agricultura, este programa visa responder à necessidade de melhorar a produção, através de culturas mais resistentes à seca, apoio veterinário para reduzir a mortalidade do gado, na saúde, o objectivo é melhorar a resposta local nos postos médicos, nomeadamente no combate à malária e na distribuição de vacinas.

A Unicef terá a seu cargo a recuperação de furos que permitam aumentar a água disponível, criando uma rede de distribuição para chegar às zonas mais áridas.

Pior seca em 35 anos

Apesar de a situação ter melhorado com a última época das chuvas, esse impacto só se fez sentir em alguma áreas, mantendo-se como pano de fundo a este conjunto de iniciativas uma das mais severas secas que atingiram o Sul de África em 35 anos.

Só na vizinha Namíbia, as autoridades locais já avançaram que mais de 600 mil pessoas correm risco de vida, decretando o Governo de Windhoek o estado de emergência/calamidade nas regiões mais severamente atingidas pelo flagelo da seca.

Mais de 23 milhões de pessoas na África Austral precisam de ajuda urgente para fazer face à pior seca dos últimos 35 anos, alertou recentemente a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Para que essa ajuda seja possível, a FAO estima em 109 milhões de dólares o montante necessário para a compra de sementes, material agrícola e ainda ajuda alimentar de emergência, de forma a que as comunidades possam aproveitar com eficácia a próxima época de colheitas.

"Os agricultores têm de conseguir plantar até Outubro e, se não o conseguirem, teremos mais uma colheita reduzida em Março de 2017, afectando severamente a segurança alimentar e nutricional e as vidas na região", lembra a FAO em comunicado.

Esta situação afecta todos os países da África Austral, incluindo Angola, mas seis deles, Botsuana, Lesoto, Malawi, Namíbia, Suazilândia e Zimbabué já declararam emergências nacionais devido à seca.

São precisos 2,7 mil milhões de dólares para ajudar todos os sectores da economia da África Austral a recuperar da seca deste ano, dos quais ainda falta financiar 2,4 mil milhões, alerta a FAO.

Esta seca deve-se ao fenómeno meteorológico El Niño, que resulta de alterações na temperatura da água no oceano Pacífico, com especialmente gravosas repercussões no clima de algumas regiões do globo, como é o caso do Sul do continente africano.