Com mais de 135 mil elefantes no seu território - é o país com mais elefantes em todo o mundo -, a maior parte em puro estado selvagem, sem estarem delimitados por parques ou reservas naturais, as autoridades do Botsuana justificam o levantamento da proibição de caça com os prejuízos que as manadas começam a provocar nas fazendas e na agricultura do país.

Esta atitude do Governo de Gaborone apanhou de surpresa a comunidade global de conservacionistas e ambientalistas que já a criticaram duramente.

Uma das consequências nefastas deste acto é que os elefantes do Botsuana vão, se as suas populações vierem a ser substancialmente reduzidas pelos caçadores, deixar de contribuir para a dispersão da espécie por países vizinhos, movimento que acontece entre as manadas que atingem determinada dimensão e alguns dos espécimenes buscam, intuitivamente, novos territórios para ocupar.

Angola é um dos países que, devido à proximidade geográfica, tem vindo a beneficiar do alargamento da população de elefantes no Botsuana, para onde alguns têm seguido, aproveitando o sossego que se se seguiu ao fim do conflito armado, que conduziu quase à extinção da espécie em território nacional.

Ou ainda porque alguns animais que integram as manadas migratórias acabam por fixar "residência" em determinadas regiões que proporcionem condições de sobrevivência sem necessidade de grandes deslocações ou transumância.

Recorde-se que a caça ao elefante no Botsuana foi banida há cinco anos, em 2014, pelo então Presidente Ian Khana, com medidas agressivas para acabar com os caçadores ilegais, como, or exemplo, autorizar "atirar para matar" pelas forças de segurança e guardas da natureza, constituídos em forças especiais através de treino intensivo para defenderem as manadas de paquidermes.

Este levantamento da proibição de caçar elefantes surgiu depois de o actual Governo do Presidente Mokgweetsi Masisi, eleito em Abril do ano passado, ter mostrado estar menos alinhado com as política agressivas de defesa da vida selvagem, acabando com a liberdade das forças de segurança para dispararem a matar contra os caçadores furtivos que procuram obter o marfim dos dentes destes "simpáticos gigantes", que é a razão principal para o risco de extinção em que a espécie se encontra.

E esta decisão do Botsuana surge ainda mais em contra-corrente quando é conhecido que, de acordo com censos realizados em 2016 no continente africano, a população de elefantes caiu mais de 30 por cento em menos de uma década.

Paquidermes com "BI" angolano?

E Angola aparece com um papel importante nesta polémica porque, segundo os estudos existentes de associações conservacionistas e ambientalistas, as manadas que surgem contabilizadas como tendo "bilhete de identidade" do Botsuana, na verdade não é bem assim, porque são animais que ancestralmente migram e vagueiam entre o Botsuana, a Namíbia, Angola, e o Zimbabué e a Zâmbia.

Há ainda informações, embora precisem de confirmação científica através de estudos ,que apontam para Angola como tendo um papel decisivo no aumento do número de animais no Botsuana na última década porque, com o fim do conflito armado em 2002, os elefantes transumantes voltaram a percorrer o território nacional e aqui encontraram renovadas condições de reprodução em territórios que estavam esquecidos devido à guerra.

E, graças às condições naturais em Angola, com pasto abundante e território quase virgem depois de décadas a fio de guerra, os elefantes encontraram, não só novos territórios para reprodução como também para o alargamento do número de indivíduos nas manadas autóctones.

Mas o mais importante é que, como sublinham alguns ambientalistas, como é o caso Louise De Waal, da Conservation Action Trust"s, citada pelo Smithsonian.com, a natureza transumante destas manadas "torna muito difícil afirmar a que país estes animais pertencem", porque "não são residentes em nenhum dos países que estão no mapa das suas migrações cíclicas".

E, no limite, pode-se admitir a possibilidade de a autorização do Governo de Gaborone para a caça aos elefantes no seu território seja uma autorização de caça de elefantes que pertencem de igual modo aos países vizinhos onde o seu abate é expressamente proibido e criminalizado.

Esta polémica reformulação da legislação nacional no Botsuana, por decisão do novo Presidente, Mokgweetsi Masisi, que sucedeu ao conservacionista Ian Khama, tem ainda como picante o facto de a comissão criada para analisar a alteração que permite a caça ao elefante que visa apenas a obtenção do trofeu, que são as presas do animal, ter acrescentado a indicação de que a carne dos animais abatidos por "desporto" possa ser utilizada na indústria da produção de ração para cães e gatos, embora fortemente contestado.

Em média, a cada 15 minutos é abatido um elefante em África por caçadores furtivos.

Segundo o World Wildlife Fund,em 2014 a população total de elefantes africanos era de 700 mil, incluindo o elefante da savana (L. Africana), o maior, e o elefante da floresta (L. cyclotis), bastante mais pequeno e raro.

Em Angola, de acordo com um estudo realizado em 2017, a população de elefantes, praticamente dizimada durante as décadas de guerra, é agora de mais de 3 mil indivíduos, a maior parte regressados de países vizinhos, como o Botsuana, que vão ficando com o crescimento das manadas migratórias.

No entanto, antes da guerra, na década de 1960/70, Angola era o "lar" de quase 80 mil elefantes, uma das maiores populações do continente, sendo que anualmente, muitos mais usavam o território de passagem.

Segundo declarações da ministra do Ambiente, Paula Francisco Coelho, em Kasane, Botswana, durante uma Cimeira do Elefante, já este ano, a caça furtiva constitui a "maior ameaça" aos elefantes no país, sendo essa mesma caça furtiva conduzida por grupos organizados com contornos de "crime organizado internacional".