Um dos problemas que as organizações internacionais que lutam contra a pobreza, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), têm enfatizado é a possibilidade de alguns países, ou mesmo regiões do mundo, poderem ficar para trás na corrida às vacinas que estão a ser desenvolvidas em cerca de uma dezena de laboratórios de outros tantos países, sendo que África aparece como particularmente vulnerável a este risco devido à sua escassa influência na política global.

Recorde-se que em algumas sub-regiões, como a América Latina, o acesso garantido a futuras vacinas foi conseguida porque países como o Brasil se disponibilizaram para que a testagem da eficácia das vacinas em humanos fosse realizada no seu território, o mesmo sucedendo na Europa e nos EUA, apesar de ser nestes países que essa pesquisa está a ser realizada.

Mas África colocou-se inicialmente de fora dos territórios onde as vacinas de laboratórios internacionais seriam testadas em humanos, depois de uma polémica envolvendo acusações de racismo sobre dois médicos franceses que o enunciaram, como o Novo Jornal noticiou na altura.

Agora, o Presidente da África do Sul, e rotativamente da UA, Cyril Ramaphosa, anunciou esta iniciativa sublinhando que através da quantidade das compras para, potencialmente, os 54 países do continente, conseguir melhores preços para material médico, testes e, quando surgir, a desejada vacina, para a qual as grandes potências mundiais estão a procurar ganhar terreno com compras por antecipação, fazendo com que nalgumas regiões, vão surgir dificuldades para aceder a elas.

"Esta plataforma vai reduzir o risco e a insegurança de falarem testes, material de biossegurança, garantir preços competitivos e transparência nas aquisições, bem como reduzir os atrasos logísticos, simplificar pagamentos e a qualidade dos produtos adquiridos a fornecedores certificados", explicou Ramaphosa numa intervenção online.

Com esta plataforma, África acaba por realizar um feito que, apesar de útil, tem sido raro, que é unir-se em torno de um objectivo comum que é, neste momento aceder a testes em grande número e a preços baixos, equipamento de biossegurança, mas, no topo da lista, os milhões de vacinas que vão ser necessárias para acabar com a pandemia de forma eficaz e de forma decisiva.

Segundo explicou a União Africana, esta plataforma vai funcionar nos mesmos moldes que as conhecidas Amazon ou Ebay, podendo, no limite, garantir a poupança de milões de dólares aos países africanos, alguns deles entre os mais pobres do mundo.

Recorde-se que a vacina está a ser encarada como a derradeira oportunidade para permitir que o desconfinamento, essencial para salvar a economia mundial possa continuar em todo o mundo sem risco de a Covid-19 voltar a impor o regresso ao fecho das fronteiras.

Apesar de o continente estar entre as regiões menos afectadas pela pandemia, algumas análises inclinam-se para explicar esse facto com o baixo número de testes efectuados, podendo, com esta plataforma, que vai ser gerida pelo CDC-África (Centro para o Controlo de Doenças de África), aumentar de forma substantiva o número de pessoas testadas e levar a uma melhor radiografia da realidade da pandemia no continente.

A Covid-19 chegou à África subssariana em Fevereiro e até ao momento estão registados cerca de 280 mil casos e 7.500 mortos, na sua maioria em países como a África do Sul, Egipto e Argélia, precisamente onde são feitos mais testes.

A média de testes em África é de 1.670 por milhão de pessoas, comparando com, por exemplo, 43 mil nos EUA, 44 mil em Portugal ou 31,5 mil no Reino Unido.

Para a logística da distribuição do material vão ser criados dois hub"s, um em Joanesburgo, África do Sul, e outro em Adis Abeba, Etiópia, sendo que as companhias aéreas SAA e Etiopian vão liderar o transporte das cargas.