Com a divulgação desta garantia, a Moderna/Oxford sobem para a liderança da tabela das vacinas até agora anunciadas com a taxa de eficácia testada, posicionando-se à frente da da Pfizer/BioNtech, que tem 90%, segundo os seus criadores, e da vacina russa, a Sputnik V, cujos criadores garantem que apresenta uma taxa de eficácia de 92 por cento.

Com esta vacina da Moderna/Oxford são já três as vacinas que devem chegar ao mercado em escassas semanas, depois de terem sido recolhidos os resultados preliminares de um ensaio considerado suficiente para que o antidoto para a maior pandemia do século, a da Covid-19, que já fez mais de 54 milhões de doentes em todo o mundo, com perto de 1,4 milhões de mortos a ela associados, sendo ainda e desde há vários meses os EUA o país que lidera a lista de casos e de óbitos.

No entanto, segundo revela a imprensa norte-americana, a vacina da Moderna/Oxford é aquela, das três que até agora avançaram estimativas para a sua eficácia, sendo que em todas elas faltam as análises de organismos independentes, a que deverá chegar ao mercado mais tarde, provavelmente no mês de Abril.

Enquanto a da Pfizer/BioNtech deve estar disponível até Janeiro e já antes do fim do ano para os casos mais urgentes nos EUA, enquanto a Sputnik V tem prazos similares anunciados. Recorde-se que uma vacina chinesa, a Coronavac, já está a ser usada largamente entre os elementos do Exército chinês, e está a ser testada na comunidade no Brasil, com resultados igualmente promissores.

A par destas vacinas ainda em fase de conclusão, o mundo aguada ainda notícias de pelo menos mais 10 vacinas que entraram já nas suas fases finais de criação e outras perto de 50 encontram-se em estágios ligeiramente mais atrás, sem testes iniciados em grande número entre humanos.

Algumas destas vacinas, no entanto, apresentam dificuldades técnicas que podem dificultar fortemente a sua chegada aos países ou mesmo sub-regiões, como algumas africanas e asiáticas.

A da Pfizer é uma delas

A chegada anunciada para breve da vacina da Pfizer, com 90% de eficácia, pode ser apenas uma miragem para uma enorme parte do continente africano. E nem é uma questão de dinheiro...

Os especialistas não têm dúvidas de que a seguir à confirmação de uma vacina, o mundo vai ter de lidar com outros problemas, desde logo garantir a sua distribuição global e o acesso sem limitações aos países mais pobres, o que pode ser feito através de financiamentos da comunidade internacional, mas criar condições técnicas para a sua distribuição, redes especiais de armazenamento refrigeradas, por exemplo, pode ser um desafio impossível de alcançar para, pelo menos, algumas das vacinas em fase final de testes.

E é disso exemplo a vacina anunciada pela Pfizer, em colaboração com a BioNTech, que garante 90% de eficácia... mas a sua fórmula, que inclui complexo material genético, obriga a que esta seja conservada, para garantir a sua qualidade, a temperaturas negativas de 70º, o que, para muitas regiões do planeta, é muito difícil de conseguir, senão impossível.

África é um bom exemplo, como admitiu ao Novo Jornal um técnico de laboratório farmacêutico, onde em muitos países, se é impossível levar peixe fresco ou fruta e vegetais frescos para as áreas mais afastadas dos centros urbanos, muito mais complexo vai ser garantir que uma vacina com este grau de exigência ali chega porque se trata de regiões, normalmente, com temperaturas e humidade muito elevadas e onde as redes de frio e armazéns refrigerados, já para não falar da ausência de fornecimento de energia continuado, são muito raros ou mesmo inexistentes.

Mas este problema espalhar-se-á por vastas regiões da Ásia e da América Latina igualmente, onde escasseiam infra-estruturas e tecnologia que possam garantir uma cadeia de frio com as condições mínimas exigidas para a conservação de uma vacina com estas características, no máximo, 70º negativos.

Isto, porque é facto dado como adquirido que qualquer plano de erradicação da Covid-19 através de uma vacina tem de garantir que não permanecem sem acesso a este medicamento grupos populacionais em locais esconsos do planeta porque isso seria um perigo para o resto da humanidade tendo em conta que se o vírus se mantiver livre em algumas comunidades poderá sofrer mutações que lhe permitam furar as barreiras de imunidade proporcionadas pelas vacinas.

A Organização Mundial de Saúde estima que pelo menos 70% da população mundial tem de ser inoculada com uma vacina para garantir a imunidade global, sendo que a Ásia, com 4,6 mil milhões de pessoas, e África, com mais de 1,2 mil milhões, perfazem bastante mais de metade dos cerca de 7,5 mil milhões de habitantes do Planeta Terra.

Para já, de acordo com o ministro da Saúde das Filipinas, Francisco Duque, país que conta com condições bastante melhores que a maior parte dos países africanos, citado pela Reuters, este país não vai poder usufruir de uma vacina com estas características visto não contar com infra-estruturas de frio adequadas a essas exigências.

Todavia, a Pfizer está consciente destes prolemas e, ainda segundo a Reuters, já fez saber que ao mesmo tempo que desenvolvia a sua vacina, mantinha em curso a preparação de condições que facilitem o acesso à vacina em locais sem condições adequadas, nomeadamente no que diz respeito aos "detalhes logísticos" e ao equipamento de armazenamento tecnologicamente avançado do seu produto para que este chegue aos locais mais reconditos.

O problema da refrigeração vai incidir igualmente nos países mais ricos onde estudos existentes, como é o caso da Coreia do Sul, apontam para que apenas 40% dos seus hospitais estejam equipados com condições de refrigeração adequadas a este tipo de vacina. O mesmo sucede em vários países europeus.

O que não sucede com a vacina da Moderna/Oxford, que é muito menos exigente quanto às condições de armazenamento, podendo ser mantida por 6 meses a 20º negativos, cerca de duas semanas a 0º, ou seja, num frigorífico normal, e mesmo durante cerca de 12 horas a tempraturas ambiente até ser administrada.

Estas características são fundamentais para poder ser utilizada nas regiões do mundo menos favorecidas, sendo disso um bom exemplo o continente africano.