Abordados, nesta segunda-feira pela Angop, algumas famílias no Zaire afirmam que a decisão visa fazer face a uma eventual contaminação comunitária da pandemia que já causou duas mortes em Angola.

Suzana Mankenda, uma das entrevistadas, disse ter decidido passar os 15 dias de estado de emergência na lavra (a cerca de cinco quilómetros do centro da cidade) com três filhos para evitar o contacto físico com as demais pessoas e assim diminuir o risco de contágio.

Indagada no mercado municipal de Mbanza Kongo, para onde se dirigiu para adquirir alguns produtos da cesta básica como sal, açúcar e óleo alimentar, disse que só regressa à cidade após o levantamento da medida.

Questionada sobre as condições de habitação no campo, a interlocutora disse haver casebres, erguidos há bastante tempo e que servem de abrigo para aqueles camponeses que passam mais dias na lavra.

Pedro Samuel, que se refugiou em Lelé (área de cultivo que dista a sensivelmente dez quilómetros da urbe) disse sentir-se à vontade e mais confortado passando os 15 dias de isolamento social fora da agitação urbana.

No campo, segundo afirmou, não há circulação de pessoas e cada camponês está confinado na sua lavra, evitando-se, assim, uma eventual contaminação desta pandemia que já infectou sete pessoas em Angola.

Covid-19 no mundo

A pandemia de covid-19 matou pelo menos 38.768 pessoas em todo o mundo.

Desde que a doença surgiu em Dezembro na China, já foram, segundo dados de hoje, terça-feira, 31 de Março, diagnosticados pelo menos 800.204 casos de infecção pelo novo coronavírus e a pandemia disseminou-se já por 183 países ou territórios, onde já fez mais de 38 mil mortos.

A Itália lidera a lista dos países mais afectados em número de mortes (11.519), seguido da Espanha (8.184 mortes), enquanto a China, o foco inicial do contágio, regista 3.309. Os Estados Unidos registam 164.025 casos e 3.170 mortes.

Em Angola, a contabilidade da pandemia por Covid-19 mantem-se estabilizada em sete, com duas mortes confirmadas em consequência do novo coronavírus.

Sílvia Lutucuta, enquanto porta-voz da comissão interminesterial do Executivo de João Lourenço para lidar com a Covid-19, actualizou em conferência de imprensa os dados relativos à pandemia, durante o balanço diário dos números da doença no País.

As vítimas mortais, anunciou a ministra, são dois cidadãos angolanos: Um homem de 59 anos, regressado no dia 12 a Angola, e outro, de 37 anos, regressado a Angola no dia 13 de Março.

Nesta conferência de imprensa, a ministra avisou que se as medidas incorporadas no estado de emergência que vigora no País desde as 00:00 de 27 deste mês não forem integralmente cumpridas, existe um risco sério de, nos próximos 15 dias, "ocorrer um aumento rápido de casos", porque se actualmente apenas existem casos importados, esta situação pode ser alterada e começar a circular na comunidade.

Sílvia Lutucuta lançou mais um apelo veemente para que as pessoas fiquem em casa porque "o País está em quarentena domiciliar", e "é fundamental começar o isolamento, com todos a cumprir" e, ao mesmo tempo, fazer o rastreio em grande escala dos casos suspeitos de forma a isolá-los para fechar o mais possível a cadeia de transmissão.

Se estas regras não foram cumpridas, garantiu que as medidas em curso vão ser agravadas de forma a garantir que não voltam a ser desrespeitadas.

Em Angola, existe "uma carga importante de doenças infecciosas endémicas", pelo que não se sabe como será o comportamento da covid-19 em conjugação com outros problemas, como a malária, malnutrição ou tuberculose, salientou.

Lutucuta informou ainda que o caso de Angola, tal como outros países africanos, com outras doenças infecciosas em grande número, está a ser estudado para averiguar como se comporta este vírus neste contexto, porque este não é o mesmo em todas as geografias.

Covid-19 em África

Em África, onde a pandemia mostra estar a chegar de forma mais lenta, pelo menos no que é permitido verificar através dos números oficiais, embora algumas organizações internacionais admitam que os números no continente tendem a ser mais elevados que aquilo que mostram os gráficos oficiais, a África do Sul é o país mais afectado, com 1.326 casos e três mortos entre estes, seguindo-se o Egipto, com 656 casos e 41 mortos, e a Argélia, com 584 infecções e 35 mortos, surge a seguir.

Angola, com sete infecções confirmadas, das quais resultaram duas mortes, sendo que um dos pacientes já recuperou totalmente, permanece como um dos países onde, oficialmente, o número de vítimas é mais baixo no continente.

O vírus, o que é e o que fazer, sintomas

Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, com início na China.

Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos, mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.

Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.

O período de incubação médio é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.

A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, ou sabão, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem infectadas.