Há centenas de anos que os diamantes azuis suscitam curiosidade aos cientistas, para além de fazer suar quem deles se aproxima, pelo que valem e pela dificuldade em obter um para a caixa das jóias lá de casa, mas, depois de uma paleta de possibilidades e teses, eis que um estudo dirigido por Evan Smith, do Instituto Americano de Gemologia (GIM), e publicado na Nature, faz alguma luz incidir sobre este mistério que chega da escuridão dos tempos.

Sabe-se há muito que os diamantes são formados a grandes profundidades - a maior parte a cerca de 130 quilómetros da superfície -, mas estes não, estes chegam até nós de profundidades que podem chegar aos 500 quilómetros.

Mas o mistério adensa-se quando o estudo de Evan Smith avança que a coloração azulada resulta da incorporação de um elemento químico que não existe a tais profundidades, porque este se forma a partir da incidência de raios cósmicos e só é encontrado, sendo mesmo muito escasso, em grandes concentrações hídricas, como os oceanos.

É do Boro que se fala, um elemento químico raríssimo tanto na crosta terrestre como no sistema solar, e só é extraído industrialmente através de elementos decompostos, como os boratos, sendo a Turquia o local onde existe com maior concentração e serve, sobretudo, para o fabrico de materiais de alta resistência, tendo uma utilidade semelhante à das fibras de carbono.

Mas como chega o Boro a ter este papel fundamental na formação dos diamantes azuis? Assim: ao fim de dois anos de investigação, a equipa do GIM, liderada por Evan Smith, conseguiu analisar 46 diamantes azuis, um feito só por si importante visto que é muito difícil conseguir encontrar a matéria-prima do estudo, conseguindo chegar à conclusão que é o Boro o responsável pela coloração azulada, fazendo parte da sua composição quando os outros diamantes são carbono quase exclusivamente.

O Boro, como já se disse, apenas existe à superfície terrestre mas estes diamantes são produzidos a grandes profundidades, que podem ir aos 500 km"s, o que significa que terá de haver uma forma deste elemento, o Boro, chegar lá abaixo.

E há, é um processo relativamente natural, denominado subducção, que ocorre quando duas placas tectónicas colidem - muitas vezes dando origem a terramotos e maremotos - e uma se encavalita na outra, empurrando uma vasta quantidade de materiais para as profundezas da Terra, onde, ao longo de milhões de anos, aqui e ali, o Boro foi encontrando o carbono do qual resulta a formação de diamantes, impondo a sua presença através da colocação azul.

Sendo os oceanos os locais do planeta onde mais Boro se forma, e sendo nestes que mais ocorrem colisões de placas tectónicas, então é natural que este metalóide tenha chegado a grandes profundidades e aí seja, ou tenha sido, capturado pelo processo de formação de diamantes, a partir do carbono em ambientes de altíssimas temperaturas e igualmente gigantescas pressões.

Depois, já se sabe... é através dos processos "normais" que os diamantes afloram à superfície da terra, nos denominados kimberlitos, que são as "auto-estradas" que transportam as gemas das entranhas da terra para as minas, por exemplo, de Angola.