Num comunicado publicado na página do Escritório da ONU para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (UNOCHA), a OMS destaca que a poliomielite é uma doença viral, transmitida de pessoa para pessoa, principalmente através da via fecal-oral, pela água ou alimentos contaminados, realçando que os poliovírus derivados de vacinas, nomeadamente o tipo 2 (cVDPV-2), são raros, mas podem afectar populações que vivem em áreas com falta de saneamento básico e baixos níveis de imunização contra a doença.

No mesmo comunicado, a agência das Nações Unidas apela às autoridades sanitárias de Angola para que continuem a dar resposta ao surto de poliomielite, "seguindo as directrizes acordadas internacionalmente, incluindo o reforço da vigilância para detectar rapidamente outros casos".

Para o sucesso desse esforço, diz a OMS, têm de estar envolvidas as autoridades governamentais a todos os níveis, a sociedade civil e a população em geral, de modo a assegurar a imunização de todas as crianças menores de cinco anos.

O representante da OMS em Angola, Hernando Agudelo, citado no comunicado, sublinhou a necessidade de sensibilização das famílias e comunidades para a necessidade de se vacinar todas as crianças, reforçando a indispensabilidade de vigilância das doenças e o sistema de vacinação de rotina para detectar, prevenir e responder rapidamente a qualquer transmissão da doença.

"Tendo em conta os desafios que Angola enfrenta para garantir a imunização de todas as crianças, temos de permanecer resilientes em nossos esforços e vigilância epidemiológica, para que nenhuma criança seja deixada para trás com o risco de contrair paralisia", afirmou.

No comunicado é explicado que, no que toca à contaminação pelo vírus atenuado pela vacina oral da poliomielite excretado nas fezes, se ocorrer a sua circulação prolongada em muitas crianças, devido à baixa cobertura de vacinação contra a pólio, o vírus em cada replicação sofre mutações.

"Os vírus mutantes (que sofrem alterações) são transmitidos às populações susceptíveis (crianças não vacinadas), levando ao surgimento do denominado poliovírus derivado de vacina, que pode circular nas comunidades com baixa cobertura vacinal, causando eventualmente paralisia", lê-se no comunicado.

A experiência mundial indica, salienta a OMS no documento, que a única maneira de se interromper a circulação deste vírus derivado da vacina é através da implementação de duas ou mais rondas de campanhas de vacinação, utilizando a vacina pólio oral do mesmo serotipo que o vírus circulante.

"Em Angola, foi confirmado laboratorialmente a circulação do vírus tipo 2 e está a ser utilizada a vacina pólio oral monovalente tipo 2. O poliovírus derivado da vacina não é um efeito adverso pós-vacinação, nem depende da qualidade da vacina, mas sim um evento que acontece quando há uma baixa cobertura vacinal contra a poliomielite na comunidade", lê-se ainda no comunicado.

Os países que registam surtos de poliovírus de vacinas em África são Angola, Benim, Camarões, República Centro-Africana, Chade, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Etiópia, Gana, Níger, Nigéria, Togo e Zâmbia.

"Estes países enfrentam desafios para impedir a circulação do vírus que incluem a fraca cobertura de vacinação de rotina, a recusa de vacinas, o difícil acesso a serviços de saúde. Estes países precisam, portanto, de assegurar campanhas de vacinação de boa qualidade para garantir a imunização de todas as crianças", alerta a OMS no documento.