É conhecido por quem vive ou frequenta as cercanias dos bairros Palanca, Golf, Capolo ou a zona da F.T.U. O hospital deu nome a uma zona e é ponto de referência para quem quer seguir para sul de Luanda, tendo como recurso a via que passa pelo bairro Popular e que liga os Congolenses ao município de Viana.

Até finais da década de 1990, uma estrada pouco recomendável passava em frente àquela unidade hospitalar, vocacionada para o tratamento de pessoas que padecem de tuberculose. Este era um dos motivos da fraca movimentação de viaturas e pessoas. Ninguém queria estar exposto à doença. A esta razão, adiciona-se o facto de os bairros que ali existem registarem, na altura, um crescimento lento. Quase a passo de caracol.

Com o surgimento de uma nova estrada, há aproximadamente seis anos, a realidade inverteu-se. A explosão deu-se ainda graças a um ramal asfáltico, completamente remodelado, que divide o bairro Palanca em dois hemisférios, ponto de ligação entre o bairro Popular e a parte frontal do hospital. O surgimento de instituições bancárias, escolas superiores, como as universidades Católica e Técnica de Angola, as futuras instalações da Direcção Nacional de Viação e Trânsito, com obras já concluídas há mais de um ano, são a prova do crescimento verificado, conforme diz um cidadão natural da vizinha República Democrática do Congo, que decidiu emigrar para Luanda no início da década de 80 do século XX.

O CENÁRIO DE DENTRO PARA FORA

Tráfego congestionado durante quase todo o dia e paragens de táxis nos dois sentidos criam o alvoroço necessário para que naquele espaço se produza um som ensurdecedor. Ao movimento de viaturas, juntam-se os gritos dos cobradores que no interior dos candongueiros convidam os passageiros a lotarem rapidamente as viaturas, que muitas vezes estacionam desordenadamente.

Mais para dentro da estrada reabilitada do Palanca, uma moldura humana circula nas faixas de rodagem, sem receio de atropelamento. O lugar foi transformado num ponto de venda de vários produtos, designadamente alimentares e vestuário.

Os agentes reguladores de trânsito têm ali montado um posto permanente, para tentar colocar a ordem, muitas vezes desrespeitada pelos taxistas. Antes esta actividade de fiscalização e ordem era feita pelos efectivos da Brigada Especial de Trânsito (BET).

Há umas semanas que estes foram substituídos pelos agentes da Unidade de Trânsito. Ainda assim o cenário em nada mudou. A agitação permanece e anda de braço dado com a anarquia. Um muro onde estão encostadas senhoras a vender vários produtos isola toda esta gente de um espaço vasto, invadido por um capim fustigado pelo sol e que, a cada dia, ganha um tom cada vez mais acastanhado. No centro, surge um edifício com 34 anos.

Para lá dirigem-se vários pacientes, cada um com o seu diagnóstico, na ânsia de se verem livres da doença. Já no interior daquele muro rectangular, que divide o hospital do bairro, mais ao fundo, em direcção à parede lateral esquerda do edifício, um arvoredo imenso ocupa a zona. Para espanto de alguns, a existência de uma oficina para reparação de todo o tipo de viaturas está ali instalada.

Os mecânicos trabalham naquele local há alguns anos, aproveitando um espaço que, segundo eles, foi ocupado com a autorização dos responsáveis. Uma coabitação inusitada e pouco compreensível. Dando uma volta para o lado oposto, em direcção ao muro que está ligado à entrada principal, localiza- se a morgue.

A sua apresentação afigura-se melhor do que a estrutura antiga, que ainda está ali, mas já foi votada ao abandono, por não apresentar condições para receber cadáveres. No quadro do programa de reabilitação apresentado pelo Ministério da Saúde, o espaço destinado à conservação de cadáveres comporta 12 gavetas para 24 corpos. São os sinais da reabilitação que há muito clama aquele hospital.

PERIGO À ESPREITA

Há pouco mais de um ano, sem muito sucesso na recolha de dados, o Novo Jornal apurou que estão a ser efectuadas obras de reabilitação no edifício que sustenta o único centro de atendimento a doentes com tuberculose. O prédio, paulatinamente, está a ser reparado, mas os focos de doença à volta do edifício são visíveis.

Desde a sucata acumulada, existente no interior da vedação, que priva o hospital de condições de saneamento básico apropriadas. Os doentes coabitam com os resíduos que são produzidos na operação de reabilitação, situação que os utentes vêm lamentando, mas sem grande sucesso, principalmente os internos, visto que é ali onde buscam a esperança de uma rápida recuperação.

Além de um gerador de alta potência, o barulho das máquinas em algumas horas do dia é o elemento que rasga o precioso silêncio de que carecem os doentes. A água potável não emerge até ao último andar, situação que vem sendo falada há bastante tempo quando o assunto se refere às condições do hospital sanatório.

A situação, além de preocupante, limita o acesso dos doentes internados ao consumo de água. A acrescentar está ainda o facto de alguns espaços do hospital serem usados como balneário público, situação facilitada pelo capim que ali abunda.

Segurança precária Segundo informações recolhidas no local, muito já se tentou fazer para melhorar as condições do espaço à volta do edificio, mas a falta de meios coloca os responsáveis impotentes quanto a essa intenção. A situação torna-se mais complicada quando surge a época das chuvas. Além do capim alto, que serve de abrigo a vários animais, a terra batida tranforma-se num solo argiloso que dificulta a locomoção das viaturas.

Para assegurar a segurança no interior do muro que cerca o edifício, uma empresa de segurança privada está ali destacada para impedir situações anormais que possam acontecer naquele perímetro. A vedação é baixa e a sua altura é, por si, um perigo.

Além de não acautelar a privacidade necessária aos utentes e trabalhadores, facilita a sua transposição e não permite uma visão ampla dos operativos que a cada 48 horas trabalham sob o regime de renda, à semelhança de outras empresas do ramo. Como prova disso, recentemente, cerca de 60 vândalos, empunhando armas brancas, invadiram, nas primeiras horas do dia 15 de Setembro, aquele quintal, na tentativa de fuga a uma perseguição. Oito deles não pouparam a morgue do Hospital. Valeu a intervenção da Polícia Nacional que deu conta dos evasores.