A higienização das mãos para prevenir infecções por vírus e bactérias nunca foi tão valorizada no mundo, como se vê nos últimos tempos, devido ao aparecimento "repentino" da Covid-19.

Em contrapartida, o especialista em Saúde Pública Domingos Cristóvão aconselha as pessoas a desinfectarem as mãos com água e sabão em detrimento do uso frequente do álcool em gel ou etílico, a fim de se evitarem implicações na pele nesta fase da pandemia.

Em declarações ao Novo Jornal, o médico referiu que a lavagem das mãos com água e sabão pode ser feita vezes sem conta, enquanto a utilização constante do álcool em gel pode criar dermatite (inchaço na pele), molestar as glândulas sudoríparas (responsável pela produção do suor) e fazer que haja uma entrada "sem controlo das bactérias" para o interior da pele dos membros superiores.

"O processo ideal para a lavagem das mãos é a utilização da água e sabão, pois o álcool em gel, quando usado de forma frequente, é capaz de eliminar as defesas da pele e desfigurá-la, causando implicações que podem ser perigosas à saúde de um indivíduo", esclareceu o especialista em Saúde Pública, acrescentando que "além da vantagem do uso da água e sabão, o produto em si, do ponto de vista económico, acaba por ser mais barato".

Ainda sobre o assunto, Domingos Cristóvão afirmou que o uso do álcool em gel pode ser também mais prejudicial às crianças, uma vez que, segundo o especialista, a pele das mãos dos menores é delicada e vulnerável a complicações.

"O uso do álcool em gel por crianças não é aconselhável, uma vez que elas não têm uma protecção adequada, assim como não têm muita melanina (responsável por colorir a pele e pelos) que as protege dos raios solares em relação aos adultos", assegurou o especialista.

Covid-19 promete perpetuar prática de lavagem das mãos

Apesar de haver forte imposição da pandemia sobre a lavagem das mãos, milhares de pessoas ainda estão fora do alcance desta prática. Estudos recentes do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) descrevem que pelo menos três bilhões de pessoas no mundo não têm acesso à água e sabão para lavar as mãos em casa, instalações de saúde, escolas ou noutros lugares.

Neste sentido, a organização revelou que o acto da lavagem das mãos, utilizando sabão, sai mais "barato" e é ainda "eficaz" para a protecção do coronavírus. Além disso, refere o estudo, reduz a probabilidade de infecção em 36%, assim como a incidência da diarreia em cerca de 40%, e as infecções respiratórias até perto de 25% e pode contribuir, de maneira significativa, para a redução da mortalidade e da desnutrição infanto-juvenil.

Avançou, igualmente, que 1,1 milhões de crianças menores de cinco anos morrem todos os anos, na ordem de 3000 por dia, de diarreia, que, tal como a gripe, infecções estomacais, conjuntivite, dores de garganta e as infecções hospitalares, pode ser prevenida com o simples gesto de lavar as mãos.

Em Angola, de acordo com os dados do IBEP (Inquérito de Bem Estar da População 2009) e do IIMS (Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde 2015-2016), consta-se que apenas 36% da população praticam a lavagem das mãos em momentos críticos. Segundo ainda as estatísticas nacionais, a cada ano, as doenças diarreicas e insuficiências respiratórias são responsáveis por 16 e 18%, respectivamente, de mortes de crianças menores de cinco anos.

No País, com o surgimento da pandemia, verifica-se uma grande necessidade de as pessoas adoptarem acções imediatas na higienização das mãos em todos os ambientes públicos e privados, para a prevenção e controlo da doença, que já infectou mais de seis mil pessoas, segundo dados oficiais.

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