Essa tem sido, de resto, a tese do advogado de defesa oficioso do antigo presidente do Fundo Soberano de Angola, António Simão, que disse ao tribunal que o seu constituinte apenas serviu de intermediário entre o Executivo e os promotores, atribuindo a condução do processo a Valter Filipe.

O causídico defende que "Zenu" dos Santos esteve sempre à margem das decisões respeitantes ao processo que culminou na transferência de 500 milhões de dólares para o Credit Suisse, em Londres.


António Simão reconhece que o filho do antigo Presidente esteve presente em várias reuniões, que tinha uma relação de amizade com Jorge Gaudens (que está também a ser julgado e foi ouvido ontem), mas rejeita a sua participação numa teia internacional de branqueamento de capitais, que visava, alegadamente, extorquir o Estado angolano.

Esta manhã, Zenu voltou a afirmar que nunca foi sócio ou representante das empresas a quem o BNA transferiu fundos e pagamentos suspeitos.

Recorde-se que José Filomeno dos Santos "Zenu", e o ex-Governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Valter Filipe, começaram a ser julgados na segunda-feira, 09, no Tribunal Supremo, em Luanda, acusados de branqueamento de capitais e peculato, no âmbito do conhecido caso dos 500 milhões USD transferidos ilegalmente do BNA para o estrangeiro.

A José Filomeno dos Santos e a Valter Filipe juntam-se ainda, na condição de arguidos, Jorge Gaudens e António Samalia Bule.

Zenu aparece neste julgamento pronunciado pelos crimes de peculato e branqueamento de capitais no seguimento da transferência dos 500 milhões USD para um banco em Londres, Reino Unido, em Setembro de 2017, cuja finalidade era criar um fundo estratégico de 35 mil milhões USD que deveria viabilizar projectos estruturantes para a economia nacional, entre outras valias, nomeadamente a disponibilização de uma quantia avultada em moeda estrangeira - cerca de 300 milhões USD por semana - para responder às necessidades cambiais do País.

José Filomeno dos Santos, Jean-Claude Bastos de Morais, presidente da Quantum Global, uma empresa suíça que estava a gerir com Zenu o FDSEA, e Valter Filipe, estiveram cerca de um ano, até Março deste ano, em prisão preventiva.

O empresário Bastos de Morais, com dupla nacionalidade, suíça e angolana, após ter chegado a acordo com o FDSEA, deixou o país, logo após ter sido libertado, porque esse mesmo acordo consubstanciava a retirada de todas as queixas em tribunal contra si.