O percurso partidário de José Eduardo dos Santos iniciou-se na clandestinidade, amadureceu na guerrilha e expandiu-se a partir de uma dupla formação na antiga União Soviética. Mas, mais do que os pergaminhos políticos, terá sido a personalidade discreta a catapultar-lhe para a Presidência da República.

A partir do encontro literário com os ideais nacionalistas, com destaque para os que extraía da obra de António Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos despontou, ainda na pele de estudante do Liceu Salvador Correia, para a luta anti-colonialista.

Já aos 19 anos juntou-se à frente de libertação na clandestinidade, integrando um grupo de sete jovens enviados pelo MPLA para o velho Congo-Léopoldville, hoje República Democrática do Congo.

Um ano mais tarde, José Eduardo dos Santos assumia a vice-presidência da JMPLA, organização juvenil do partido que ajudou a fundar, tornando-se igualmente o primeiro representante do MPLA na República do Congo-Brazzaville.
"Com a intensificação da luta contra o colonialismo português, Dos Santos integra a ala guerrilheira do MPLA, o EPLA, em 1962. Em 1963, Novembro, beneficiando de uma bolsa de estudo, parte para a então União Soviética, ingressando o Instituto de Petróleos e Gás de Bakú, onde se licenciou em Engenharia de Petróleos, em Junho de 1969", lê-se na biografia oficial.

A passagem pela antiga União Soviética - pessoalmente traduzida no seu primeiro casamento, com Tatiana Kukanova - incluiu também um curso militar de telecomunicações, competências que lhe permitiram exercer as funções de Operador-Chefe do Centro principal de comunicações da Frente-Norte e de responsável adjunto na segunda região Político-Militar (em Cabinda).

Antes de assumir os cargos de Presidente da República Popular de Angola, presidente do MPLA-Partido do Trabalho, e comandante em chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, há quase 38 anos, José Eduardo exerceu ainda funções como secretário para a Educação, Cultura e Desportos do Comité Central, secretário para a Reconstrução Nacional e secretário para o Desenvolvimento Económico e Planeamento.

Para trás ficaram também os cargos de Ministro dos Negócios Estrangeiros (1975), vice-primeiro-ministro, ministro do Planeamento e secretário da Comissão Nacional do Planeamento (1978).

Apesar das amplas credenciais políticas, partidárias e militares, terá sido a personalidade discreta a catapultar-lhe para a Presidência da República.

"Os outros potenciais candidatos à sucessão de Agostinho Neto possuíam perfis polémicos, ou eram demasiado previsíveis", assinalava, em 2011 Justino Pinto de Andrade, num texto sobre as incógnitas que se sucederam à morte do "Pai da Nação"

"Começou a falar-se insistentemente nas diversas hipóteses para ocupar o lugar deixado vago por Neto: Lúcio Lara? Ambrósio Lukoki? Pascoal Luvualu? José Eduardo dos Santos?" recuou o ex-militante do MPLA, hoje dirigente do Bloco Democrático.

"José Eduardo dos Santos era demasiado enigmático. Pouco se lhe ouvia falar", recordou o político, defendendo que esse carácter foi decisivo para a sua ascensão à Presidência.

"Por ser demasiado enigmático é que, naquela circunstância, quase todos os elementos da cúpula do MPLA apontaram para JES. Simultaneamente, todos pensaram que facilmente o poderiam influenciar", sublinhou.