Abrahão Gourgel está em Macau a chefiar a delegação angolana à 5ª Conferência do Fórum Macau, mecanismo criado por iniciativa de Pequim em 2003 e reconhecido hoje como um dos elementos estruturantes da constante intensificação do relacionamento económico entre a China e os países lusófonos, à excepção de São Tomé e Príncipe, que mantém laços diplomáticos com Taiwan.
Citado pela Lusa, o governante angolano defendeu um avanço na intensidade do relacionamento entre o gigante asiático e os países que falam português: "Reconhecemos a necessidade de adotar ações para a divulgação da iniciativa 'uma plataforma, três centros' no seio da comunidade empresarial dos países de língua portuguesa a fim de incrementar o nível de cooperação comercial entre a China e os países que falam português".
E recorreu ao exemplo de Angola, que, sem novidade, é o país que mantém uma« dos mais volumosos relacionamentos com a Chine, sendo a parceria estratégica existente entre Luanda e Pequim construída com os muitos milhares de milhões de dólares disponibilizados para a reconstrução do país logo após o fim do conflito militar, em 2002.
Apesar deste histórico, Gourgel sublinhou que ainda hoje a China está envolvida em vários projectos importantes para o desenvolvimento angolano e, frisou, existem "centenas de outros já identificados para serem implementados nos próximos anos", o que, sem surpresa, faz de Angola um dos mais importantes parceiros de Pequim em África, superado apenas pela África do Sul.
Atendendo à abrangência da intervenção chinesa em Angola, que, como reconhece o ministro, está presente em todas as áreas e sectores, o envolvimento dos privados nesta parceria é o próximo passo e, para isso, como lembrou Abrahão Gourgel, os dois países realizam já em Novembro um fórum empresarial em Luanda, estando os restantes países lusófonos convidados desde já.
Todavia, em declarações à Angop, o responsável pela delegação angolana a este importante fórum de Macau, local escolhido pelo passado que tem , enquanto território administrado durante séculos por Portugal, apontou a necessidade de Pequim e Luanda encurtarem o tempo para implementar os vários acordos de cooperação já rubricados.
A começar pela conclusão do acordo de protecção reciproca de investimentos, cuja fase decisiva e final está muito próxima no âmbito das conversações em curso, lembrou ao falar num encontro de aproximadamente 40 minutos, com a vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, na segunda-feira.
Abrahão Gourgel tocou ainda no ponto mais quente da realidade económica actual em Angola, que é a diversificação da sua petróleo-dependente economia, contando, para isso, e mais uma vez, com o0 apoio da Chine, país que, tal como Angola, tem visto a sua economia a arrefecer anos após não, depois da incandescência das últimas décadas.
Mas se Angola reconhece a importância da China na sua estrutura económica, a China também não ignora que Angola é um dos mais importantes parceiros de Pequim em África, sendo, entre outras vertentes, um dos maiores exportadores de crude para a China.
Isso mesmo reconheceu Gao Yan, lembrando, nesta conversa com Gourgel, acompanhada pela Angop, que em 2010 os dois estados estabeleceram um acordo de parceria e em 2015 estabeleceram um mecanismo de orientação das parcerias entre as duas partes.
Além do ministro da Economia, integram a delegação angolana a quinta conferência ministerial do fórum Macau, a secretaria Estado para Cooperação, Ângela Bragança, o embaixador de Angola na China, Garcia, Bires, o director do Mirex para Ásia e Oceânia, Samuel da Cunha, o administrador da Apiex, Carlos Padre, o director-geral da UTIP, Norberto Garcia, entre outras individualidades.
Entretanto... créditos especiais
A China, de acordo com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, citado pela Lusa, vai conceder empréstimos com condições especiais no valor de cerca de 280 milhões de dólares a quatro países africanos de língua portuguesa e Timor-Leste até 2019.
Estes créditos destinam-se a "reforçar ainda mais a cooperação na área da construção de infra-estruturas", mas também a "promover a conexão industrial" e a "capacidade produtiva", segundo o Governo chinês.
Os créditos preferenciais a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo-Verde para os próximos três anos fazem parte de 18 medidas para os países lusófonos anunciadas hoje pela China, na abertura da quinta Conferência Ministerial do Fórum para a cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau.
Entre aquelas 18 medidas estão ainda donativos de cerca de 267 milhões de euros, no mesmo período, aos países lusófonos de África e a Timor-Leste para "apoiar projetos" nas áreas da agricultura, facilitação do comércio e investimento, prevenção e combate à malária, e investigação em medicina tradicional.
A China vai ainda perdoar aos mesmos países, até 2019, dívidas já vencidas de empréstimos sem juros num valor equivalente 70 milhões de euros.