João Zola é um pequeno angariador de ouro numa das ruas do mercado dos Congoleses. Segundo ele, apenas compra o metal já danificado a quem o possua e, de seguida, é concertado para posterior revenda aos ourives localizados nos distritos urbanos do Palanca e do Kikolo, nos municípios do Kilamba Kiaxi e Cazenga, respectivamente.
Trata-se de fios, anéis e pulseiras de ouro já usados. Zola conta que diariamente, devido à actual conjuntura, somente consegue adquirir um ou outro fio de ouro. Lembra, também, que já houve tempos em que comprava quantidades consideráveis, mas, actualmente, o "negócio regrediu, sobremaneira".
"Devido às dificuldades do dia-a-dia, algumas mamãs vendem ouro para resolver problemas financeiros pontuais. Compramos, sobretudo, fios e anéis danificados, que levo ao meu patrão. Ele repara-os e depois os revende", relata o operador informal João Zola.
Este angariador revela ter iniciado esse tipo de negócio na década de 1980, na RDC, onde o comércio era próspero, sendo que o maior consumidor era a classe artística e média/alta.
Ao mudar-se para a Angola, sua alegada terra natal, optou pela continuidade do negócio, já menos pujante, mais centrado na venda do que na compra, uma vez que os mercados do S. Paulo e do Prenda se tornaram autênticas praças de venda de ouro de origem portuguesa.
Matadi Afonso, também comprador, diz que nos dias que correm consegue, semanalmente, entre 70 e 100 mil Kz, o que o leva a classificar a actividade comercial informal como ainda pouco lucrativa e perigosa, pois o acto tem atraído delinquentes que procuram surripiar as escassas quantidades de ouro adquiridas ao longo do dia.
Em contrapartida, o negociante Matadi Afonso promete continuar nesta prática, até que, a breve trecho, inaugure a sua própria loja que espera oficializar, para comprar e vender o ouro recuperado nas ruas e, quiçá, estender o negócio para as outras províncias.
"Ouro estou a comprar. Estou a comprar ouro". Era este o sermão de Matadi e outros compradores que o NJ pode avistar nas ruas de Luanda. S. Paulo: o «berço do ouro»
As vendas de ouro como anéis, pulseiras e brincos, em Luanda, encontram no mercado do S. Paulo a principal fonte de aquisição, num circuito mercantil sob domínio de mulheres oriundas, sobretudo, do arquipélago de Cabo Verde.
Ali encontram-se numerosas bancadas com ouro exposto. Os preços nem por isso são acessíveis. Para justificar os custos, as vendedoras refugiam-se na qualidade, outras ainda afirmam ser um produto que não se deteriora e, cada vez mais, serve de moeda de troca em situação de carência.
(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)