Apesar de as autoridades norte-americanas, primeiro a Secretária do Tesouro, Janet Yellen, que assinou um documento com os reguladores, incluindo a Reserva Federal, depois o próprio Presidente Joe Biden, terem vindo a público garantir a solidez do sistema financeiro dos EUA, a bola de neve não foi estancada, embora, para já, seja uma muito pequena bola de neve, pelo menos quando comparada com a que se seguiu à queda do Lehaman Brothers, em 2008.

Com efeito, após o colapso do Silicon Valley Bank (SVB), seguiram-se mais dois, o Silvergate e o Signature, ambos com ligação umbilical ao universo da criptomoedas e, por isso, menos importantes que o primeiro, que desde 1983, ano da sua criação, se posicionou como um dos mais relevantes no apoio às startups.

Apesar dessa ligação a um sector fundamental da economia, não resistiu às expressivas subidas das taxas de juro pela Reserva Federal e os seus clientes começaram a ter dificuldades em pagar as dívidas e isso levou a um avolumar de dificuldades que acabaram por ser conhecidas, desaguando numa corrida aos levantamentos na semana passada, sendo o desfecho o encerramento compulsivo pelas autoridades após terem voado dos seus cofres mais de 42 mil milhões USD.

Com isso, as bolsas norte-americanas, europeias e asiáticas observaram perdas muito significativas, com, por exemplo, o S&P500, que agrega as 500 maiores empresas dos EUA, perdeu tudo o que tinha acumulado em quase duas semanas numa único dia.

E o sector bancário foi o mais afectado, com perdas historicamente relevantes tanto nos EUA como na Europa, estando actualmente em análise de proximidade pela Adminisração norte-americana o ataque aos depósitos dos pequenos bancos regionais, podendo isso levar a um safanão na maior economia do mundo impossível de controlar se a desconfiança alastrar a este nicho bancário transversalmente a todo o país.

O SVB, recorde-se, era "apenas" o 16º maior banco dos EUA, apesar disso valendo em activos, perto de 200 mil milhões USD, mais de 30 vezes o maior banco nesse segmento angolano, o BAI, mas não deixava de ser um banco regional, com sede na Califórnia e direccionado para apoiar as ideias de negócios originárias do "hub" das novas tecnologias Silicon Valley.

Ou seja, é este receio ainda não ultrapassado de contágio ao resto da economia que está hoje, terça-feira, 14, a esvaziar valor ao barril, com uma perda superior a 5 USD desde que se soube do colapso do SVB.

Perto das 10:30, hora de Luanda, o barril estava a valer 79,05 USD, menos 2,20 % que na segunda-feira, à hora do fecho, quando o mercado de Londres já tinha encerrado a perder mais de 2%.

Estes dados demonstram que o medo do contágio não está totalmente afastado e alguns analistas vieram mesmo lembrar que noutras ocasiões, as garantias dadas por responsáveis do Governo ou dos reguladores foram terraplanadas pela realidade imediata, temendo-se que isso possa agora voltar a suceder.

E um dos indícios de que tal possa agora repetir-se é que os investidores mais importantes, especialmente os fundos de risco, estão a sair dos mercados bolsistas e petrolíferos para se refugiarem em activos mais seguros.

Mas, até ver, para Angola, com o barril a passar em baixo a fasquia dos 80 USD, este é um momento preocupante porque, além da diminuição continuada da produção nacional, soma-se agora uma perda acentuada de valor do barril.

E, como se sabe, Angola ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.