No Domingo, o Governo da Suíça, que ainda disponibilizou 100 mil milhões USD p+ara os dois bancos, anunciou que o gigante UBS, o maior do país e o maior "private bank" do mundo, comprou o Credit Suisse, cuja crise de anos se agudizou vertiginosamente na última semana depois da queda dos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank, e os mercados, petrolíferos e bolsistas, deveriam, assim, acalmar da turbulência em que estavam... mas não.

Com efeito, perto das 09:30 desta segunda-feira, 20, hora de Luanda, o barril de Brent estava a valer 70,60 USD, menos 3,29% que no fecho de sexta-feira, uma queda que contraria fortemente as expectativas criadas no fim-de-semana, onde os bancos centrais, seja nos EUA, onde este problema começou, tal como a crise de 2008, na Suíça e o Banco Central Europeu, todos em uníssono a procurar aliviar o céu das nuvens negras que se foram aglomerando.

Com efeito, os valores agora vistos nos gráficos do Brent são os mais baixos em 15 meses e este cenário rugoso é resultado da desconfiança que persiste no sector bancário mundial, onde ainda se mantém a semente que pode germinar mais uma crise planetária, cujas consequências podem ser mais severas ainda, porque emergiria de um contexto de guerra na Ucrânia, cujas ondas de choque são planetárias, que se seguiu à crise pandémica da Covid-19.

A Reuters, como as outras agências especializadas, aponta para o medo de que esta situação no sector bancário global leve a aprofundamento da recessão e que isso encaminhe o mundo para uma quebra no consumo de energia, o que está a levar os mercados a reagir em forte baixa, a que se soma o receio de que a Reserva Federal norte-america volte a subir as taxas de juro directoras em pelo menos 0,25%, podendo ser ainda maiores, até aos 0,50%.

Isto, quando é certo que foram as subidas abruptas das taxas de juro, com o objectivo de combater a inflação, que colocaram uma boa parte da banca norte-americana à beira de um ataque de nervos, porque à medida que foram subindo, caiam na mesma medida o valor dos seus principais activos.

Depois de a crise norte-americana, que ainda pode, segundo alguns analistas, crescer de forma rugosa, porque há centenas de pequenos bancos com activos inferiores a 250 mil milhões USD em situação muito parecida à que estava o Silicon Valley Bank antes do colapso, ter migrado para a Europa, aterrando no Credit Suisse, esta crise ganhou dimensões perigosas e parece estar a resistir a todos os antídotos injectados pelos governos e bancos centrais.

Provavelmente, esta crise só poderá agora ser estancada com massivas injecções de capital público nos bancos mais fragilizados, mas a situação poderá já estar demasiado entranhada para que pelo menos um forte abanão, mesmo que se evite uma crise catastrófica semelhante à de 2008, não se venha a sentir nos próximos dias ou semanas.

Os analistas entendem ainda que o facto de o Banco Central Europeu ter ignorado a situação na banca e mantido, na passada semana, a sua linha de actuação face à inflação, com mais um aumento de 0.50% nas taxas de juro, que já estão nos 3,50%, dando como sinal aos mercados que a situação está controlada e que esta mini-crise não tem pernas para andar, deveria ter ajudado a afastar o pânico... Agora parece que tal não está a suceder.

E em Angola...

... com o barril a valer pouco mais de 70 USD, o Governo angolano volta a estar encostado à parede no que diz respeito a uma possível revisão do OGE 2023.

Este cenário é especialmente importante para Angola porque ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.