Usualmente, a verdadeira sondagem à Administração no poder são as eleições intercalares a meio do mandato de quatro anos, abrangendo vários estados mas, essencialmente, as duas câmaras do Congresso, o Senado e Representantes.

Mas, com a forma como Donald Trump conduziu a sua campanha para as eleições de Novembro de 2024, atacando a política económica do anterior Presidente, o democrata Joe Biden, estas eleições, normalmente secundarizadas, estão a ser fortemente mediatizadas, como raramente aconteceu antes, como um teste ao Presidente republicano.

E não parece estar a correr bem. Porque Trump prometeu abandonar a política externa para concentrar esforços internamente, fazendo a "América Great Again" a partir do investimento interno na indústria norte-americana afastando o país das guerras e da sua presença militar no mundo, atacando antes a "invasão" de migrantes ilegais.

As sondagens apenas confirmam que os norte-americanos, acima de 60%, de acordo com várias sondagens, incluindo uma recente da CNN International, repudiam as opções políticas da Administração Trump, especialmente a forma como não cumpriu no campo económico.

As votações nos quatros estados arrancaram esta terça-feira, 04, e Trump está no olho do furacão pela primeira vez desde que assumiu o poder neste segundo mandato, sendo particularmente sensível, segundo vários analistas, a forma como não se conseguiu desenvencilhar dos conflitos que prometera abandonar na Ucrânia e no Médio Oriente.

Mas é nos números dramáticos do desemprego e da inflação que Trump parece estar atolado, sob risco de perder todas as eleições em curso, com especial destaque para a câmara de Nova Iorque onde Zohran Mamdani (na foto), o candidato democrata surge como favorito.

A possibilidade de uma vitória democrata está a deixar Donald Trump furioso, que vê com escassas possibilidades de vitória o seu candidato, o republicano Curtis Sliwa e o independente Andrew Cuomo, que vem da área dos democratas e procura acima de tudo impedir a vitória do "comunista" Mamdani como o inquilino da Casa Branca lhe chama.

Perante o periclitante cenário, Trump procurou minimizar a derrocada com um apoio de última hora ao democrata Cuomo, que, apesar de difícil, ainda assim tem melhores sondagens que o republicano Sliwa.

A raiva de Trump para com Mamdani é de tal ordem que ameaçou mesmo cortar o financiamento federal a Nova Iorque "se o comunista ganhar".

"Se o candidato comunista Zohran Mamdani ganhar as eleições na Câmara de Nova Iorque, é muito improvável que eu aperte os fundos federais até ao mínimo exigido,", escreveu Trump na sua rede social, a Truth Social.

Outra frente de batalha que assume especial relevância neste contexto em que Trump surge chamuscado pelas sondagens, que o colocam com um nível de reprovação popular superior a Joe Biden, é na Califórnia, onde os media norte-americanos apontam como forte possibilidade vários distritos passarem para as mãos dos democratas.

E na Virgínia e em Nova Jersey as votações são para os governos estaduais e legislativas, estando Trump igualmente em maus lençóis e a serem vistas como uma oportunidades dos eleitores para mostrarem o forte descontentamento com o Presidente republicano, porque os analistas coincidem genericamente na ideia de que os eleitores vão votar essencialmente nas políticas federais.

A alfinetar o potencial eleitoral republicano está ainda o processo pantanoso da aprovação do orçamento federal no Congresso que levou milhares de funcionários públicos para o despedimento e sem salários, sendo que este é o mais longo "shutdown" em muitos anos.

Isto, porque sem salários, uma boa fatia do eleitorado republicano está já obrigado a recorrer as filas da ajuda alimentar aos pobres das igrejas e organizações cívicas, porque a ajuda da segurança social federal também ela fechou portas devido ao "shutdown" orçamental.

Alguns analistas admitem mesmo que depois deste período eleitoral Donald Trump pode ser forçado a mudar radicalmente a agulha da sua política económica, respondendo aos anseios populares, cumprindo finalmente a promessa de abandonar as questões externas, eliminando milhares de postos militares globalmente.