A atracção do investimento estrangeiro, a par do turismo, tem, de resto, dominado os vários discursos do Chefe de Estado, sobretudo nas suas constantes viagens para o exterior, nos quais João Lourenço tem acenado aos turistas estrangeiros para que visitem Angola.
Ele acredita que a aposta em instalações aeroportuárias modernas e eficientes poderá alterar substancialmente o actual quadro do turismo no País, quando, na realidade, o turismo não se restringe a isso.
Apesar de Angola reunir enormes potencialidades turísticas, belezas naturais, quedas de águas, belas praias, uma excelente fauna e exuberante flora, o turismo requer, acima de tudo, boas estradas que permitam a mobilidade dos visitantes.
As quedas de Kalandula, na província de Malanje, por exemplo, pelo seu enorme potencial turístico, poderia seria uma excelente alternativa às cataratas Victória Falls sobre o rio Zambeze, que levam anualmente milhares e milhares de turistas ao Zimbabwe e à Zâmbia.
Para além das quedas de Kalandula, Malanje poderia ainda proporcionar outras belezas naturais como as pedras de Pungo-a-Dongo e a Palanca Negra Gigante, uma espécie de antílopes ímpar no Mundo.
No entanto, as estradas principais e as vias secundárias e terceiras que deveriam servir de elo entre as diversas cidades, municípios e demais localidades do País para a promoção do turismo, incluindo o rural, constituem um verdadeiro Calcanhar de Aquiles.
Não apenas o mau estado das vias de circulação e os excessivos controlos policiais montados ao longo das estradas esburacas desencorajam o turismo, como também a falta de estruturas hoteleiras ou de preços convidativos por parte das poucas existentes.
O projecto Okavango, que se estende ao longo de três países, nomeadamente Angola, Namíbia e Botswana, deveria levar os governantes angolanos e as forças de defesa e segurança à reflexão sobre o fomento do turismo, já que não basta ter bons atractivos turísticos se os mesmos não estiverem integrados numa cadeia de serviços. Os «excessos de zelo» podem também afastar o turismo.
Daí que muitas agências de viagem têm restringido os seus pacotes turísticos aos últimos dois países que, verdade seja dita, oferecem melhores estradas, mobilidade, segurança, liberdade, serviços de saúde, óptimos alojamento a preços acessíveis.
Infelizmente, não são apenas estes factores que concorrem para o estrangulamento do turismo, mas também as restrições ao uso de máquinas fotográficas e equipamentos de filmagem para a produção de vídeos.
Aparentemente inofensiva, a máquina de fotografar foi sempre vista com alguma desconfiança pelas forças policiais e pelos distintos órgãos do aparelho «securitário» angolano, como se fossem instrumentos destinados à espionagem.
Hoje, quando somos confrontados com a informação de que fulano ou beltrano foi detido ou obrigado a apagar as fotografias por ter fotografado ou filmado locais públicos, o assunto não é novo, visto que tem «raízes históricas»...
Os «excessos de zelo», os medos e receios por parte desses órgãos remontam ao tempo em que Angola se tornou num País independente e que uma «simples» fotografia em locais públicos «impróprios» podia custar a detenção ou dissabores ao seu autor.
Desde cedo, o MPLA criou e alimentou a ideia da existência dos chamados «inimigos da revolução», ou seja, de «agentes internos da reacção interna e internacional» que estariam seriamente apostados em derrubar ou, no mínimo, desestabilizar o poder político instituído.
Em nome da defesa das conquistas revolução, inculcou-se na mente dos «operativos» dos órgãos de Defesa e Segurança que os «inimigos do povo angolano» recorriam às fotografias para «atentar» contra a soberania de Angola, enviando as imagens recolhidas no País para o estrangeiro...
Há episódios de pessoas, muitas das quais estrangeiras, que tinham sido detidas por terem cometido o simples «crime» de fotografar em locais tidos como «inapropriados»... até os mesmos os jornalistas e fotógrafos profissionais deviam estar munidos de credenciais ou tinham de obter uma «autorização escrita» dos órgãos afins para fotografar determinados locais do espaço público.
Mas, a vigilância cerrada e o controlo apertado dos operativos da Bófia e das forças policiais durante o regime monolítico não se restringiam às máquinas fotográficas sendo extensivos às máquinas fotocopiadoras, que eram controladas pelo MINSE/DISA, com o medo de que as mesmas serviriam para a reprodução de panfletos «contra revolucionários»...
Com o advento dos telemóveis, muitos dos quais trazem máquinas fotográficas e mecanismos de filmagem incorporados nesses aparelhos, adensou-se o medo generalizado dentre as forças policiais e arredores que, à mínima suspeita, se atiram contra os fotógrafos «ousados».
Paradoxalmente, os discursos oficiais defendem a necessidade de o País abrir-se ao estrangeiro, de forma a atrair os turistas, pessoas que, como se sabe, adoram as fotografias, de forma a imortalizar os seus passeios turísticos.
Por esta e outras razões é que a promoção do turismo deve ser repensada, já que, para o seu sucesso, concorre uma série de factores que não se limitam às excelentes instalações aeroportuárias ou aos atractivos turísticos de que um país dispõe.