Desde o fim da guerra civil, Angola tem feito progressos significativos na oferta de educação para todas as crianças. A taxa de matrículas no ensino primário é encorajadora. No entanto, verifica-se uma diminuição no ensino secundário principalmente quando se tratam de meninas. . De acordo com os dados do Ministério da Educação relativos ao ano lectivo 2022-2023, 70% das meninas abandonaram o ensino secundário.
Vamos parar um pouco para reflectir sobre o que isso significa para essas meninas. Muitas delas enfrentam desafios como o casamento infantil ou uniões prematuras e a gravidez precoce, que as forçam a abandonar a escola e a entrar em situações vulneráveis. Imaginem a vida de uma criança que não está na escola em Angola. O que significa para o seu futuro? Os estudos mostram consistentemente que, quando as raparigas estão fora da escola, enfrentam riscos acrescidos de violência, abuso, negligência e exploração.
A educação é um direito fundamental e um poderoso instrumento de capacitação. É através da educação que podemos quebrar o ciclo da pobreza, promover a igualdade de género e construir uma sociedade mais justa e próspera. Para meninos e meninas, não estar na escola muitas vezes significa enveredar para o trabalho infantil, trabalhar em empregos perigosos e mal pagos, viver em situações de rua e estar em conflito com a lei. Estas duras realidades afectam as crianças em muitos países africanos, aprisionando-as em ciclos de pobreza e vulnerabilidade.
Como é que as crianças podem ter um futuro mais brilhante e promissor? Mantendo-as na escola, garantindo a sua segurança e proporcionando uma educação de qualidade que pode transformar as suas vidas.
O UNICEF apoia os governos de todo o mundo com soluções simples, mas poderosas - abordando as barreiras ao acesso à escola, especialmente para o ensino secundário; desafiando normas de género nocivas; garantindo que as escolas são seguras para todas as crianças e recolhendo e analisando dados desagregados por sexo para informar as políticas.
Recentemente, o Governo de Angola concluiu uma avaliação nacional da aprendizagem. As conclusões da avaliação do ano lectivo 2022-2023 disponíveis nos canais digitais do Ministério indicam que apenas 37 por cento dos alunos da 4ª classeeram capazes de compreender um texto simples e apenas 20 por cento conseguiam reconhecer a moeda angolana até 5.000 kwanza.
Para os alunos da 6ª classe , os resultados demonstram que apenas 11 por cento conseguem resolver problemas que envolvem rácios e percentagens. Na África Oriental e Austral apenas 10% das crianças do ensino primário conseguem compreender um texto escrito simples.
O longo encerramento das escolas durante a pandemia provavelmente contribuiu para este cenário. Além disso, as alterações climáticas, com os seus ciclos de secas e inundações, têm afectado gravemente a vida das crianças. Alias, elas são as que mais sofrem nestas crises.
À medida que as economias globais se esforçam para reconstruir o melhor no mundo pós-pandemia, é imperativo que Angola invista os seus recursos onde terão maior impacto. A eminente estadista africana Graça Machel disse uma vez que "não é segredo que, para uma sociedade avançar, tem de aproveitar o potencial de todos os seus cidadãos e, por conseguinte, o investimento na educação das raparigas é fundamental para sociedades vibrantes e equitativas onde reina a justiça social".
Felicito o Governo de Angola por avaliar os níveis de aprendizagem para informar decisões baseadas em evidências. É crucial garantir que todas as crianças tenham acesso a uma educação de qualidade e que os professores estejam equipados para a ministrar. Este esforço requer a colaboração entre comunidades, líderes, pais e escolas. Encarnando o provérbio africano: é preciso uma aldeia para criar uma criança.
Quando os economistas perguntam: "Angola pode dar-se ao luxo de o fazer?" Eu respondo: "Angola pode dar-se ao luxo de não o fazer?" O custo de um investimento inadequado neste momento pode ser prejudicial para o futuro. O Governo de Angola tem uma agenda ambiciosa para o desenvolvimento do seu capital humano até 2027, que está em conformidade com a sua estratégia de longo prazo para 2050. Para atingir este objetivo, são essenciais investimentos significativos na educação. Se aspiramos a construir estruturas altas, temos de investir em alicerces sólidos.
Temos de nos concentrar na última criança, que pode estar numa aldeia remota, ansiando por uma educação. Juntos, temos de assegurar que nenhuma criança seja deixada para trás. Juntos, podemos consegui-lo. Afinal, como dizem os angolanos, "estamos juntos".

*Representante, UNICEF Angola