"Para frente rapazes, temos que vencer, sejamos audazes, temos que convencer. Lembra do teu sacrifício e do povo também..." na voz do grande Dionísio Rocha esta canção foi um belo impulso à selecção nacional de Angola que na pátria irmã de Samora Machel, Moçambique, conquistou o segundo campeonato africano de juniores do seu palmarés.
Recordei-me destes dois momentos à propósito das celebrações do Dia Nacional do Basquetebol, neste sábado, 18 de maio, uma ocasião em que se registra o inicio da prática desta modalidade no nosso país no longínquo ano de 1930, portanto, estamos nós a comemorar 94 anos de prática desta modalidade aqui neste território.
O tempo passou após a feliz iniciativa do Professor de Educação Física do Liceu Salvador Correia, Pina Cabral, de introduzir a prática desta modalidade e volvidos quase 100 anos o basquetebol tornou-se, sem margens para quaisquer dúvidas, num dos motivos de "orgulho pátrio", sobretudo, por obra e graça da selecção nacional sénior masculina que com os seus 11 títulos continentais é inegavelmente uma referência no mundo da bola ao cesto.
Mas este tempo de vitórias e gloriosas conquistas também vai passando, novas conquistas vão sendo cada vez mais escassas e como infelizmente temos o hábito de não "dialogarmos" com a nossa história, o valor supremo do labor, das realizações, das façanhas e proezas vai caindo e estando acatadas nas masmorras de um esquecimento colectivo.
Que valor tem para a nossa sociedade o facto de sermos o país com o maior número de títulos continentais em Africa? Quão inspiradora ainda pode ser hoje a "mãe de todas as vitórias", usando uma expressão do jornalista Silva Candembo, que foi o nosso primeiro trofeu em juniores masculinos aqui na cidadela em 1980? Sabem os nossos jovens que Angola é o único país africano representado por dois ex-atletas no muro da fama da FIBA, Jean Jaques da Conceição e Ângelo Vitoriano? O que é que isto pode representar para eles? Absolutamente nada se não houver a preocupação de se lhes transmitir e contar, atrevo-me a concluir.
Para mim, por tudo aquilo que representa de um ponto de vista do simbolismo e pelos circunstancialismos históricos da pratica do basquetebol em Angola, esta modalidade faz parte do património imaterial dos angolanos e, por isso mesmo, é uma firme convicção minha que esta constatação factual deva ser materializada com a criação de um memorial do basquetebol e com a devida formalização jurídica desta condição que genuinamente está cristalizada no imaginário e nas melhores referencias colectivamente partilhadas pelo povo da nossa terra. n
*Jurista e presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga