Em relação à escassez da matéria-prima em terra, os oceanos poderão ser o futuro da indústria. A maior empresa de diamantes do mundo, a De Beers, está a investir milhões de dólares na costa da Namíbia numa operação de mineração marinha de diamantes que opera a 120 metros abaixo do nível do mar. É precisamente do fundo dos mares que temos alguns dos diamantes mais valiosos do mundo nos dias de hoje.

No entanto, nem tudo brilha nesta solução, já que ainda não são conhecidos os reais danos que esta extracção marítima poderá causar nos oceanos. A De Beers defende que o impacto ambiental é menor comparado com a mineração em terra, mas os especialistas defendem que ainda não se sabe o real impacto da utilização desta revolucionária exploração.

Em 2020, a queda da produção de diamantes em bruto foi de 111 milhões de quilates, longe do recorde de 152 milhões de quilates de 2017, mas, mesmo assim, uma queda, que, em média, é de 5% ao ano. Como era de se esperar, a indústria do diamante também não passou incólume pela pandemia, já que teve uma retracção de 15% em 2020, uma queda verificada principalmente no primeiro semestre, mas que respirou no quarto trimestre, principalmente na época do Natal, como é hábito.
No total, no ano passado, o mercado global de diamantes movimentou cerca
de 64 mil milhões de dólares (em 2018 e 2019 foram cerca de 80 mil milhões).

Contudo, a revolução tão ansiada pela indústria poderá estar presente nos diamantes fabricados em laboratórios, diamantes que apresentam a máxima certificação de cor e pureza visualmente idênticas às naturais, ao mesmo tempo que preservam o meio ambiente.

Já em 2020, estas "pedras artificiais" conseguiram uma importante quota de mercado, segundo analistas do meio, fruto da possibilidade de o consumidor ter uma pedra maior e mais barata, os dois factores determinantes na compra da pedra preciosa mais desejada por todos.

Os números disponíveis sobre a penetrabilidade dos diamantes de laboratório no mercado ainda são escassos, mas em 2020 rondou os seis, sete milhões de quilates, um número bastante significativo e que demonstra que a tendência dos diamantes em laboratório não é uma moda passageira, muito pelo contrário. Conforme alguns relatórios, este mercado cresceu, em 2018 e 2019, entre 15% e 20% cada ano.

Um dos grandes desafios para o singrar deste novo produto a nível mundial será a barreira do "artificial", se comparada ao "natural", uma barreira que poderá ser superada muito devido ao seu preço, mais em conta se comparado ao "original". Todavia, o conflito entre os diamantes para as "massas" e os diamantes para as "classes" é ainda algo presente no mercado, algo que pode colocar em causa o crescimento desta nova solução, muito mais amiga do meio ambiente.

Mas este valor intrínseco, "amigo do meio ambiente", poderá também ele próprio ser decisivo na caminhada da aceitação mundial pelos diamantes de laboratório. Num período em que as questões ambientais estão na ordem do dia, as pedras artificiais acabam por se adequar ao que o mundo hoje exige, colocando, deste modo, ainda mais a indústria tradicional em xeque, muito fruto dos danos ambientais que a extracção de minas significa (e agora os oceanos).

Como referiu o presidente e fundador da ALTR Created Diamonds, Amish Shah, uma das empresas líderes a nível mundial de diamantes de laboratório: «A educação do consumidor criou a aceitação do consumidor». Ou seja, os consumidores mais jovens, cada vez mais preocupados com a responsabilidade ambiental, social e corporativa, tendem a defender este tipo de produtos.

E a verdade é que as empresas não ignoram essa mudança e os sinais dados.
Por exemplo, no site da Tiffany, tradicional marca da área, já temos uma página apenas e só dedicada à "Sustentabilidade", das preocupações da empresa em relação ao tema, algo que, no passado, era completamente ignorado.

Este pequeno exemplo demonstra como a própria indústria mudou, principalmente na última década. A sociedade civil já não admite o descaso
pelo meio ambiente, exige um comprometimento da indústria com as questões ambientais. E é precisamente aqui que os diamantes de laboratório podem revolucionar o mercado e o próprio meio ambiente. Isso se a i

*Economista e especialista em Energia e Meio Ambiente