Embora a informação que existe sobre a convocação do encontro da EAC, em Nairobi, e a Cimeira de Luanda, para a mesma data, não permita avançar que os lideres em questão aceitaram os convites, a verdade é que o Ruanda, a República Democrática do Congo e o Burundi, também integram a EAC, a par da Tanzânia, Sudão do Sul, Uganda e Quénia.

A possibilidade mais razoável é que Nairobi albergue o trabalho técnico, com representantes dos países membros de nível militar e diplomático, a acompanharem o diálogo entre a RDC e o M23, e em Luanda tenha lugar uma Cimeira com os Presidentes do Burundi, RDC e Ruanda, onde são tomadas decisões de largo espectro.

Recorde-se que o Quénia tem estado a desenvolver esforços relevantes no sentido de liderar a frente diplomática da EAC que procura resolver pela via pacífica o diferendo que opõe a RDC e os guerrilheiros do M23, que Kinshasa diz, e um relatório de Agosto da ONU confirma, estarem a ser apoiados pelo Ruanda, tendo mesmo aprovado já o envio de perto de mil militares para o leste da RDC como força de interposição.

Isto, ao mesmo tempo que Angola, há bastante mais tempo, tem, na qualidade de pais que preside à Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), com o empenho pessoal do Presidente João Lourenço, estado na linha da frente dos esforços diplomáticos, nomeadamente com repetidas Cimeiras envolvendo os lideres dos países envolvidos, e Presidente angolano esteve mesmo este fim-de-semana a realizar um périplo pela região que o levou a Kigali e a Kinshasa para encontros com, respectivamente, os seus homólogos Paul Kagame e Félix Tshisekedi.

Agora, com alguma surpresa, e depois de se saber que a EAC tem em agenda uma Cimeira para Nairobi a 21 de Novembro, Angola, segundo a Angop, anuncia que foi feito o convite a Paul Kagame, Félix Tshisekedi e ao Presidente do Burundi, Évariste Ndayishimiye, para se deslocarem a Luanda no mesmo dia, para debater a crise Ruanda/RDC.

Citado pela Angop, o documento da Presidência angolana refere que a cimeira de Luanda deverá aprovar o Plano de Acção da Paz na República Democrática do Congo (RDC) e o restabelecimento das boas relações com o vizinho Ruanda, tendo este convite sido endereçado pelo Presidente João Lourenço na sua qualidade de Campeão da Paz e Reconciliação da União Africana, encarregue do dossier relativo ao conflito RDC-Ruanda,

Recorde-se que João Lourenço, na sua também condição de presidente da CIRGL, é uma das principais figuras, enquanto mediador, deste crescente conflito entre os vizinhos dos Grandes Lagos.

Sem que tenha sido avançada qualquer explicação, o facto de os lideres da EAC, o Quénia, e da CIRGL, Angola, terem convocado Cimeiras importantes para o mesmo dia sobre o mesmo tema, pode ter por detrás uma eventual disputa de liderança deste processo, como se pode depreender do facto de a notícia da Cimeira de Nairobi está a ser difundida há pelo menos dois dias na imprensa internacional, como se pode verificar por exemplo, nas notícias da Al Jazeera ou da VOA, sobre o tema.