Depois de ter vivido durante cerca de três décadas na Namíbia e em condições infra-humanas, nos últimos anos, em Omusati, região de Oshikuku, Manuel Nguveya, um angolano cego, de 76 anos, já só quer regressar ao seu país e garante que se a oportunidade surgir, vai agarrá-la com as duas mãos.

A história de Manuel Nguveya (na foto), que nasceu na província do Huambo, é contada pelo jornal namibiano, The Namibian, depois de o jornalista Marx Itamalo o ter encontrado na sua "casa" a viver em "condições deploráveis"

Manuel já só anda com o apoio de uma bengala improvisada e passa os seus dias em silêncio e completamente alheado do que se passa no mundo e sem acesso a qualquer forma de civilização. Do seu quarto exala um pútrido odor a urina...

Este angolano há muito que perdeu os documentos que provam a sua origem e nunca teve quaisquer papeis namibianos, nem sequer como residente, o que, conta o The Namibian, o impede de ter acesso à pensão que o Estado namibiano atribui aos idosos sem outras formas de rendimento que lhes garanta a subsistência mínima.

O sítio onde Manuel sobrevive, pertenceu a um velho amigo, Erastus Haidula, já falecido, que em tempos o acolheu, depois de se terem conhecido em Walvis Bay, onde trabalharam juntos durante largos anos.

Foi em 1970 que Manuel Nguveya deixou, sozinho, a sua terra em direcção à Namíbia, onde, depois de algum tempo no Norte do país, prosseguiu viagem até à cidade portuária de Walvis Bay, onde trabalhou e conheceu o seu amigo Haidula.

A vida não lhe foi fácil e, depois de ter deambulado pelo país, acabou por, já na década de 1980, fixar-se em Oshikuku.

"Estou aqui há muito tempo. Não tenho família minha, apenas fui acolhido pelo meu amigo Haidula e a sua família, que acabou por ser a minha gente", contou Manuel ao jornal namibiano.

Depois do seu amigo ter morrido, Manuel vive pobremente e o pouco que vai tendo para comer é-lhe fornecido por duas senhoras que deram continuidade ao pequeno negócio do seu antigo companheiro de estrada.

"Damos-lhe comida, tabaco e fósforos", disse uma das mulheres que tomaram a vida de Manuel à sua responsabilidade, adiantando que este "é totalmente dependente" delas.

Anna Tshimwandi e Alina Tshivolo, para além da comida e do tabaco, também são quem leva Manuel ao hospital quando este adoece, mas, com algum humor pelo meio, contam que isso é o pior porque ele não gosta de hospitais "porque lá não pode fumar".

Apesar da idade e da sua condição de invisual, o jornalista do The Namibian garante que Manuel está numa condição mental excepcional e com grande capacidade para se focar no essencial, que é, como já se disse, regressar à sua terra.

"Sim, eu quero voltar à minha terra se alguém se oferecer para me levar. Estou muito cansado de estar aqui nestas condições", reafirmou Manuel, apesar de admitir que será difícil encontrar o rasto da sua família de sangue.