Os cerca de 150 trabalhadores do clube, no distrito urbano do Sambizanga, província de Luanda, estão em vigília junto às instalações da sede e relataram este atraso à Lusa, considerando-o "inconcebível", até porque nem estão inscritos no Instituto Nacional da Segurança Social.

"Estamos em greve" e "sem salários há 18 meses" são as mensagens estampadas no portão do Progresso de Sambizanga, cuja equipa principal de futebol ocupa o terceiro lugar do Girabola, o principal campeonato de futebol angolano, a quatro pontos do líder 1.º de Agosto, após a quinta jornada.

O atraso no pagamento de salários do clube, um dos históricos da capital e que recebe o nome do emblemático bairro de Luanda, afecta supervisores, motoristas, seguranças, coordenadores de escalões de formação das várias modalidades do clube e funcionárias de limpeza.

A reivindicação deu origem a uma vigília, que dura já há uma semana, para "exigir um direito", como contou à Lusa Custódio de Azevedo, denunciando que a direcção do clube "se remete ao silêncio".

"Há uma semana nesta condição, o pessoal todo em vigília, passámos as noites aqui à espera de alguma coisa do patronato. Ainda não há qualquer reacção oficial do patronato, temos algumas coisas oficiosas, mas não chegou nada de credível que nos faça sorrir", disse.

Há 28 anos no clube, o supervisor para as modalidades do Progresso desconhece a situação que originou os atrasos nos salários e destacou a "boa prestação" da equipa no Girabola.

"Grande campeonato do clube no Girabola, grande arranque de temporada e, se fosse acompanhado daqueles outros "inputs", acho que poderíamos estar mais além. A situação é muito preocupante, e até a sociedade civil está preocupada", afirmou Custódio de Azevedo, supervisor para as modalidades do Progresso.

"É inconcebível um clube como o Progresso viver as condições em que está neste momento. É a primeira vez e, se recordarmos bem, o Progresso já deu alegrias a este povo", apontou o responsável, acrescentando que a instituição "nem paga a segurança social" dos funcionários.

"Condições precárias, famílias desintegradas e filhos fora do sistema de ensino" é a actual condição por que passam os funcionários do Progresso do Sambizanga, sem salários há ano e meio, conforme relatou Domingos Cristóvão da Silva.

Segundo o antigo jogador e actual coordenador para o futebol jovem do Progresso, a actual situação do clube passou de "preocupante" para "vergonhosa", devido ao percurso histórico do clube, fundado em 17 de Novembro de 1975.

"Penso que só a direcção pode justificar essas falhas. É bíblico o suor do rosto, viemos, suámos, mas o pão não vai para casa. Foram feitas muitas promessas, a direcção comprometeu-se a fazer o pagamento, mas, até agora, nada", explicou.

Domingos Cristóvão da Silva lamentou a paralisação dos trabalhos nos escalões de formação devido à greve dos funcionários, admitindo que a situação poderá afectar a equipa sénior.

"Penso que, mais dia ou menos dia, a situação também vai afectar a equipa principal, que também tem jogadores na nossa condição. Penso que, depois do jogo da próxima jornada, a equipa poderá paralisar", argumentou.

Silvina Abel é funcionária da limpeza no clube há oito anos. Viúva e com sete filhos para sustentar, alguns dos quais fora do sistema de ensino por falta de dinheiro, também lamentou a situação.

"Em casa, a situação está mal. O meu primeiro marido é falecido e, se eu não trabalhar, os filhos não comem. Estou aqui a trabalhar para os filhos estudarem, mas estamos a sofrer. O filho deixou de estudar por falta de pagamentos", lamentou.

Segundo a funcionária, de 41 anos, a direcção do clube nada faz para inverter a situação: "a direcção não está a falar nada, diz sempre para esperar, mas estamos cansados, alguns colegas tiveram que deixar as casas de renda, e estamos a sofrer".

E José Cristóvão da Silva, supervisor do andebol do clube, também se manifestou "indignado" com a "ausência e inoperância" da direcção em responder às suas reivindicações, assegurando que vão continuar em vigília.

"Muito preocupante. Todo dia é uma guerra, uma batalha, não temos o que comer, problemas de saúde não conseguimos resolver por falta de valores, então é mesmo complicado", atirou.

A agência Lusa tentou, sem sucesso, falar com o presidente do Progresso Sambizanga, Paixão Júnior, antigo presidente do conselho de administração do Banco de Poupança e Crédito (BPC), maior banco angolano de capitais públicos.