Depois do empate de mau augúrio com a Mauritânia e o empate prometedor, logo no arranque da competição, com a favorita Tunísia, os Palancas Negras não podiam deixar passar a oportunidade de abrir a porta para os "oitavos" com um derradeiro esforço em nome dos milhões que no país sofriam a bom sofrer para que o apito final trouxesse o desejado triunfo sobre o Mali.

E se o triunfo era o mais almejado resultado, nem que fosse para desfazer aquele empate enfadonho e de má memória no CAN angolano de 2010 - 4 - 4 -, aos 36 minutos foi tudo por agua abaixo sob o calor tórrido do deserto egípcio: Haidara apontou certeiro e chutou ainda melhor para lá da linha limite do orgulho nacional.

Estava feito o 1-0, que viria a confirmar-se como o resultado final, contrariando, apesar de tudo, o início prometedor da equipa nacional, que logo construiu três belas oportunidades para trespassar o último reduto maliano, especialmente aquele aos 2,3 minutos por Gelson Dala, que, olho no olho com o guarda-redes, o melhor que conseguiu foi atirar para uma defesa relativamente fácil de Diarra quando tinha tudo para ser o momento decisivo do jogo, fazendo-o inclinar a favor dos Palancas Negras.

Logo a seguir, como que numa oportunidade concedida pelos deuses do antigo Egipto para refazer o erro anterior, Galiano surge à boca do golo ao fazer desaparecer da sua frente, com uma finta de bola e de corpo mas com alma, o defesa maliano, já no coração da área, atirou de forma a que a bola (o sol) fosse desaparecendo na linha do horizonte (linha final do campo), deixando milhões em Angola, agarrados ao ecrã, a olhar para o inevitável: mais uma oportunidade acabara de se esfumar.

Mas não tinham passada ainda cinco minutos, ou estava ainda a sê-lo, de tempo de jogo, e das duas uma, ou os deuses egípcios estavam mesmo com os Palancas Negras ou estavam a querer brincar com o "onze" nacional, e... nova oportunidade foi "concedida", quando Geraldo, com a mira feita de longe, atirou para DIarra se aprumar todo para impedir o regresso do jogo ao terreno onírico - aquele em que o sonho volta a ser possível.

E nem o facto de o Mali ter entrado no campo com a "arrogância" de quem já está nos "oitavos", deixando mais de meia equipa de titulares a descansar no banco, aproveitando para fazer experiências para o futuro, com atletas mais novos, o jogo tinha menos razões para ser vivido de forma intensa, tanto em Ismaília como de Cabinda ao Cunene, de Luanda ao Moxico, porque o empate podia servir perfeitamente os intentos nacionais.

Assim não foi e o Mali, a partir dos 20 minutos, mais coisa menos coisa, regressou à sua condição de grande equipa africana, e passou a mandar no jogo, ou, pelo menos, até ao ponto de equilibrar as forças em contenda.

E foi nesse período de equilíbrio, aconchegante para os homens do Sahel, mas perigoso para os filhos da África Austral, que Haidara, aos 36 m, mesmo depois de outros "Águias" terem levado perigo em forma de voo picado ao último reduto nacional, como Coulibaly, cinco minutos antes, desfez, ou melhor, começou a desfazer o sonho angolano.

Sem garra é como os jornalistas angolanos que acompanharam o jogo em Ismaília, sintetizaram o que aconteceu na segunda metade da partida no que diz respeito ao comportamento do "onze" austral, e assim foi até ao final, consolidando-se o favoritismos maliano e um certo pessimismo nacional, que se notou praticamente ao longo de todo o jogo no seio dos "palancas".

No outro jogo do grupo, a Tunísia e a Mauritânia empataram e "decretaram com esse resultado que em frente seguem o Mali, com 7 pontos, e a Tunísia, com 3.

"Falta de sorte", diz a FAF

Como contam os enviados da Angop ao Egipto, o vice-presidente da Federação Angolana de Futebol (FAF), Adão Costa, disse, em Ismailia, a segir ao jogo, que a falta de sorte e de concretização contribuíram significativamente para a derrota da selecção nacional.

Ao avaliar o desempenho da equipa angolana, o dirigente federativo referiu que, apesar da grande capacidade do adversário, os jogadores foram bastante perdulários, o que os impediu de obter um resultado positivo, como era esperado pelos angolanos.

"A selecção enfrentou uma equipa competitivamente muito bem dotada, que lhe obrigou a trabalhar bastante na procura do êxito, que não foi concretizado. Faltou um pouco de sorte, na medida em que até tiveram muitas oportunidades, que deviam resultar em golo. Quando assim, acontece só nos podemos queixar de nos próprios. Por isso, devemos levantar a cabeça e trabalhar mais para os próximos compromissos", frisou.

Acrescentou que a FAF, apesar das dificuldades, tudo fez no sentido de proporcionar ao combinado nacional as condições necessárias para a participação condigna na prova continental.

"Muitas oportunidades" - Srdam Vasiljevic

O Treinador da selecção angolana de futebol, Srdan Vasiljevic, atribuiu
à falta de aproveitamento das oportunidades criadas como causa da derrota.

Ao falar à imprensa, após o desafio disputado no estádio de Ismailia, o técnico sérvio referiu que o resultado seria diferente caso os dianteiros angolanos não fossem tão perdulários, apesar da grande capacidade defensiva do adversário, que soube tirar proveito de uma certa desatenção defensiva.

"A equipa empenhou-se na luta por um resultado positivo, mas não fomos capazes de concretizar as oportunidades e marcar os golos que tanto necessitávamos. Fizemos os cálculos em função da característica do Mali e procuramos pressionar, principalmente, na segunda parte, para que pudéssemos triunfar e foi impossível. Quando assim acontece, só podemos levantar a cabeça e pensar em outros compromissos. Também pedir desculpas ao povo angolano" , disse.

A falta de jogadores que desequilibram nos momentos cruciais, bem como um trabalho profundo no aproveitamento das capacidades técnico-competitivas de alguns integrantes do conjunto também mereceram referências por parte do seleccionador, visivelmente desolado.

Questionado sobre a continuidade no comando da selecção, o sérvio, que tem um contrato até Dezembro, argumentou não ser momento certo e próprio para abordar a questão,

Há necessidade de uma análise muito mais profunda sobre o desenvolvimento do futebol nacional, acrescentou.