A AIE, organização com mais dados em memória sobre o negócio global de petróleo, desde 2021 que mantém a ideia de que, devido à transição energética para o "verde", face às alterações climáticas, as explorações existentes chegam para garantir a procura até 2050.
Isto, porque a ONU mantém em curso um plano ambicioso e exigente de conseguir, em 2050, alcançar a meta das "zero emissões" de gases com efeito de estufa, o que significará que o crude e o gás natural terão mero uso residual.
Só que, como o demonstra este novo relatório da AIE, as actuais explorações estão em forte quebra de produtividade.
E, devido ao desinvestimento em novos furos, como é o caso de Angola, apesar das políticas governamentais para contrariar esse ciclo, vai ser preciso corrigir o tiro para evitar uma disrupção catastrófica da oferta face às necessidades que não apenas se mantém como estão, gradualmente, a aumentar.
Depois dos anos de chumbo da Covid-19, quando o petróleo passou por momentos historicamente nefastos, assistiu-se a um forte declínio no sector da pesquisa de novas fontes de crude, que não deixou de se acentuar deste então.
Até porque este período aziago para a indústria petrolífera coincidiu com o alarme global para os efeitos das alterações climáticas e a exigência de medidas drásticas para reduzir as emissões, sabendo-se que os fosseis eram e são o inimigo a abater.
Ainda por cima, como nota a AIE no seu mais recente relatório sobre este fenómeno, com essa redução da capacidade de produção dos poços mais antigos, tem sido o fracking, a mais poluente área desta indústria, que tem mantido o equilíbrio global na área da oferta.
Para Angola, esta pode ser uma luz no fundo do imenso túnel que o seu sector petrolífero atravessa há vários anos, com um acentuado declínio da sua produção nos últimos anos, estando já abaixo de 1 mbpd depois dos 1,8 mbpd de 2008.
Entretanto, no imediato, que é o que conta para o orçamento nacional, o barril de Brent, referência maior para as ramas exportadas por Angola, tem estado entalado entre os 66 e os 67 USD, claramente abaixo, na média anual, dos 70 USD com que foi elaborado o OGE 2025.
E hoje, terça-feira,16, por causa dos persistentes ataques, ou ameaças de ataques, da Ucrânia, à infra-estrutura petrolífera russa, a matéria-prima estava, perto das 11:20, hora de Luanda, a valer 67,11 USD, uma ligeira perda de 0,4 % face ao fecho da anterior sessão.
Além disso, os EUA mantém a pressão sobre os parceiros comerciais da Rússia, exigindo que estes, principalmente a China e a Índia, deixam de se abastecer com o crude russo, porque é isso que está a alimentar a cara máquina de guerra de Moscovo.
Embora Nova Deli e Pequim já tenham deixado claro que não vão deixar de comprar o crude russo, na Europa esse esforço avança novos patamares, com Bruxelas a garantir que estão a ser dados os passos necessários para acabar com o total das importações, directas ou indirectas, de energia russa.
Apesar de a Federação Russa estar a redireccionar a sua produção para a Ásia com sucesso, a verdade é que o mundo acaba por ter menos crude disponível, o que leva a uma pressão em alta sobre o seu valor médio.
Nem que seja porque a Europa, por exemplo, tem de recorrer ao petróleo e gás norte-americanos, três a quatro vezes mais caros que os russos, devido ao breakeven muito superior da indústria do fracking, que é a base da produção exportadora nos Estados Unidos.
Apesar da luz ao fundo do túnel, a economia nacional abana
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis no conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil... e agora com a perspectiva de uma solução negociada para a guerra na Ucrânia mais distante.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.