Este acordo, enquanto durou, permitiu aos angolanos usar kwanzas na zona fronteiriça do país vizinho, até que a Namíbia reparou que as coisas estavam a correr mal e era preciso acabar com a situação antes que fosse tarde demais, porque os seus bancos estavam a ficar com os cofres cheios de kwanzas sem valor fora do compromisso cambial bilateral.

O anúncio desta devolução foi feito pelo próprio Presidente namibiano, Hage Geingob, que, este fim-de-semana, sublinhou estar satisfeito com este pagamento, previsto para ser realizado até 25 de Junho., sendo que o calendário das devoluções prevê desde o início que a dívida seja anulada em 2018.

O Presidente namibiano, que tem dado destaque a este assunto ao longo dos últimos dois anos, citado pela imprensa do seu país, disse estar, depois de o seu homólogo angolano, João Lourenço, ter visitado a Namíbia, no âmbito das comemorações do 40ª aniversário do Massacre de Cassinga, "satisfeito com este desfecho" ao ter confirmado que o Banco Nacional de Angola iria cumprir com o calendário previsto do pagamento da dívida em tranches.

Este desfecho, como o Novo Jornal Online tem vindo a acompanhar, sucede depois de um período de alguma tensão, em finais de 2015, entre os dois países, que culminou com um novo acordo que, para além de anular o anterior, estabeleceu um calendário claro para o pagamento da dívida angolana à Namíbia em dólares norte-americanos, que chegou a ultrapassar, em 2015, os 300 milhões.

Recorde-se que todo este processo foi resultado de uma tentativa das autoridades angolanas para fazer face à escassez de USD em Angola em resultado da crise de divisas forjada com a queda do preço do petróleo em 2014.

Esse cenário levou o Banco Nacional de Angola a estabelecer com o seu homólogo, Banco da Namíbia, um acordo cambial que permitia aos angolanos fazer compras na zona fronteiriça de Oshikango com kwanzas e aos namibianos adquirir bens na área de Santa Clara com dólares namibianos.

No entanto, menos de um ano depois da entrada em vigor do acordo bilateral, as autoridades monetárias namibianas depararam-se com um problema que não estava previsto e de imediato procuraram a sua anulação.

Deram conta que exista uma acumulação de gigantescas somas em kwanzas no seu Banco Central, remetidas pelos comerciantes da zona de influência do acordo cambial, que Angola, segundo o estipulado, deveria recomprar em dólares norte-americanos, visto que não era de esperar que cidadãos namibianos fossem a Santa Clara fazer compras com dólares namibianos.

Todavia, o acordo não beneficiava apenas a parte angolana, porque para as autoridades namibianas era fundamental encontrar uma solução para manter os negócios proporcionados pelos angolanos na sua zona de fronteira e este estava a extinguir-se após a crise surgida em Angola no ano de 2014, que, com o petróleo a cair abruptamente, deixou o país sem acesso à moeda norte-americana com que os angolanos se deslocavam à Namíbia para fazer avultadas despesas, havendo mesmo zonas comerciais criadas especificamente para satisfazer os exigentes e "ricos" clientes angolanos.

O Presidente namibiano, ao fazer o anúncio desta devolução por parte de Angola, justificou o seu contentamento ao acrescentar que os cerca de 48 milhões de dólares vão chegar ao país quando este procura também recuperar de uma crise económica que abalou a sociedade namibiana nos últimos anos.