António Samuel, porta-voz do grupo dos dez fazendeiros selecionados pelo Governo da província do Bié (GPB) e BDA, em Fevereiro de 2014, disse ao Novo Jornal Online que o BDA não tem dado qualquer informação acerca do financiamento aos fazendeiros.

"Em 2014, foi lançado o projecto Terra do Futuro, num protocolo rubricado entre o BDA, GPB e a entidade promotora. À semelhança do que existe na província do Kwanza Sul, o projecto consistia em seleccionar jovens formados em agronomia, e, após uma formação, cada um receberia uma fazenda totalmente equipada, com direito a viatura, entre outros insumos, mediante o financiamento do BDA, que previa erguer 60 fazendas de 250 hectares cada".

No entanto, conta António Samuel, "numa primeira fase, fomos seleccionados dez, e, pelo que nos constou, as fazendas estavam quase prontas para arrancar nesta fase, em 2015, pois já tinham 10 residências e estavam prontas a receber os primeiros plantios! mas o BDA deixou de financiar e parou tudo", contou.

"Nós estamos à espera do financiamento, sem nenhuma resposta, os nossos processos já deram entrada há três anos e até hoje não temos nenhum diferimento".

António Samuel esclareceu que, até ao momento, a única informação que receberam do BDA foi para que voltassem a escrever para o Conselho de Administração do Banco e, que, certamente, lhes seria dada uma resposta.

"Coisa que já fizemos, mas sem sucesso", lamentou.

De acordo com o porta-voz dos fazendeiros, aquando da selecção e acção de formação na Província Kwanza- Sul, muitos dos fazendeiros tinham empregos que acabaram por perder por causa da sua ausência durante o período em que decorreu a formação.

"Mesmo assim, suportaram, na esperança de poder melhorar a vida, tendo em conta a credibilidade que o projecto mostrava", disse.

"Há até um fazendeiro que está com paradeiro incerto, e, tanto a família como nós, sabemos que se deveu à frustração", referiu.

O responsável do grupo dos fazendeiros selecionados é de opinião que as partes devem avançar para um encontro em que participem todos os intervenientes do projecto para se possa entender o que realmente falhou e, quais as soluções que permitam ultrapassar este impasse.

Segundo António Samuel, os habitantes da Comuna do Dando, que estavam expectantes em ver o problema dos empregos e do escoamento da produção resolvidos, ficaram com expectativas quebradas, atendendo à quebra do compromisso do Estado, da entidade promotora do projecto e do BDA.

"Pensamos que este projecto poderia desenvolver muito a nossa província e ofereceria emprego directo aos jovens da região", salientou.

Já Albertina Sapalalo, outra das seleccionadas do projecto, contou ao Novo Jornal Online que está de mãos atadas desde 2016 por falta de financiamento.

"Em 2016, paralisei tudo que estava a fazer naquele ano, infelizmente não tenho dinheiro para investir na agricultura, que é o meu forte", disse.

Mário Undembe, também fazendeiro, contou que no local do projecto estão a ser vandalizadas as obras que estavam a ser construídas, em função do estado de abandono das fazendas.

"As terras estão abandonadas e os ladrões estão a roubar as chapas, o tecto falso, as portas e janelas, porque o espaço virou uma mata autêntica. Acho que deveriam distribuir as fazendas aos selecionados para que, no mínimo, cultivassem alguma coisa, ao invés de ficar assim subaproveitado", declarou Mário Undembe.

BDA não se mostrou disponível para esclarecimentos

Entretanto, o Novo Jornal Online tem estado a tentar contactar, desde os finais de Maio, o BDA para o devido pronunciamento, mas o Banco de Desenvolvimento de Angola não se mostrou disponível, até ao momento, para responder às nossas solicitações. No entanto, uma fonte próxima ao BDA, que não quis ser identificada, afirmou que o projecto ficou suspenso porque existem falhas no cumprimento da parte que ficou de preparar as fazendas, ou seja, a empresa Terra do Futuro.

O Novo Jornal Online tentou, sem sucesso, contactar o presidente do conselho de administração da empresa Terra do Futuro, Manuel João Fonseca, para obter esclarecimentos, mas o mesmo está com o telemóvel fora de serviço, não respondeu às mensagens enviadas, e o site do projecto está desactualizado deste 2012.

Ministério da Agricultura reconhece fracasso de alguns projectos

Já o chefe de departamento e monitoramento e controlo do gabinete de estudo e planeamento e estatística do Ministério da Agricultura, Anderson Gerónimo, reconhece existirem alguns fracassos em certos projectos, mas diz ser necessários que a banca continue a financiar o sector agrícola para a recuperação dos mesmos.

Em declarações ao programa "Boa noite, Angola", da Rádio Nacional, Anderson Gerónimo disse que as fazendas foram feitas e que muitas já deviam estar a funcionar com a máxima velocidade de produção, "mas que infelizmente não estão".

Anderson Gerónimo afirmou ainda que os ministérios da Agricultura, Finanças e Economia têm mantido encontros e que está na forja a restruturação do Programa Angola Investe (um programa do Estado angolano para apoio e financiamento de projectos de investimento às Micro, Pequenas e Médias Empresas), e o relançamento do fundo de desenvolvimento agrário.

"Nós entendemos que as instituições financeiras como o BDA, entre outras, devem investir e dar créditos ao sector empresarial agrícola que neste momento tem grande necessidade de investimento".

O chefe de departamento e monitoramento e controlo do gabinete de estudo e planeamento e estatística do Ministério da Agricultura revelou ainda que o Executivo vai lançar, em breve, o projecto de desenvolvimento da agricultura comercial, financiado em 230 milhões USD pelo Banco Mundial e a Agência Francesa para a Agricultura.

De recordar que o Presidente da República, João Lourenço, pediu, na abertura do ano agrícola, na província do Huambo, mais trabalho para que se possa tirar maior rendimento do que se produz no país, de modo a que haja excedente para exportação, pois "o campo é a garantia da alimentação dos angolanos".

"Vamos fazer tudo que está ao nosso alcance para não importar alimentos, porque temos capacidade de produzir comida, temos de ser nós a produzir a comida que precisamos, bem como exportar e angariar divisas com o excedente", afirmou João Lourenço.

João Lourenço, que discursava na abertura da campanha agrícola 2017/2018, pediu aos intervenientes do sector agrícola a criação de uma estratégia e de políticas que estimulem a produção em grande escala, para, desta forma, assegurar a segurança alimentar.