"O apoio do estado angolano é assim fundamental, no acesso e concessão de linhas de crédito com taxas de juro mais acessíveis enquadradas eventualmente no programa Prodesi e nos programas de apoio a empresas nacionais", avisa a administração da rede Candando.

Num extenso comunicado, o Grupo Condis LDA, que detém a rede Candando, explica que tomou a decisão de manter as suas seis lojas abertas, depois de um encontro com o Ministério do Comércio, mas deixa, de forma não explicita, a ameaça de que essa decisão pode ser alterada se não forem reunidas um conjunto de condições, entre estas "a necessária a agilização administrativa dos processos de licenciamento, e acesso a divisas que permitam proceder às importações atempadas de bens alimentares, bens de consumo e artigos de cesta básica, tão necessários no mercado angolano".

Mostrando-se a administração, todavia, "confiante" de que, "com o apoio das entidades e do público em geral, em breve resultará uma melhoria, e estes resultados positivos permitirão garantir a continuidade das lojas e a manutenção dos postos de trabalho, bem como de continuar a servir Angola com o sorriso bem-vindo ao Candando".

Esta garantia de funcionamento, recorde-se, surge depois de uma notícia veiculada na última edição do jornal Valor Económico dando como certo o fecho de metade das lojas Candando e o despedimento de metade - mil - dos trabalhadores da rede Candando.

Nessa notícia, a própria empresária Isabel dos Santos confirmava a inevitabilidade deste desfecho, aludindo às dificuldades criadas pelo arresto dos seus bem e contas no âmbito de um processo movido pelo Estado angolano como forma de receber uma alegada dívida da filha mais velha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos no valor de 5 mil milhões USD.

A administração do grupo aproveita essa avalanche de notícias sobre o putativo fecho de lojas Candando, todas elas elaboradas a partir de declarações de Isabel dos Santos ao Valor Económico, para garantir, afinal, a continuidade, mas também para sublinhar que essas dificuldades são reais e para contornar o problema definiu um plano de revitalização do grupo para o qual conta com o apoio estatal..

"A Hipermercados Candando - empresa de distribuição presente no mercado angolano, enfrenta um conjunto de desafios, fruto das dificuldades económicas do país, com impactos directos no negócio", diz.

E acrescenta: "A situação actual da empresa, encontra-se particularmente agravada por não poder contar com o apoio dos seus accionistas, fruto do arresto preventivo por decisão do Tribunal Provincial de Luanda", sublinhando por diversas vezes no mesmo documento que emprega duas mil pessoas, apontando que se trata de um projecto recente em fase de consolidação depois de avultados investimentos suportados por um grupo de bancos comerciais.

"Tratando-se o Candado de uma empresa de retalho moderno, foram necessários grandes investimentos na construção dos estabelecimentos comerciais, nas infra-estruturas para as operações, e no capital humano, tendo sido projectado um investimento total de 400 milhões de dólares para implementação de uma rede de hipermercados e supermercados", explicam os administradores, que sublinham não ter tido "qualquer tipo de apoio do erário público, nem qualquer aporte de fundos do Estado angolano".

E retoma a questão do arresto: "A situação actual da empresa Condis Lda, encontra-se particularmente agravada por esta não poder continuar a contar com o apoio dos seus accionistas, uma vez que por decisão do Tribunal Provincial de Luanda, e fruto do arresto preventivo encontram-se bloqueadas as contas bancárias dos accionistas assim como vedado o acesso aos dividendos e o acesso a fundos que poderiam servir para apoiar o Candando, e apoiar a sua operação corrente, e obrigações para com empresas fornecedoras de bens, rendas, serviços e entidades bancárias".

O que ocorre igualmente em Portugal, de onde é importada parte dos stocks do Candando: "Acresce ainda que a pedido da PGR de Angola, as autoridades congéneres Portuguesas, procederam ao bloqueio das contas bancárias das empresas do grupo Candando em Portugal, contas essas que serviam para a abertura de linhas de crédito e pagamentos junto de fornecedores internacionais. Esta situação já obrigou a empresa a efectuar vários despedimentos em Portugal, e também limita o acesso à compra de produtos de importação que o mercado Angolano tanto carece".

Apesar das garantais da importância do arresto das suas contas agora sublinhada, a empresária ainda em Fevereiro dizia que tal não ocorria em Angola, apenas em Portugal.

Isabel dos Santos dizia o contrário em Fevereiro

A 20 de Fevereiro, como o Novo Jornal noticiou, e numa reacção ao arresto dos seus bens e contas em Portugal, Isabel dos Santos criticava a justiça portuguesa porque a acção impedia as suas empresas de funcionar, contrastando isso com o que sucedeu com o arresto preventivo das suas contas e bens em Angola, pelo Tribunal Provincial de Luanda, que não impediu o pagamento de salários, a fornecedores e os impostos.

Para a empresária, nesse comunicado de 20 de Fevereiro, o arresto de contas a que foi sujeita em Portugal era "inexplicável e infundado" tendo, por isso, sido "impugnado" pelos seus advogados, alertando para o facto de esta situação estar "a impedir a movimentação das contas nos diversos bancos", o que levará esta realidade a ser outra "apresentando-se como um sério risco de destruição de valor para todos os `stakeholders"".

E adiantava, como forma de estabelecer um contraste com o que lhe sucedera em Angola: "Importa salientar que, em Angola, os arrestos não impediram o pagamento de salários, pagamentos a fornecedores, impostos e Segurança Social".