A ideia de construção do Rio Luanda está a dividir especialistas independentes e o Ministério da Energia e Águas (MINEA), com acusações mútuas. De um lado, os mentores do projecto defendem a viabilidade do mesmo, alegando tratar-se de uma infra-estrutura destinada ao saneamento básico e não ao transporte do líquido para o consumo das populações da cidade capital, enquanto, do outro, as autoridades, por via do secretário de Estado para as Águas, consideram impraticável e não recomendável.

Em causa, está um debate promovido esta semana pelo MINEA, que teve à mesa, no anfiteatro da EPAL, a ideia de construção do Rio Luanda, projecto que tem como protagonistas os engenheiros civis António Venâncio e Francisco Lopes, defensores da implementação do plano.

Um comunicado de imprensa do MINEA, a que o NJ teve acesso, relativo a um encontro ocorrido entre as partes no dia 17, citando o secretário de Estado para as Águas, Lucrécio Costa, este considera o projecto dos especialistas "impraticável do ponto de vista sanitário" e "acto de irresponsabilidade" que "fere as exigências sanitárias", sublinhando que o encontro serviu para debater a solução para o aumento da oferta de água aos bairros de Luanda.

A ideia apresentada pelos especialistas considera a instalação, no meio urbano, de um número considerável de estações de tratamento de água, mas não tem em conta os custos associados, o que, como sustenta o secretário, é impraticável, lê-se no documento do MINEA.

Segundo ainda o documento, "no decorrer do encontro, os promotores da ideia (Rio Luanda) não conseguiram responder, de forma convincente, a todas as questões colocadas pelos demais participantes".

No final do encontro, avança a nota do MINEA, o secretário de Estado para as Águas, em tom de resumo, referiu que ocorreu a apresentação de uma ideia e não propriamente de um projecto, que se possa considerar peça de contribuição para o aumento da disponibilidade de água bruta para os sistemas e, consequentemente, de água potável para Luanda ou do saneamento.

Engenheiro «vira as costas» ao MINEA

Em reacção ao comunicado do MINEA, o engenheiro António Venâncio, contactado pelo NJ, minimizou a posição assumida pelo secretário de Estado para as Águas, frisando ser desconhecedor do projecto e da matéria sanitária.

A dupla de especialistas em Engenharia promete, para esta sexta-feira, 23, à tarde, promover uma conferência de imprensa, para fornecer detalhes sobre o projecto em causa.

"O senhor secretário de Estado não é engenheiro sanitarista, não tem domínio da matéria sobre questões sanitárias. Ele é engenheiro mecânico, não entende nada de Engenharia Sanitária", salientou António Venâncio ao nosso semanário.

"Por outro lado, para discutir engenharia sanitária, temos de o fazer com a Ordem dos Engenheiros, com a academia [universidade] e com outros colegas nossos de outras partes do mundo, com quem temos contactado. Não vamos discutir com um secretário de Estado que não entende o saneamento básico. O trabalho dele é fornecer água", advogou Venâncio.

Para o co-autor do projecto Rio Luanda, "a água (potável) constitui um quarto dos interesses que o rio (Luanda) persegue. Os três outros quartos dos interesses não são de água potável. O rio tem várias funções. O nosso rio, que está pensado de forma inteligente, vai exercer multifunções, e três quartos dessas funções não têm nada a ver com o secretário de Estado", referiu.

"Ele quer dar protagonismo sobre o rio, inviabilizando uma proposta à partida, mas não está a agir com dados que temos, senão com os dados da água potável para beber", disse Venâncio.

A preocupação dos projectistas do Rio Luanda tem a ver com a época das chuvas, em que os mobiliários e as pessoas mortas chegam a flutuar nas águas, a infiltração de água nos solos da cidade capital originárias das fossas sépticas, os lençóis de água que existem nos cemitérios, o acesso difícil aos bairros e a falta de arborização.

Daí que emergiu o projecto do Rio Luanda, sustentado, segundo os mentores, na necessidade de fazer face às situações de calamidade provocadas pelas enxurradas de triste memória que se abatem sobre a cidade de Luanda e arredores.

"Mesmo que o rio não for construído, eu e o engenheiro Francisco Lopes somos cidadãos deste País e temos conhecimentos de Engenharia nesta matéria. Queremos elaborar um projecto e entregá-lo ao Executivo, como alternativa para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos", sustentou.

(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)