O barril de petróleo está hoje a passar os 67 dólares em Londres (Brent), onde o valor das exportações angolanas é regulado, deixando, mais uma vez, para trás e a grande distância a marca dos 60 USD, onde esteve há cerca de duas semanas, quando baixou escassos cêntimos dos 62 dólares, o que a suceder e a manter-se, retiraria à economia angolana uma almofada para a crise.

Se se tiver em conta que as exportações diárias de Angola rondam os 1,6 milhões de barris por dia (mbpd), e que o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018 foi elaborado com o barril a 50 USD, se este estiver a ser vendido a 70, isso implica uma "almofada" circunstancial de 20 dólares norte-americanos por cada barril que o Executivo pode usar para acorrer a emergências.

Um dos exemplos disso mesmo foi dado recentemente, aquando da discussão do OGE na especialidade onde estava em causa aumentar as verbas disponíveis para a Educação e a Saúde e a CASA-CE avançou com a proposta de ir buscar essas verbas à diferença entre o valor de barril orçamentado e o valor a que este é vendido.

Na diferença entre os 50 orçamentados e os 70, valor pelo qual o barril já foi vendido este ano por cerca de duas semanas, por exemplo, existem cerca de 32 milhões de dólares por dia fora do OGE, embora aqui tenham de ser subtraídas as mais-valias dos investidores, normalmente as petrolíferas multinacionais que exploram blocos no off shore angolano, concessionadas pela estatal Sonangol.

E é esta diferença que constitui uma almofada que serve, normalmente, para aparar as quedas provocadas pelas crises e resolver urgências.

É neste palco de grande volatilidade, como se viu nestes últimos anos, onde, de um pico máximo histórico de 147 USD por barril em Julho de 2008, para os 29 dólares no início de 2016, os países exportadores e especialmente dependentes da matéria-prima, como é o caso de Angola, não conseguem manter as suas economias consolidadas, excepto se aproveitam - o que claramente não sucedeu em Angola, apesar das demonstrações de intenções nesse sentido - os momentos de bonança para diversificar as suas economias.

Face a essa, ainda, por concluir diversificação, com Angola a apontar na direcção da agricultura e, entre outros, por exemplo, do turismo como motores da economia, o que se passa nos palcos internacionais revela-se de extrema importância, como é o caso do esforço da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em conluio com a Rússia e outros 11 produtores não-membros do "cartel", para manter os preços em alta através de uma estratégia de cortes na produção de 1,8 mbpd iniciada a 01 de Janeiro do ano passado.

Para este esforço, Angola, membro da OPEP, contribui com um corte de 78 mil bpd, sendo que é um dos países que mais rapidamente ultrapassa a diminuição dos cortes com o valor acrescentado ao barril por essa via, o que se torna claro quando se tem em consideração que o barril vale hote quase 70 USD e estava a menos de 30 em 2016.

Dos 20 e poucos aos 70...

E foi assim que o barril passou da casa dos 20 USD para os actuais 67,3, como estava hoje a abrir o mercado de Londres, embora isso só seja possível porque a Arábia Saudita, como explicam os analistas, mostre como nunca estar empenhada nessa estratégia e tenha, como maior produtor mundial, feito nossas promessas de aprofundar os cortes.

Isso significa para os mercados que as grandes economias, como a norte-americana e a chinesa, ficam com menor acesso ao crude, sendo obrigadas a recorrer às suas reservas, que, ao diminuírem, como tem sucedido nos últimos meses, dão um sinal de que a procura é superior à oferta, catapultando os preços do barril.

No entanto, os EUA, enquanto segundo maior produtor mundial, face a esta situação desfavorável, visto que é o maior consumidor do mundo, a par da China, tem feito um esforço para aumentar a produção atingindo um pico que não era visto desde 1970, para cima dos 10 mbpd, muito graças à produção de "fracking", ou petróleo de xisto.

O aumento tem sido muito significativo no número de perfuradoras instaladas nas últimas semanas nos EUA, graças aos preços estáveis a rondar, para cima, os 60 USD, o que permite à indústria do "fracking" apostar de novo porque estes preços garantem o retorno do investimento.

Em 2014 a maioria destes empresários, uma boa parte constituída por pequenos operadores, foi à falência porque os preços não garantiam o "breakeven", normalmente estimado em torno dos 65/67 USD.

O que quer mesmo a OPEP?

Para já, os analistas estimam como mais razoável que os preços se aguentem acima dos 64/65 USD por barril, porque a procura das grandes economias tem mostrado apetite pelo consumo, como é o caso da China, mas também dos EUA, confirmado pela quebra nas suas reservas que, só na semana de 16 de Fevereiro foram esvaziadas em mais de 900 mil barris.

Por outro lado, há ainda a questão em aberto de se saber se a ligeira quebra nos preços nas duas últimas semanas não foi estimulada pela própria OPEP porque, como disse recentemente o ministro saudita do sector, Khalid A. Al-Falih, a organização tem interesse em manter os preços muito próximo dos 60 USD - isto foi dito há três semanas, quando o barril estava acima dos 70 dólares - porque esse é o valor que corresponde às necessidades mínimas dos países membros e da Rússia, ao mesmo tempo que trava o ímpeto da indústria do "fracking", nos EUA, visto que o retorno dos investimentos só está garantido, em média, a partir dos 65 dólares/barril.

Isto, dito por Al-Falih, foi acrescentado da admissão de regular a produção saudita, a maior do mundo, e também da Rússia, como forma de não deixar o barril subir mais que aquilo que o necessário, mantendo com rédea curta a indústria do xisto/shale nos EUA.

Para Angola, embora o novo titular do ministério dos Petróleos não se tenha pronunciado, sabe-se que o barril a valer entre os 60 e os 70 USD é considerado razoável, pelo menos tendo em conta o que disse o anterior ministro, Botelho de Vasconcelos, hoje conselheiro do Presidente da República, numa das reuniões da OPEP, em Viena de Áustria, em meados de 2017.

O país tem no crude 95 por cento do total das suas exportações e de longe a principal fonte de receitas para o Estado.

Para o futuro?

Quando os cortes na produção da OPEP+Rússia terminarem, em finais deste ano, se isso se confirmar, o que, por exemplo, o ministro dos Petróleos saudita Khalid al-Falih, estima que possa acontecer, visto que o excesso de produção face à procura nos últimos anos terminou e as reservas que essa realidade permitiu acumular estão a diminuir aos milhões de barris por semana nos EUA e na China, entre outras grandes economias globais, é que os países possam retomar, pelo menos, uma parte dessa produção perdida.

A OPEP, sinalizou ainda Khalid al-Falih no Sábado, citado pela Reuters, está a proceder a um aprofundado estudo sobre o que pode ser o balanço dos cortes e o que consistentemente será a realidade dos mercados paras definir o próximo passo, sendo que admite na mesma frase que isso possa corresponder a um relaxamento dos cortes.

O ano de 2019 é apontado pelo responsável saudita como indicativo para que essa diminuição nas restrições da produção dos membros da OPEP e dos aliados liderados pela Rússia venha a ter lugar de forma paulatina.