Apesar de ter descido ligeiramente após a abertura do mercado Brent, em Londres, que determina o valor das exportações angolanas, o barril de petróleo parece querer consolidar na casa dos 80 dólares, onde já esteve este ano, num crescendo que tem sido alimentado por várias crises políticas e militares em países produtores, desde o Irão à Venezuela, passando pela guerra comercial declarada pelos EUA à China.

Mas este último impulso teve como combustível a decisão da Organização de Países Produtores de Petróleo (OPEP) em não avançar com um aumento da produção como se estava à espera, depois de a organização ter sido instada a isso pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, como forma de minimizar os efeitos impulsionadores do valor do barril das suas decisões políticas.

As mais notórias das decisões da Administração Trump com efeito no valor do barril, podendo estas, em determinadas alturas, puxar em sentidos opostos, foram as sanções retomadas ao Irão e a aplicação de taxas milionárias às importações chinesas, que já superaram os 250 mil milhões de USD, obtendo como resposta a aplicação de taxas chinesas às exportações norte-americanas para o gigante asiático, bem como a definição de novas políticas internas no sentido de incentivar a produção interna de bens até aqui importados.

No longo prazo, a consolidação dos preços do petróleo em alta, tanto no Brent londrino, como no mercado WTI, de Nova Iorque, estão as crises globais, como a recuperação das sanções ao Irão depois de os EUA terem abandonado unilateralmente o Acordo Nuclear com Teerão, a severa crise estrutural na Venezuela e a guerra comercial EUA-China.

Mas, no imediato, esta subida significativa, levando o barril de Brent a superar os 80 USD, tem por detrás a recusa da OPEP em dar corpo ao pedido de Donald Trump, que, segundo alguns analistas, viu na exigência ao "cartel", via Arábia Saudita, o mais influente dos produtores a ele agregados, o escape à pressão interna do crude caro quando se prepara para enfrentar, este ano, eleições intercalares para o Congresso.

Recorde-se que Trump tinha exigido um aumento de pelo menos 1 milhão de barris diários à OPEP, importante mas longe das quebras esperadas no Irão devido às sanções.

Como pano de fundo a esta situação está o acordo que a OPEP firmou com a Rússia e mais 11 produtores no sentido de cortar a produção em 1,8 milhões de barris por dia (mbpd), em finais de 2016, para retirar o petróleo dos valores irrisórios em que estava mergulhado e que levou crises económicas a vários países.

Sendo um bom exemplo Angola, que ainda não sarou as feridas abertas em meados de 2014, aprofundadas no início de 2016, onde o barril desceu abaixo dos 30 USD, fragilizando fortemente a sua economia altamente dependente das exportações de crude.

Mas o que os mercados perceberam também, catapultando ainda mais o sentido ascendente do barril, foi que a decisão da OPEP+Rússia, tomada em Argel, durante um encontro anual dos produtores, contrariando a vontade e o pedido de Trump, significa que, pelo menos para já, existe uma vontade de fazer frente aos EUA nesta guerra.

Até porque, como lembram alguns analistas, os EUA não têm parado de aumentar a sua produção interna.

O ministro da Energia saudita Khalid al-Falih, citado pela Reuters, depois desta decisão, numa frase dura para Trump, disse que não lhe compete influenciar preços, numa resposta clara, e com ar de poucos amigos, à recente exigência do Presidente norte-americano que disse há uma semana que queria ver os preços descerem imediatamente.

"A OPEP tem de fazer os preços baixarem imediatamente!", disse, parecendo não um pedido mas sim uma exigência, cuja resposta foi a decisão de não lhe dar seguimento, mantendo a produção inalterada.

Face a isto, os analistas são peremptórios, e quase em uníssono, na ideia de que os mercados vão sentir falhas de oferta para os próximos meses, numa altura em que a procura tende a mostrar-se mais robusta devido ao bom desempenho das grandes economias mundiais, como os próprios EUA, a China, a Índia, mas também outras, como a Europeia.

Segundo a Reuters, alguns traders, como a Trafigura e a Mercuria, antecipam mesmo que o barril de Brent chegue aos 90 dólares antes do Natal e que passe os 100 no início de 2019.

Isto, se a esperada descida da produção iraniana devido à reintrodução das sanções dos EUA, que pode ir dos 1,5 aos 2 mbpd, não for, efectivamente compensada com aumentos nos restantes produtores da OPEP e da Rússia, como parece ser agora evidente que não acontecerá.